ChatGPT escaneia íris de 115 mil brasileiros

A empresa, lançada no Brasil em novembro de 2024, utiliza escaneamento da íris para prometer criar passaporte digital, distinguir humanos de robôs e evitar fraudes online.

Desde o lançamento no Brasil, em 13 de novembro de 2024, o projeto World, liderado por Sam Altman, CEO da OpenAI, já escaneou as íris de 115 mil brasileirosinformou a empresa nesta quarta-feira ao g1.

Segundo a World, 519 mil brasileiros possuem contas no World App, um aplicativo vinculado à criptomoeda Worldcoin, que os usuários recebem após terem suas íris escaneadas.

Os exames de íris são gratuitos em 20 pontos de São Paulo, informou a empresa. O g1 registrou o funcionamento de um desses locais no Shopping Boulevard Tatuapé. Especialistas classificam o projeto como controverso devido à falta de transparência sobre as informações coletadas.

Rafael Zanatta, diretor da Data Privacy Brasil, afirmou em entrevista ao g1 que a Tools for Humanity, parceira do World Protocol no Brasil, deveria criar um Conselho Consultivo Civil para garantir o respeito aos direitos de privacidade e à proteção de dados pessoais.

Zanatta destacou a importância da responsabilidade social da empresa. A World abriu três centros de serviço em São Paulo no segundo semestre do ano passado, em caráter experimental, afirmando que não há planos de operação permanente no país.

Ponto de escaneamento de íris criado pela Worldcoin na Índia, em foto de 25 de julho de 2023. Foto: Reuters/Medha Singh

Às vésperas do lançamento oficial, em novembro de 2024, a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) iniciou uma análise sobre a empresa. A ANPD informou ao g1 que a Tools for Humanity forneceu informações sobre suas práticas de processamento de dados pessoais e que os documentos estão sendo avaliados.

Além do Brasil, a World opera nos Estados Unidos, México e Alemanha. A digitalização foi temporariamente suspensa na Espanha e em Portugal, “por iniciativa do próprio projeto”, segundo a empresa.

Por que a World quer coletar íris de brasileiros

O objetivo do projeto World é diferenciar humanos de robôs com inteligência artificial, ajudando a evitar perfis falsos online e substituir o Captcha, que a empresa afirma já poder ser enganado por IA. A inscrição no projeto é gratuita e inclui o recebimento de 25 tokens Worldcoin, equivalentes a cerca de R$ 470.

A estrutura da World tem três frentes:

  • World ID, como é chamado o passaporte digital que transforma o registro da íris em uma sequência numérica;
  • Token Worldcoin (WLD), a criptomoeda que será distribuída como recompensa para todos os inscritos;
  • World App, o aplicativo que permite fazer transações com a criptomoeda.

Como funciona a coleta

A câmera Orb captura a imagem da íris para criar um código digital exclusivo que identifica o usuário e, segundo a World, é imediatamente excluído. Para se registrar, o usuário baixa o aplicativo da World, agenda um horário em um centro de triagem, onde a câmera Orb registra a íris.

Depois de capturada, a imagem é criptografada, enviada para o celular do usuário e supostamente apagada do dispositivo Orb. A empresa afirma que a tecnologia pode ser utilizada por governos em “processos democráticos globais” e para criar uma renda básica universal.

Projeto gera polêmica

A World tem sido criticada pela falta de transparência no processamento das informações coletadas, mesmo que as imagens da íris supostamente não precisem ser armazenadas. A sequência numérica gerada a partir das imagens é um dado biométrico sensível.

Rafael Zanatta alertou que o identificador único permanece e que o sistema pode ser reutilizado para lucrar com a autenticação de pessoas. Nina da Hora, do Instituto da Hora, também questionou a legalidade de uma empresa privada coletar dados genéticos.

Rodrigo Tozzi, da Tools for Humanity, afirmou que a organização trabalha em parceria com instituições nos países onde atua, incluindo o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação no Brasil. Antes do lançamento no país, a ANPD pediu esclarecimentos adicionais à World, que declarou estar disposta a cooperar com os reguladores e cumprir as leis de privacidade.

A World afirma que os códigos de íris são fragmentados e armazenados com a criptografia AMPC, garantindo anonimato, já que os fragmentos não revelam identidades nem podem ser associados a elas.

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