Por Marco Vasques, para Desacato.info.
No dia 11 de março, Reveraldo Joaquim e Yonara Marques, do Cirquinho do Revirado, foram entrevistados no JTT-A Manhã Com Dignidade, dentro da coluna Arte e Existência. As quintas-feiras são o dia especial dedicado à cultura, a arte, a literatura, e, como todo dia, a atualidade política e social do Brasil e o mundo.
O grupo de teatro foi fundado em 1997, quando Yonara Marques e Reveraldo Joaquim, resolveram dar uma guinada em suas vidas. Mandaram confeccionar uma pequena lona de circo, um cirquinho, para apresentar teatro de fantoches.
Confira o que Yonara e Reveraldo contaram na entrevista.
SOBRE O ARTISTA DA FOME
O nosso novo trabalho, o Artista da Fome, se encerrará no dia 26 de março quando convocaremos o público a performar conosco, pois a casa duas horas, durante 24 horas, faremos algum experimento com o público. Apresentaremos, de algum modo, o resultado de uma jornada de 40 dias de jejum que vem sendo narrado com texto do escritor e poeta Luan Marques. Nosso propósito não é tão somente refletir o momento drástico em que estamos imersos, embora esse seja um dos pontos cruciais do trabalho. Temos por objetivo enfrentar nossa trajetória de 24 anos de existência, que em algum sentido, é uma existência de fome, que pode ser conceituada de maneira real, física e expressa na condição do artista num país como o Brasil, mas, também, pode estar relacionada a fome de arte, de fazer arte e própria supressão da fome pela fome.
SOBRE O CIRQUINHO DO REVIRADO
Em 1996, eu e o Reve, com o Luan de colo, fomos passar uma virada de ano com os amigos em Garopaba-SC. Lá conhecemos o Cirquinho da Josefina e ficamos apaixonados com a ideia da loninha de circo. Voltamos para Criciúma para continuar a vida, mas não conseguimos tirar essa ideia da cabeça. Reveraldo trabalhava como gerente de uma loja de eletrodomésticos. Eu, até o nascimento de Luan, também era do comércio de Criciúma. Estávamos com muitos desejos de trilhar um caminho diferente para nossas vidas. E o teatro era algo pulsante em nós. Estávamos sempre metidos em alguma criação. Nesta época eu ainda era muito impulsionada pelas vontades do Reve, porém sempre gostei muito do que realizávamos. Gostava da ideia de liberdade e tínhamos sonhos utópicos. Temos até hoje. Quando ele veio com o pensamento de a gente viver de teatro, Luan tinha um ano e meio. A ideia era a gente ter um cirquinho igual àquele que a gente viu em Garopaba. Quando ele me fez a proposta, aceitei na hora e criei várias viagens mentais, elaborando sonhos, fantasias. No mesmo dia que comprei a ideia do Reve, ele pediu a saída da loja em que trabalhava. Com o dinheiro da saída dele conseguimos comprar um minicirco. Entramos em contato com o Silvério Di Camargo, que também era o ator manipulador dos espetáculos a que assistimos e proprietário do cirquinho da Josefina. Ele veio a Criciúma o mais rápido que pôde e logo já fomos projetando e colocando em prática nosso sonho. Estou resumindo bastante essa história, que conto na íntegra no meu TCC. Tudo aconteceu muito rápido em nossas vidas. Em 1993, nos conhecemos; em 1994, nos casamos; em 1995, nasceu o Luan; em 1996, nasceu a ideia e, em 1997, fundamos o Cirquinho do Revirado. Neste formato de cirquinho apresentando teatro de bonecos, com o boneco Revirado, ficamos por uns 5 anos. Itinerando de praça em praça, fazendo projetos em escolas. As escolas dos arredores das praças iam até o cirquinho. Nesta época a gente apresentava dois espetáculos na parte da manhã, um antes do recreio e dois depois e repetíamos do mesmo jeito na parte da tarde. Eram oito espetáculos na maioria dos dias da semana. Algumas pausas eram necessárias para definir a produção da próxima semana. Cobrávamos um real por criança, e era a professora que chegava da sala dela com o montinho enrolado numa folha de caderno. Nesse montinho sempre tinha uns 25% a menos do número de crianças que entravam, porque de fato umas não tinham um real, e tudo bem também. No cirquinho, da metade da circunferência se estabelecia o lugar das encenações onde tinha uma empanada de madeirite bem colorida, do lado oposto à empanada. Tinha arquibancada em meia-lua contornando a lona, e ainda colocávamos 50 cadeirinhas à frente da arquibancada. No total, comportava 150 crianças sentadas e suas professoras. Nos finais de semana, nossa produção se dava com um público livre das praças. Saíamos pela praça chamando os pais com seus filhos para virem assistir ao próximo espetáculo. Existia um prólogo que fazíamos como atores à frente da empanada dos bonecos. Esse prólogo era uma esquete que foi crescendo com jogos de improvisos, tendo a plateia como termômetro sempre e, cada vez mais, gostávamos deste lugar à frente da empanada. Quando ganhamos nosso primeiro prêmio de edital: o EM CENA BRASIL, da Funarte, foi para a montagem de Amor por Anexins. Aí a lona era só imaginária e em cima de um picadeiro, com referência ainda ao circo, pois estávamos em pernas-de-pau, tinha um mestre de pista, banda de circo, o redondo da lona na mesma circunferência da loninha dos bonecos. Foi a partir daí que começou nossa história com a rua, nossa primeira montagem com uma dramaturgia, com direção de Lourival Andrade. Foi a partir daí que trilhamos esse caminho de atores do teatro de rua. Mas é certo que nossa experiência nas praças, nos pátios de escolas, nas ruas fechadas, montando a lona, fazendo propaganda cara a cara com o público da rua, panfletando em praias, já estávamos fazendo nossas próprias descobertas de como projetar voz, dilatar o corpo pra rua, o jogo cômico, a sutileza dos olhares de quem quer brincar, quem quer entrar no jogo, tudo isso já estava no aprendizado desde que começamos com o Cirquinho.
Assista à entrevista completa a partir do minuto 23:45.
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