Ça se tend sur les manifestations #Giletsjaunes en #Savoie sur la VRU de #Chambéry pic.twitter.com/GZ7yphuWUI
— Nelly Assénat (@N_Assenat) November 17, 2018
Por Rita Coitinho, para Desacato.info.
As manifestações dos gilets jaunes (coletes amarelos) deste final de semana na França, organizadas por redes sociais sem que fosse possível a identificação de uma liderança reconhecida, acenderam uma luz de alerta para as organizações sindicais e partidos do espectro democrático, de centro, centro esquerda e até de partidos neoliberais, que atualmente a grande mídia prefere chamar de “centro” – dada a ascensão dessa droit (direita) ultranacionalista, como a do partido de Marine Le Pen – como são as forças que rodeiam o atual presidente, Emmanuel Macron. Frente à ascendente direita protofascita, um defensor do status quo atual, da liberalização dos mercados (dos outros) e do fortalecimento do sistema financeiro, como Macron, é quase um político da gauche (esquerda).
Segundo informa a mídia francesa, os partidos e personalidades de esquerda dividiram-se em relação aos protestos contra a criação de uma nova taxa sobre combustíveis fósseis. Enquanto Jean-Luc Mélenchon, do bloco La France Insoumise saudou os protestos, outros deputados de esquerda preferiram assumir uma posição mais discreta, enquanto que os social-democratas do Partido Socialista demonstraram apoio à nova taxa, que está ligada aos investimentos na transição energética, e desconfiança quanto aos protestos. Já as centrais sindicais, CFGT e CGT, mostraram-se críticas do movimento e preocupadas com seu claro aparelhamento pela extrema-direita.
Marine Le Pen, do Rassemblement national, partido de direita nacionalista, saudou os protestos e empenhou seu apoio como chefe do partido, assim como outros expoentes da nova-velha ultradireita francesa, como Nicolas Dupont-Aignan e Laurent Wauquiez, presidente do Républicains. Se, por um lado, parece que os gilets jaunes são um movimento espontâneo de cidadãos auto-organizados por meio de grupos de whatsapp e outras mídias sociais, de outro lado os partidos de ultra-direita são, de saída, os primeiros a obter algum tipo de vantagem política com o movimento.
Talvez ainda seja cedo para se tirar conclusões definitivas a respeito. De toda forma, é digno de nota que os protestos têm uma estética bastante semelhante aos movimentos ocorridos em diversos países nos últimos anos, das chamadas “Primaveras árabes” ao movimento que possibilitou o golpe de Estado nazista na Ucrânia, onde o partido neonazista Svoboda destacou-se como a maior força política nos protestos da praça Maidan, movimento político que derrubou o presidente ucraniano, Viktor Yanukovich em 2014. Ou, para ficarmos com exemplos mais próximos de nós, tal como ocorrido em Honduras, Paraguai, Venezuela, Nicarágua e no Brasil em 2013: o que nos trouxe à atual situação política de ascensão de uma direita outsider, autoritária, aparentemente amadora em seus métodos, neoliberal na economia, conservadora nos costumes e profundamente crítica do que chamam de “globalismo”.
Essa direita em ascensão em diversas partes do mundo tem muitos pontos em comum, em especial, o resgate de uma retórica nacionalista com contornos xenófobos, certo grau de protecionismo (no caso dos agrupamentos da Europa e dos EUA, mas não no caso do Brasil), uso deliberado de uma estética amadora, refutando o uso de mecanismos de propaganda tradicionais e optando por vídeos caseiros, transmissões online em redes sociais e difusão de conteúdo apócrifo, em forma de correntes, que lhe conferem uma aura popular, espontânea e dificultam o rastreamento da origem das informações veiculadas, em geral falsas. Além disso, têm na disputa da narrativa histórica um dos pilares de sua atuação e enraizamento. Promovem uma reclassificação do espectro político mundial, mais ou menos com aqueles parâmetros da novíssima teoria política que o príncipe herdeiro (sic) eleito deputado no Brasil recentemente apresentou aos seus correligionários de partido, que é também basicamente a mesma do filósofo (sic) Olavo de Carvalho, que a copia de propagandistas estadunidenses como Alex Jones. Este, aliás, influencia o staff de Donald Trump e dos movimentos antiglobalismo de direita, como os que se organizam por meio do site canadense Rebel Midia. A interpretação das correntes políticas modernas por esses agrupamentos fazem o milagre teórico de classificar os expoentes do Partido Democrata, como Hillary Clinton e Barack Obama, como esquerdistas-globalistas, representantes da “Nova Ordem Mundial” – aquela proclamada pelo presidente George W. Bush (o pai), do Partido Republicano, quando da queda da URSS. Nessa miríade de estruturas e personalidades globalistas (que, segundo os mais entusiasmados, são também marxistas) estão também a ONU, a União Europeia e todos os mecanismos de cooperação internacional. É mais ou menos como se Geoge Soros e Xi Jiping fossem bons camaradas de Angela Merkel, numa incrível e altamente eficaz conspiração comunista para dominar o mundo em proveito das grandes corporações financeiras. Nessa esteira está, é claro, Emmanual Macron.
O festejado presidente francês, para quem o mercado teceu tantos elogios, parece ter caido em desgraça ao aproveitar a saída da Inglaterra da União Europeia para fortalecer, junto com o governo alemão, a ideia de um exército europeu, que faça frente às ameaças externas, ao mesmo tempo em que afasta-se dos EUA – após um efêmero período de aproximação com Trump, no início deste ano. Sua popularidade despencou em um final de semana de protestos, enquanto figuras como Marine Le Pen se fortalecem. O povo que protesta está, evidentemente, insatisfeito com as crescentes perdas econômicas e não admite perder mais em nome de uma distante e pouco compreensível transição energética. Desconfia, com razão, da ordem mundial atual, em que as grandes corporações e financistas acumulam imensas riquezas enquanto as populações, mesmo nos países do centro do sistema, empobrecem. Muitos também atribuem seus problemas econômicos à crise migratória, causada pelas guerras patrocidas pela OTAN, e enxergam nos migrantes ameaças a seu bem estar, o que os aproxima de saídas extremistas. Até por isso, as antigas formas de organização popular não têm conseguido canalizar essa insatisfação para uma saída coletiva e pós-capitalista. Ao contrário, propostas de recrudescimento do sistema vêm ganhando espaço fazendo uso de uma retórica antissistema. É muito provável que a disputa de narrativas em andamento favoreça o lado revisionista da história, que apresenta os acordos de redução do uso de combustíveis fósseis como mais um estratagema globalista para retirar recursos do povo francês e favorecer os interesses das grande corporações. Será também a França um alvo das guerras híbridas? Quem viver os próximos anos verá.
Foto de capa: Captura de tela vídeo Nelly Assent
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Não creio que a frança está em rota de colizão com os estados unidos para justificar o uso da maquina de manipulação em massa utilizada no brasil.
a guerra hibrida é contra os inimigos das empresas americanas e finaciadas por think thaks neoliberais, a extrema-direita da europa não está nos planos desse pessoal, a menos que uma candidatura de esquerda se fortaleça….