Clarisse Mantuano: ancestralidade e resistência

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A cultura popular do Brasil é uma das chaves da resistência do nosso povo ao modelo perverso de construção social ao qual fomos submetidos.

O que a cultura tem a ver com transformação social? Ainda hoje, essa é uma pergunta que poucos têm a noção da amplitude. A cultura popular do Brasil é uma das chaves da resistência do nosso povo ao modelo perverso de construção social ao qual fomos submetidos. Se repararmos, ao mesmo tempo que o povo foi oprimido socialmente, culturalmente ele impôs sua identidade construindo um dos maiores tesouros do nosso território: a diversidade cultural brasileira.

Nesta coluna vamos passear por algumas dessas riquezas e entender como elas nos fortalecem. Não por acaso, o grande capital tem como uma estratégia clara de dominação a homogeneização cultural, a pasteurização das nossas mentes e perda da identidade. Haja visto o crescimento das igrejas pentecostais nas classes menos favorecidas da população.

Aproveitaremos esse espaço para valorizar os mestres e artistas que mantém como trincheira de resistência suas violas, rabecas, tambores, histórias e ancestralidade erguidos. Assim conseguem que os reisados, cirandas, candomblés, sambas, encantarias, marujadas, capoeiras e incontáveis patrimônios de nossa cultura se mantenham vivos e sejam nossa maior arma contra a cultura de massas opressora do mundo globalizado.

Infelizmente, nossos maiores mestres ainda não encontram a visibilidade que merecem. Embora eles sejam os aliados primordiais para a luta por uma transformação social completa, em que o povo seja fortalecido pelo orgulho de suas raízes, que enche de força e sentido a batalha contra os poderosos.

São as onças castanhas, os bois de estrela na testa, os pretos velhos, os orixás, os tambores de crioula, os berimbaus, os repiques, tantãs, candongueiros e milhares de outros tesouros, que fizeram do povo brasileiro a fênix que renasce das injustiças. A união desses mesmos tesouros continuará nos fazendo resistir. Continuará mantendo nossa memória, identidade e autoestima, como cantam nossos caboclos:

“Sou brasileiro, sou brasileiro,

Sou brasileiro imperador,

Porque eu nasci foi no Brasil,

Sou brasileiro, o que é que eu sou?”

*Clarisse Mantuano é jornalista.

Foto: Reprodução/Brasil de Fato

Fonte: Brasil de Fato

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