Chove de novo sobre a Grécia: Campos alagados pela água e a vergonha

Idomeni, Grécia. Maio de 2016. Foto: Marc García.
Idomeni, Grécia. Maio de 2016. Foto: Marc García.

Voltam as chuvas para a Grécia, volta a água, o frio, a improvisação, as doenças, a angústia e o desespero. Bom, esse nunca foi embora.

Volta a lama, voltam as poças, o fogo, os sapatos rasgados, as barracas encharcadas, a engenharia imaginativa, a perda de bens, junto com a de valores. Bom, esses já tinham sido perdidos.

Volta a retórica, a estatística, a campanha midiática, a logística, a lástima, os “tomara que”, os “Como é que pode?”, as promessas, os pactos, os projetos, mas não a solução. Bom, essa já não se espera.

Enquanto o ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados) “coordena”, a OIM (Organização Internacional para as Migrações) paga passagens de avião para retornos voluntários e a Europa e a Turquia brincam de aumentar as barreiras, o poder aquisitivo, o poder institucional, de gerar opinião, má imprensa e mesquinharia, outro duríssimo inverno espera para as mais de 57.000 pessoas refugiadas na Grécia, propositalmente esquecidas, abandonadas e retidas em contra da sua vontade, violando assim o artigo 13º da Declaração Universal dos Direitos Humanos, referente à livre circulação de pessoas ou liberdade de movimento, o qual cita textualmente:

Art 13 Declaração Universal dos Direitos Humanos

  1. Todo homem tem direito à liberdade de locomoção e residência dentro das fronteiras de cada Estado.

  2. Todo homem tem direito de deixar qualquer país, inclusive o próprio, e a este regressar.

Outro duro inverno em que choverão tormentas, outro duro inverno em que nos choverá a vergonha.

Perecerão alagados no mar bravio de inverno aqueles que se arriscarem a navegá-lo. Perecerão esquecidos no encharcado solo firme aqueles que tentarem atravessá-lo.

Dezenas de milhares de pessoas morreram tentando entrar à Europa, procurando um sonho e liberdade, atravessando um mar que, de tanto sangue vertido, deveria ter mudado de cor.

As pessoas refugiadas têm sido e estão ficando desamparadas, são desprezadas, descartadas, destruídas, desamparadas, desumanizadas, despossuídas de todo bem, desprovidos de toda identidade, despojadas de toda esperança.

Chega! Acabar com este extermínio há de ser um objetivo; não pode ser um legado. Já chega destas formas, destas mentiras, destas justificações, desta Europa.

Se não formos capazes de lutar por aquilo que nos faz iguais, a liberdade; pereceremos por aquilo que nos une, a inação.

Tradução para Desacato.info: Tali Feld Gleiser.

Fonte: Unadikum Refugees.

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