Por Fábio Góis.
Com forte discurso anti-Temer, o ex-ministro e ex-governador do Ceará Ciro Gomes oficializou nesta quinta-feira (8), na sede do Partido Democrático Trabalhista (PDT), sua pré-candidatura à Presidência da República. O lançamento da pré-candidatura, que teve início no final da tarde e adenta a noite chuvosa em Brasília, contou com a presença do presidente nacional do partido, Carlos Lupi, do irmão de Ciro e também ex-governador cearense Cid Gomes, e do presidente da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF), Joe Valle, anunciado como pré-candidato ao governo de Brasília.
A pré-candidatura de Ciro foi aprovada por unanimidade pela Executiva Nacional do PDT. O partido ainda não definiu o nome para o posto de vice e até uma aliança com outro partido está cogitado para completar a chapa presidencial. Um dos nomes que têm sido considerados para o posto, embora nada esteja confirmado, é o do ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT). Nesse caso, haveria conflito com as tendências petistas que não aceitam abrir mão da cabeça de chapa.
Antes de se encaminhar ao auditório da sede, Ciro falou à imprensa em uma concorrida entrevista coletiva na entrada do pequeno prédio térreo, com siglas do partido em letras garrafais na fachada, localizado nas cercanias de um dos anexos da Câmara. Na fala do pré-candidato, esboços de projetos governamentais, impressões sobre a economia nacional, infraestrutura, desigualdade social – como o próprio Ciro disse, o principal mal a ser combatido em uma eventual gestão pedetista.
Identificado como candidato de esquerda e em sua terceira tentativa de se eleger presidente da República, Ciro fez menção à iminência de prisão de Lula, disse que jamais faltou ao Partido dos Trabalhadores e garantiu que, caso o cacique petista seja mesmo preso e impedido de concorrer às eleições, gostaria de contar com o apoio do PT em um eventual segundo turno.
“Ao longo de 16 anos [de aliança com o PT], não faltei uma vez com Lula”, declarou o candidato, muito festejado pelos correligionários quando foi anunciado por Lupi no palco do evento. Segundo Lupi, a candidatura de Ciro é “irreversível”.
Com a coincidência do lançamento da pré-candidatura com o Dia Internacional da Mulher, Ciro não escapou do resgate sobre a polêmica declaração, durante o pleito presidencial de 2002, que deu quando foi questionado sobre a importância de sua então esposa, a atriz Patrícia Pillar, na campanha daquele ano. Naquela ocasião, Ciro respondeu que Patrícia dormia com ele – a frase, considerada machista, provocou críticas ferozes à época.
Nesta corrida presidencial, dizendo ter deixado de lado o temperamento explosivo, Ciro se disse “feminista”. “Mas fiz uma piada de mau gosto com o amor da minha vida”, resignou-se.
Mas, entre uma declaração e outra, o discurso do ex-governador se voltou frequentemente para as críticas à gestão Temer, a quem não tem poupado de termos como “golpista” e “conspirador”. Ex-ministro da Fazenda de Itamar Franco (1992-1994) e da Integração Nacional na gestão Lula (2003-2010), Ciro fez duras críticas, por exemplo, à intervenção federal decretada por Temer na segurança pública do Rio de Janeiro, classificada como oportunista pelo pré-candidato.
“Foi intervenção politiqueira, mal intencionada, mal planejada. E sabemos que não tem orçamento”, fustigou o pedetista, em seguida mirando o papel da imprensa antes e depois do impeachment. Para Ciro, a advento das redes sociais não imbecilizou o eleitorado, mas lhe deu mais um instrumento de informação e de controle da atividade pública.
“Até a mídia convencional já percebeu que precisa se adequar”, declarou Ciro, propugnando a quebra dos “monopólios de difusão da informação”.
Agora oficialmente candidato ao governo de Brasília, Joe Valle também falou à imprensa na sede do PDT. “O lançamento de pré-candidaturas faz parte de um projeto nacional que Brasília, como capital da República, tem que integrar. Este é um processo de construção partidária. Fruto de muita conversa, de muito trabalho, para trazermos a melhor proposta para o Distrito Federal”, discursou o deputado distrital.
Trabalhismo
Ciro é um dos políticos mais alinhados à filosofia político-partidária que o ex-governador do Rio de Janeiro Leonel Brizola (1922-2004), “o último caudilho”, deixou como legado na esteira da era Jango – como era chamado o ex-presidente trabalhista João Goulart (1918-1976), que governou o país entre 1961 e 1964, quando foi deposto pelo golpe militar que se arrastaria até 1985. De estilo explosivo, algo que ele agora diz ter superado, Ciro é professor de Direito Tributário e Constitucional e costuma se gabar de jamais ter sido processado por corrupção, embora enfrente dezenas de ações na Justiça por danos morais. Só no Ceará são 80 ações.
Nos últimos anos, diz ter ganhado a vida com aulas e palestras sobre temas diversos mundo afora, principalmente temas relacionados à política e à economia. Na última vez em que disputou uma eleição presidencial, em 2002, foi o terceiro mais votado naquele pleito, com 7.426.190 milhões de votos, perdendo para Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que acabaria vencendo no primeiro turno, e Lula. Em 1998, lançado à disputa presidencial pelo Partido Popular Socialista PPS), Ciro obteve 10.170.882 milhões de votos e ficou em quarto lugar.