No último dia 4 de dezembro, às 9h47 foi enviado aos e-mails de diferentes coletivos e meios de comunicação alternativa e popular da Colômbia um panfleto de ameaças assinado pelo Bloco Capital do grupo paramilitar Águilas Negras.
No documento se declara como objetivo militar a 12 destas organizações, assim como a 14 jornalistas que são mencionados nominalmente, assegurando que são “terroristas guiados pela farc-eleno política” e se adverte que “cessem suas atividades […] em povoados e cidades com a fachada da comunicação alternativa e popular”, indicando que “sua propaganda será calada a chumbo” e dando um prazo até o dia 1º de janeiro para abandonar as cidades em que desenvolvem seus trabalhos jornalísticos.
Nós, coletivos e jornalistas ameaçados, assinalamos que este panfleto faz parte de uma campanha de perseguição contra a imprensa independente, da qual também fazem parte outras ameaças similares, como a que circulou no dia 1º de dezembro contra o Canal Capital, a rede Telesur e a agência Repórteres Sem Fronteiras, e outra recebida um dia depois pelo senhor Nelson Armesto Chávez, diretor do jornal comunitário Patio Bonito al Día, que está levando este comunicador a pensar em fechar seu meio, segundo o mesmo manifestou.
Consideramos que todas as intimidações que buscam silenciar o trabalho dos jornalistas independentes na defesa dos direitos humanos e seu trabalho com as comunidades em todo o país e que este fato não representa outra coisa que a continuação da política estatal de perseguição política contra quem expressa opinião fora do aceitável para os grandes poderes que dirigem o destino da Colômbia, que acusam as organizações sociais de aliadas do “terrorismo” ou de ser “inimigas do progresso” ou da Força Pública pelo simples fatos de defender seus direitos.
Nesse contexto, o paramilitarismo é apenas um instrumento mais desta política de repressão, uma ferramenta de terror que, articulada com os agentes estatais, deixa em sua passagem milhões de vítimas sem que o estado tenha respostas efetivas para garantir os direitos humanos no território nacional ou manifeste intenção de proteger a liberdade de expressão do grande número de jornalistas ameaçados e perseguidos.
Por isso, declaramos que nem esta nem nenhuma ameaça impedirá que cumpramos nosso dever pela verdade informativa e defesa dos direitos humanos, e que as ameaças, ao invés de nos amedrontar e isolar, nos unem em defesa da liberdade de expressão, da liberdade de imprensa e do direito do povo colombiano a se comunicar livremente, com qualidade informativa e sem nenhum tipo de censura ou autocensura.
Dado que o Estado colombiano tem como dever constitucional garantir a existência de uma imprensa independente, livre, veraz e comprometida com informar sobre a realidade do país, exigimos:
1- À Fiscalía General de la Nación, investigar todos os fatos, encontrar os autores materiais e intelectuais destas ameaças e colocá-los à ordens da justiça.
2- À Procuraduría General de la Nación, investigar sobre a possível participação de agentes estatais e membros da Força Pública nestas ameaças para que, se identificado este caso, sejam processados disciplinarmente e sancionadas segundo a lei.
3- Ao Governo Nacional, tomar medidas urgentes para preservar a vida e a integridade dos jornalistas ameaçados e de suas famílias, assim como dar as garantias necessárias para o exercício das liberdades de expressão e de imprensa dos comunicadores e meios independentes, de acordo com o que está consagrado no Artigo 20 da Constituição Política da Colômbia e no Artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos.
4 -Âs organizações de jornalistas e defensoras da liberdade de expressão, Federación Colombiana de Periodistas (Fecolper), Fundación para la Libertad de Prensa (FLIP) e Repórteres Sem Fronteiras (RSF), acompanhar esta denúncia e incidir nas instâncias respectivas do Estado colombiano para proteger a vida, integridade e direitos dos jornalistas e meios ameaçados.
5- Às organizações defensoras de direitos humanos e organizações sociais da Colômbia e do mundo a se solidarizar com os jornalistas e meios ameaçados, exigindo ao Estado colombiano o cumprimento de seu dever constitucional de protegê-los e oferecer condições adequadas para o cumprimento de seus trabalhos comunicativos.
Assinam:
Coletivos e meios ameaçados:
Casa de la Comunicación de Techotiva.
Colectivo Brecha.
Colombia Informa.
Contagio Radio.
Dejando Huella Haciendo Memoria.
El Macarenazoo.
El Rebelde.
El Salmón Urbano.
El Turbión.
Kino Rama.
Reporte Colombia.
Trochando sin Fronteras.
Jornalistas ameaçados:
Andrés Gómez.
Camila Ramírez.
Carlos Castaño.
Ernesto Che Mercado Jones.
Leandro Murillo.
Luis Alberto Castaño.
Milena Galvis.
Nelson Lombana Silva.
Omar Vera.
Oscar Castaño.
Ricardo Murcia.
Silvia Oviedo.