Um grupo de colombianos acusado de participar do assassinato do presidente haitiano Jovenel Moïse, que aconteceu em 7 de julho, recebeu treinamento militar nos Estados Unidos, disse o Pentágono.
“Uma análise de nossos bancos de dados de treinamento indica que um pequeno número de colombianos detidos nesta investigação havia participado de programas anteriores de treinamento e educação militar dos EUA, enquanto serviam como membros ativos das Forças Militares colombianas”, declarou o porta-voz do Pentágono, Ken Hoffman, à emissora Al Jazeera nesta quinta-feira (15/07).
Hoffman afirmou que o país rotineiramente treina militares da região, mas se defendeu dizendo que o treinamento “promove respeito pelos direitos humanos, cumprimento do Estado de Direito e subordinação militar a lideranças civis democraticamente eleitas”. O porta-voz não especificou quantos homens teriam recebido esse tipo de treinamento.
Mandante pode ter sido ex-oficial do Ministério da Justiça
Nesta sexta-feira (16/07), o general Jorge Vargas, chefe da polícia da Colômbia, apresentou novas informações sobre o caso e disse que um ex-oficial do Ministério da Justiça do Haiti, Joseph Félix Badio, pode ser o mandante do assassinato do presidente haitiano.
De acordo com Vargas, Badio pode ter dado a ordem aos ex-soldados colombianos Duberney Capador e Germán Rivera, que haviam sido contatados inicialmente para realizar serviços de segurança. O ex-funcionário havia se reunido com os dois ex-militares para dizer que a missão era prender Moïse, mas três dias antes do ataque ele teria dito que os agentes teriam que “assassinar o presidente do Haiti”, segundo Vargas.
Nesta quinta-feira, a polícia haitiana emitiu uma ordem de captura contra Badio junto de dois outros homens, John Joel Joseph e Rodolphe Jaar, descrevendo-os como “armados e perigosos”.
Até o momento, as autoridades do país apontam 28 suspeitos de participarem da morte de Jovenel Moïse, dos quais 26 são colombianos e dois são norte-americanos de origem haitiana. Entre eles, 18 foram presos e três foram mortos pela polícia, enquanto os outros conseguiram fugir. Familiares e colegas dos detidos contaram a repórteres que eles foram contratados para atuar como guarda costas.
Empresa de segurança norte-americana
A esposa de Francisco Eladio Uribe, um dos paramilitares colombianos detidos no Haiti, revelou que ele havia sido contratado pela empresa de segurança privada CTU Security, uma empresa da propriedade de Antonio Intriago, venezuelano residente há mais de uma década em Miami, na Flórida, e que atua como tesoureiro do movimento de oposição ao chavismo “Venezuela Somos Todos”.
Além de contratar os paramilitares colombianos envolvidos no assassinato de Moïse, a empresa foi responsável pela segurança do evento Venezuela Live Aid, em fevereiro de 2019, na cidade colombiana de Cúcuta, quando a oposição venezuelana tentou enviar à força caminhões com suposta ajuda humanitária para o território venezuelano.
O governo da Venezuela declarou que a CTU Security também havia sido contatada para atuar com paramilitares na Operação Gedeón, que tentou invadir o país em 5 de maio de 2020.
Outra informação sobre Antonio Intriago é que ele possui fotos em redes sociais com o presidente da Colômbia, Iván Duque, e foi sócio de Alfred Santamaria, empresário colombiano, amigo do ex-deputado da oposição venezuelana Juan Guaidó, e integrante de reuniões sociais com o presidente Duque e o ex-senador Álvaro Uribe Vélez.
O chefe da Polícia já havia anunciado a prisão do suposto idealizador do assassinato, Christian Emmanuel Sanon, de 63 anos, um haitiano que morava na Flórida e contratou os serviços da CTU.
“Ele chegou de avião particular em junho com objetivos políticos e contratou uma empresa de segurança privada para recrutar as pessoas que cometeram esse ato”, disse Charles no domingo.
O chefe da Polícia Nacional da Colômbia, general Jorge Luis Vargas, disse que a CTU Security usou o cartão de crédito da empresa para comprar 19 passagens aéreas de Bogotá a Santo Domingo para os colombianos supostamente envolvidos no crime. Um destes acusados, Duberney Capador, que foi assassinado pela polícia do Haiti, se fotografou vestindo uma camisa polo preta da Segurança da CTU.
O ex-soldado e advogado que assessora 16 das famílias de colombianos detidos no Haiti, Nelson Romero Velasquez, disse, no entanto, que os suspeitos de participação no crime serviram nas forças especiais de elite do Exército colombiano e que, portanto, poderiam operar sem serem detectados, se assim desejassem. De tal modo, segundo ele, esse comportamento deixou claro que eles não foram ao Haiti para assassinar o presidente.
Entregar Moïse ao DEA
Ainda de acordo com Leon Charles, o assassinato do presidente haitiano Moïse foi planejado na vizinha República Dominicana.
“Estavam reunidos em um hotel de Santo Domingo. Ao redor da mesa estão os autores intelectuais, um grupo de recrutamento técnico e um grupo de arrecadação de fundos”, disse Charles à imprensa. “Algumas das pessoas na foto já foram detidas. É o caso do médico Christian Emmanuel Sanon e de James Solages”, afirmou. Uma foto que agora circula pela internet mostra os supostos envolvidos em reunião no país fronteiriço, e serve como prova da conexão entre eles.
Na imagem também aparece Intriago e o chefe da empresa Worldwide Capital Lending Group, Walter Veintemilla, que é alvo de investigação porque “teria arrecadado fundos para financiar” o assassinato, disse Charles.
“Havia um grupo de quatro [mercenários] que já estava no país. Os outros chegaram em 6 de junho. Passaram pela República Dominicana. Nós rastreamos o cartão de crédito que foi usado para comprar as passagens”, afirmou.
De acordo com o general colombiano Jorge Vargas, mercenários colombianos detidos afirmaram que foram contratados para capturar o presidente e entregá-lo à agência de combate às drogas dos Estados Unidos (DEA). A ideia era “planejar a prisão do presidente e colocá-lo à disposição – e isso é o que eles dizem – da DEA”, declarou o policial.
Assassinato do presidente do Haiti
O presidente haitiano Moïse foi assassinado dentro da própria casa na madrugada de quarta-feira (07/07). A informação foi transmitida pelo premiê interino do país, Claude Joseph, e confirmada por agências de notícias.
O ataque, por volta da 1h local (2h em Brasília), foi feito por um grupo ainda não identificado, mas alguns dos envolvidos estariam falando em espanhol. A primeira-dama, Martine Marie Etienne Joseph, também foi baleada e morreu horas depois no hospital. Joseph repudiou o “ato odioso, inumano e bárbaro” e pediu calma. “Todas as medidas para garantir a continuidade do Estado e proteger a Nação foram tomadas. A democracia e a República vão vencer”.
*Com Brasil de Fato
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