“Chocado, mas não surpreendido”, diz Miguel Faria sobre censura no Uruguai a “Chico: Artista Brasileiro”

Em entrevista exclusiva à Fórum, diretor de filme sobre Chico Buarque conta em detalhes como foi a censura que sofreu por parte do governo Bolsonaro em mostra no Uruguai

Por Por Julinho Bittencourt

Imagem: Reprodução

“Chocado, mas não surpreendido.” Este é o sentimento que o diretor Miguel Faria Junior revelou com exclusividade à Fórum diante da censura, por parte da Embaixada Brasileira no Uruguai, ao seu filme “Chico: Artista Brasileiro”. Lançado em 2015, o longa não tem conotação política. Trata-se de um belo passeio sobre a vida e a obra de Chico Buarque.

Programado para estrear no país vizinho em outubro, o diretor recebeu um comunicado do exibidor dizendo que o filme foi retirado da mostra por conta de um “pedido” do Ministério das Relações Exteriores.

Miguel ainda não sabe o que vai fazer com relação ao fato. “O filme estava programado para ser lançado comercialmente nas salas do Uruguai em outubro. Como estratégia de divulgação, foi colocado na mostra Cine de Brasil 2019. O dono do cinema recebeu um telefonema, em nome do ministro das Relações Exteriores, pedindo para tirar o filme da mostra. E o dono do cinema tirou”, disse.

O diretor diz que recebeu a notícia do cancelamento do seu filme no festival na noite desta quinta-feira (12). “Estou começando a pensar no que fazer. O único documento que tenho é a carta do meu distribuidor, a carta que o dono do cinema mandou pra ele junto com a gravação do telefonema que recebeu de uma mulher, que eu não sei ainda o nome, mas ela fala em nome do ministro: ‘olha, esse filme não, tira’ (risos). Só rindo mesmo, né?”.

Ele lembra que, da mesma maneira que o filme “Marighella”, de Wagner Moura, teve a sua estreia cancelada por conta de trâmites exigidos pela Ancine, o seu também foi atacado. “No caso do ‘Marighella’ eles estão usando uma questão de dinheiro, parece que tinha uma parcela pra acabar o filme. Então eles vão fazendo assim”, afirmou.

“Chico: Artista Brasileiro” estreou no Brasil, em 2015, e agora está sendo lançado na América Latina. “O filme não tem nada demais de política, fala sobre o Chico mesmo. Eu estou chocado, mas não surpreendido”, exclamou o diretor.

Perguntado se vê a possibilidade de aumentarem ainda mais os casos de censura, Miguel Faria devolve a pergunta: “O que você acha? Tudo é possível. Todo dia é uma, o prefeito manda tirar livro da Bienal etc. Por enquanto isto é ilegal, eles teriam que mudar a Constituição. A gente tem que colocar um pé no freio disso”, encerrou.

 

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