Nós, do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), recebemos com imensa tristeza e profunda indignação a notícia do assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips, desaparecidos desde o último dia 5 de junho, no Vale do Javari, estado do Amazonas, na fronteira Brasil – Peru.
Manifestamos toda solidariedade e sintonia com as famílias e amigos de Bruno e Dom. Ambos sempre atuaram com convicção em defesa da vida e dos direitos dos povos indígenas e essa determinação lhes deu um reconhecimento verdadeiro e uma estima extraordinária por parte dos povos indígenas, de seus aliados e de todas as pessoas de bem.
Manifestamos também nosso apoio e solidariedade aos povos indígenas da Terra Indígena (TI) Vale do Javari e à União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), que se dedicaram com todas suas forças e conhecimentos à busca de Bruno e Dom e ainda foram alvo de falsidades e acusações por parte de autoridades federais.
Enquanto é aguardada a identificação definitiva dos corpos encontrados, exigimos das autoridades que esses assassinatos sejam imediatamente apurados, alcançando todos os atores que lucram e participam dos esquemas de invasão e exploração ilegal na TI Vale do Javari.
Exigimos, ainda, que sejam apuradas as responsabilidades políticas que permitiram a morte de Bruno e de Dom. A TI Vale do Javari, como outros territórios indígenas no país, vivem uma situação permanente de assédio, violência e insegurança. A inação sistemática do governo brasileiro e sua política anti-indígena estimulam e empoderam os invasores das terras indígenas para agir livremente, encorajados pela certeza da impunidade, tornando o ambiente cada vez mais perigoso para os povos indígenas, suas lideranças e seus aliados. Trata-se de um projeto deliberado e intencional, de perseguição e ameaça à vida dos povos indígenas e de seus aliados.
É fundamental que o Estado brasileiro retome, de forma imediata, a política de proteção à vida e aos territórios dos povos indígenas. No caso da TI Vale do Javari, é urgente que sejam adotadas todas as medidas de enfrentamento às frentes de invasão e de ocupação ilegal, garantindo aos povos indígenas, e de forma particular aos povos que ali vivem em situação de isolamento, proteção e segurança.
O momento precisa da reação e da união de toda a sociedade brasileira. Não podemos ficar indiferentes diante do abandono da ação do Estado, o incentivo à violência, a impunidade, o descaso e a omissão.
Nosso profundo reconhecimento e homenagem a Bruno e a Dom Phillips. Com eles, e com a força de tantos indígenas e aliados que perderam suas vidas em defesa da vida e dos direitos, reafirmamos que não desistiremos de continuar defendendo, com determinação e esperança, o Brasil plural que somos e a garantia dos direitos fundamentais dos povos indígenas.
Brasília, 16 de junho de 2022
Conselho Indigenista Missionário – Cimi