Ciclone no Moçambique: “Isto é uma coisa nunca vista”

Coordenador de emergência do Programa Mundial de Alimentação, PMA,  Pedro Matos disse esta terça-feira que a situação em Moçambique “é uma coisa nunca vista.” Esta terça-feira, o governo moçambicano decretou emergência nacional e luto oficial de três dias devido aos danos causados pelas cheias e pela passagem do ciclone Idai no país.

Segundo as estimativas do governo, 600 mil pessoas foram afetadas nas províncias de Sofala, Manica, Zambézia, Inhambane e Tete. 

Porta-voz do PMA Gerald Bourke e coordenador de emergência Pedro Matos na Beira, Moçambique, by Debora Nguyen/PMA

Em declarações à ONU News, a partir da cidade da Beira, Pedro Matos explicou que “nem Moçambique nem nenhum país do mundo está preparado para responder a uma tragédia desta dimensão.”

Como está a situação neste momento?

A situação na Beira está bastante dramática.  O ciclone Idai aterrou na Beira na quinta-feira com ventos de 200 km por hora, depois de já ter estado antes em Moçambique como tempestade tropical e já ter deixado cerca de 120 mil afetados ao longo do rio Zambeze. Entrou e criou uma destruição bastante grande no corredor grande entre a Beira e o Zimbabué. Mas se isto já era bastante mau, o que veio a seguir foi ainda pior.

A pluviosidade que se seguiu, que chegou aos 600 milímetros em 24 horas, num dos dias, mas não durou só um dia, causou uma torrente tão forte que se pensou inicialmente que tinha sido uma barragem que tinha rebentado. E essa torrente continuou e continua a aumentar e rebentou as margens de dois rios aqui ao pé da Beira, o Púngoè e o Búzi, que agora correm como mares.

O Púngoè, com cerca de 50 quilómetros, criou um grande mar interior com cerca de 50 quilómetros por 40. E o Búzi, com cerca de 65 quilómetros por 50, que nós consigamos ver. Porque fizemos um voo ontem e não é possível, de avião, ter uma dimensão da tragédia, porque a água estende-se em todas as direções.

Estamos a tirar imagens de satélite para conseguir ter uma dimensão real da tragédia. Há água em todas as direções, em locais que costumavam ser mangais e palmeiras, e neste momento é um mar inteiro com água por cima das casas e das palmeiras. Não se veem árvores, não se veem povoações. A tragédia é bastante grande.

Não se veem árvores, não se veem povoações. A tragédia é bastante grande.

Como está a ser a resposta?

O Ingc, que é a proteção civil de Moçambique, e a comunidade internacional responderam a esta emergência. Nós estávamos cá uma semana antes, antecipadamente, à espera do ciclone, mas ninguém estava à espera da dimensão desta tragédia. Isto é uma coisa nunca vista. Nem Moçambique nem nenhum país do mundo está preparado para responder a uma tragédia desta dimensão. E, portanto, nós estamos a mobilizar.

As necessidades são imensas. A eletricidade faltou na Beira, o que quer dizer que as estações de tratamento de água não funcionam, quer dizer que as morgues não funcionam, quer dizer que os sistemas de tratamento de esgotos também não funcionam.

Não há telecomunicações, não há energia e estamos a montar uma operação imensa de resgate das pessoas. Muitas vezes tirar pessoas que têm água pelo pescoço para pô-las em sítios onde a água está só pelos tornozelos. Estamos nesta fase ainda. Ainda nem estamos na fase de os levar para terra firme.

Qual a dimensão da tragédia?

Quanto conseguirmos, finalmente, levar as pessoas, o rescaldo desta tragédia vai envolver muitas centenas de milhares de pessoas afetadas por estas cheias, para não falar daquelas que foram afetadas pelo ciclone.

Em termos de área, se calhar, é uma coisa comparável ao furacão Katrina. Se não em população, porque esta zona tem menos densidade populacional que Nova Orleães, mas em termos de área afetada é muito comparável.

PMA/Deborah Nguyen
Distribuição de alimentos em escola transformada em abrigo na Beira.

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