Chavismo retoma a Assembleia Nacional e assume o controle de todas as instituições da Venezuela

Diosdado Cabello, candidato eleito do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), segura uma foto do falecido presidente venezuelano Hugo Chávez antes da cerimônia de posse dos novos integrantes da Assembleia Nacional da Venezuela. Foto: Stringer / Reuters

Por Francesco Manetto.

O chavismo recuperou nesta terça-feira o controle da Assembleia Nacional da Venezuela, que tinha perdido em 2015. As eleições legislativas de dezembro, das quais a imensa maioria da oposição não participou, e que foram questionadas pelas principais instâncias internacionais, deram à coalizão de partidos governistas mais de 90% dos 277 assentos. Embora a abstenção no pleito tenha superado 80%, na prática o aparato político do Governo de Nicolás Maduro domina a partir de hoje todas as instituições do país. A Assembleia Nacional era a única instância de poder que permanecia nas mãos das forças antichavistas, sob a liderança de Juan Guaidó. O dirigente opositor tratou, entretanto, de manter a disputa com Maduro e tomou posse no começo da manhã como presidente de uma Câmara paralela, considerada por seus seguidores como a autêntica Assembleia Nacional.

O ocorrido nesta terça na Venezuela com o início da nova legislatura aprofunda o grave conflito político e não resolve a crise institucional que convulsiona o país. Por outro lado, representa mais uma volta de parafuso na consolidação do regime. O novo presidente do Parlamento, o ex-ministro chavista Jorge Rodríguez, lançou uma clara advertência aos opositores, cujos esforços por obter uma mudança política fracassaram repetidamente. “Reconciliação sim, mas sem amnésia; perdão sim, mas sem esquecimento. Há crimes que não podem ser perdoados, há crimes que devem ser pagos”, afirmou Rodríguez, para minutos depois insistir: “Não pode haver perdão com esquecimento, não pode haver reconciliação com amnésias. Atreveram-se a assinar um contrato onde aceitavam e pagavam 200 milhões de dólares a mercenários para assassinar o presidente da República”. Segundo Rodríguez, os adversários do regime “montaram um aparato de guerra psicológica, midiática, de sanções, para que o ser venezuelano se fragilizasse”. “Há ofensas que não se pode passar por cima”, acrescentou. “Estamos obrigados ao exorcismo”, chegou a dizer.

Diosdado Cabello, ex-presidente da Assembleia Nacional Constituinte e considerado como o número dois do chavismo por sua influência sobre as bases e a formação governante, o Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), também dedicou seu discurso a atacar a oposição. “Devem recordar o disparate de 5 de janeiro do ano de 2016, a loucura, pensavam que da Assembleia Nacional podiam trocar a estrutura de Governo, a vontade de um povo. Não puderam”, disse, em referência à passada legislatura.

Os partidos contrários ao regime bolivariano, encurralados e perseguidos pela Justiça e pelas forças de segurança, ganharam as eleições legislativas de 2015 e depois na prática transformaram o Parlamento em sua plataforma política. Foi em virtude do seu cargo de presidente da Assembleia Nacional que Guaidó se declarou chefe de Estado interino no lugar de Maduro, há dois anos. Agora, ao perder esse posto, pode decair também o reconhecimento internacional como “presidente encarregado”. Por isso, esse político do partido Vontade Popular, fundado por Leopoldo López, busca reter o controle de uma Assembleia opositora, mesmo que de forma simbólica. Fez isso através de uma sessão virtual e paralela, acompanhado de seus seguidores.

“Da minha condição de presidente interino e presidente da Assembleia Nacional, convoco por esta via todos a construírem a linha de defesa da República e da democracia neste país”, manifestou o dirigente opositor. Uma de suas principais preocupações é agora o reconhecimento internacional: dirigiu-se aos líderes do mundo para lhes pedir seu apoio na luta “por eleições presidenciais livres, justas e verificáveis”. “O chamado à comunidade internacional é para respaldar o mecanismo de solução do conflito que passa pela realização de eleições livres”, manifestou. Um de seus principais protetores, o norte-americano Donald Trump, está a ponto de deixar a Casa Branca após anos de estratégias fracassadas. Trump tentou usar o conflito da Venezuela em chave interna para obter proventos eleitorais, e agora seu sucessor, o democrata Joe Biden, terá que decidir se muda o enfoque diplomático com Caracas. Ao mesmo tempo, a União Europeia hesita em confirmar seu reconhecimento a Guaidó e estuda uma fórmula para continuar apoiando a oposição sem uma aceitação explícita da figura de presidente interino.

Leia mais:

O principal êxito do golpe de 2016. Por José Álvaro Cardoso

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.