Nossas bandeiras contra a criminalização da favela sempre estiveram pelas ruas. Nos últimos meses, pautas que antes eram só das favelas passaram a ocupar outros espaços da cidade. Foram inúmeros os protestos em que o tema da segurança pública apareceu.
Tema este que automaticamente envolve o debate da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), além da desmilitarização da polícia; remoções; direito à cidade; educação; saúde; liberdade sexual; sistema penitenciário, entre outros.
São pautas históricas, mas que também tem a ver com o momento deste lugar conhecido como “cidade maravilhosa”. Afinal, o Rio de Janeiro é a cidade escolhida para receber os megaeventos que serão em 2014 e em 2016. E, para que ela esteja preparada para a Copa do Mundo e para as Olimpíadas, os governantes estão mudando as estruturas físicas deste território. Mas o território escolhido para ser sacudido mais uma vez, é o lugar habitado por uma população pobre, negra e favelada.
A invasão das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) nas favelas cariocas, que começou há exatamente 5 anos, é exemplo disto. Afinal, este é mais um modelo de cidade com a ideia de proteger o asfalto e os turistas para a chegada dos jogos. Política esta feita de cima para baixo para o preparo da cidade. Mais uma forma brutal e esclarecida de racismo do Estado que trata a favela como criminosa e violenta.
Na Rocinha, um ajudante de pedreiro, o Amarildo, foi exterminado por esta tal Unidade de Polícia Pacificadora. Caso que percorreu o mundo. Lá, assim como nas 18 favelas que estão hoje ocupadas pela UPP, outros moradores têm desaparecido.
“Entre 2007 e 2012, foram registrados 553 casos de desaparecimento nas 18 primeiras comunidades. Os relatórios do ISP indicam aumento progressivo anual até 2010, quando o indicador atingiu o seu ápice (119 ocorrências)”, dados do Instituto de Segurança Pública em matéria do UOL publicada em agosto de 2013.
Além da força armada, estas favelas que são invadidas pela UPP, passam a ter o terreno “valorizado”. O local passa a ter a luz, a água e os impostos legalizados. Mas, sem qualquer condição de trabalho, moradia ou outro direito, os moradores sofrem com o aumento de cada pedaço do seu chão e passam a ter que sair dos seus locais de moradia e ocupar outros espaços mais baratos da cidade. Sendo este fato conhecido como “remoção branca”.
A maior parte das favelas que recebem a UPP estão localizadas nas áreas nobres do Rio, ou em locais estratégicos da cidade como no caso dos Conjuntos de Favelas da Maré e do Alemão, ambas próximas ao aeroporto internacional e das vias expressas que ligam ao centro cidade.
Nós moradores e moradoras de favela não aceitamos esta tal política mais que racista que é vendida pela mídia como um ideal de paz para as favelas cariocas. Nós favelados e faveladas não nos calaremos nunca enquanto houver pobre, negro e favelado sendo exterminado. O que queremos é ter o direito à cidade. Queremos ter o direito de existir, de ser, de viver, de se sentir parte e não margem deste tal sistema que apenas controla e mata favelado todos os dias.
Fonte: Pela Moradia.