Chauí: “Jovens deram passo na politização”

Marilena Chauí
Marilena Chauí

Marco Damiani – 247 – O filósofa e socióloga Marilena Chauí está se divertindo. Na manhã da terça-feira 18, ela participou da reunião do Conselho da Cidade, na sede da Prefeitura de São Paulo, onde o prefeito Fernando Haddad e integrantes do Movimento Passe Livre, que coordena as marchas contra o reajuste nas passagens de ônibus em São Paulo, se enfrentaram verbalmente. “Isso foi grandioso”, resumiu a professora. Marilena, que não fez uso da palavra ao microfone, no período para os conselheiros se manifestarem, mas acompanhou tudo como se assistisse, comentando, uma sessão de cinema:

– Isso que o prefeito fez é grandioso, comentou ela com 247. Haddad deu qualidade à discussão, ouviu argumentos, apresentou números e mostrou como as relações, mesmo em períodos mais agudos, podem ser civilizadas.

Em três tempos — antes, durante e depois do encontro na Prefeitura –, Marilena Chauí quebrou um longo período de silêncio com a imprensa e falou detidamente ao 247 sobre as manifestações estudantis que se espalharam pelo País na noite da segunda-feira 17:

247 – Qual é a sua opinião sobre as marchas?

Marilena Chauí – Há três coisas a destacar. A primeira é força da internet como veículo de mobilização. Esse instrumento ainda não havia sido usado com tanta eficiência no Brasil. Provou-se que ele mobiliza a juventude, especialmente por meio do Facebook. O segundo ponto é que as manifestações poderiam ter ocorrido por qualquer motivo. Calhou de ser um protesto positivo, mas poderia ter sido algo em torno de um simples jogo de futebol ou de um show musical. Os jovens mostraram que não gostam de estar sozinhos, escolheram estar juntos. E essa é a terceira questão: esse movimento é geracional, pertence à juventude.

– Isso é válido, como elemento de mobilização mais permanente, ou é efêmero?

– As marchas são, sem dúvida, um processo bom e efetivo de politização. Não faz mal que essa politização comece assim dessa maneira, com muitas bandeiras diferentes debaixo de uma questão maior, que é essa do aumento nas passagens de ônibus. Teria de começar de algum jeito, e está sendo desse jeito deles. Mas é muito positivo. Os jovens estão dando um passo adiante em sua própria politização, discutindo questões do País, mas isso não significa que eles já tenham criado, com essas marchas, um movimento social ou político. Seria prematuro dizer isso. Ainda não há um padrão para essas manifestações. Elas não tomaram a forma de um evento. Ainda não há indicativos de auto-organização da sociedade e das pessoas. Os protestos não tiveram nem tempo para derivar para algo mais orgânico e permanente. Por enquanto, são apenas um passo de politização, o que já é bom.

– Como a sra. interpreta a questão específica sobre o reajuste dos ônibus?

– Acompanho apenas o caso de São Paulo. Aqui, o protesto é justíssimo. Historicamente o serviço de transporte coletivo dessa cidade é terrificante, é desumano, é injusto. É mesmo um vexame o que temos aqui em termos de ônibus e qualidade do serviço prestado. Não há solução à vista sem que se introduza, de imediato, mais trens e mais metrô no sistema de transporte urbano paulistano. Sem isso, o problema vai continuar. Como esses acréscimos não ocorrem de uma hora para outra, qualquer que seja a resultante a ser encontrada agora, com a revogação ou não do reajuste, não haverá solução definitiva. Não nesse momento.

– Quais os do movimento pacífico ser ultrapassado pela violência policial ou estudantil?

– Desde os meus tempos de estudante, o risco dos movimentos de massa está sempre entre os agentes provocadores. Essas provocações podem se dar de dentro para fora das marchas, ou de fora para dentro. Deu para perceber aqui um esforço de diálogo, mas na rua a história pode ser outra. De toda a forma, acho que as marchas vão contornar esse risco. A quase totalidade não quer violência.

– O que a sra. achou da postura dos integrantes do Movimento Passe Livre aqui na reunião?

– Gostei de quase todas as intervenções. Eles estão bem preparados, mas ainda precisam a aprender a ouvir um pouco mais. É típico da juventude, porém. Normal. Se mostraram todos bem intencionados. O movimento é genuíno.

Fonte: http://www.brasil247.com/+v8tbj

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