Chacina da Lapa 45 anos. Por Elenira Vilela.

Pomar, Arroyo e Drummond. Foto: Reprodução

Por Elenira Vilela.

Você ouve falar de chacinas contra meninos de rua e contra moradores de favelas. As chacinas fazem parte da história do Brasil. Você pode lembrar Canudos e que o Coronel Moreira César prometeu que iria salvar as mulheres e crianças que se rendessem, mas assassinou todas. Do massacre contra crianças do exército paraguaio de Solano Lopes na Guerra do Paraguai “liderada” por Caxias. O massacre dos escravizados que se refugiaram em Quilombos e ao serem encontrados eram todos mortos. A chacina de todo o bando de Lampião e Maria Bonita decapitados e todas as cabeças expostas nos postes para servirem de exemplo. O assassinato de Guarani Kaiowá ou de trabalhadores Sem Terra em Eldorado dos Carajás mais recentemente. As chacinas e massacres fazem parte da história do Brasil desde que o primeiro português chamou essa terra de colônia de Portugal.

Há 45 anos, em 16 de dezembro de 1976 houve uma chacina que mudou a minha vida. A cada ano, em dezembro desde 1968 o Brasil tem duas tristes datas pra lembrar: a emissão do AI5 em 13 de dezembro de 1968 e em 16 de dezembro a Chacina da Lapa.

Talvez você não tenha ouvido falar da Chacina da Lapa. Lapa nesse caso é um bairro da cidade de São Paulo e chacina tirou a vida de 3 pessoas: João Drummond (preso, torturado e morto na véspera), Angelo Arroyo e Pedro Pomar. Outras foram presas Maria Trindade (militante responsável pelo aparelho), Joaquim Celso de Lima, Haroldo Lima, Wladimir Pomar e Aldo Arantes. Elza Monnerat e José Novaes estavam na reunião e conseguem fugir no momento da invasão. Ambos já tinham sido presos em outras oportunidades e Elza acaba presa novamente pouco depois.

Todos, com exceção de Maria, tinham em comum serem do Comitê Central do Partido Comunista que se reuniu em uma casa na Lapa. Eles e elas não sabiam que a reunião havia sido delatada à repressão da ditadura e seria invadida, pessoas seriam assassinadas, a cena seria modificada para as fotos da imprensa de forma a justificar os assassinatos por suposto confronto armado – exatamente como fazem com as chacinas nas favelas hoje – e os presos seriam torturados barbaramente.

Eu nasci em 06 de janeiro de 1976 e vivia na clandestinidade. No dia 17 de dezembro de 1976 eu era um bebê no colo de um pai e uma mãe que se preparavam pra “descer pra São Paulo” pra “cobrir um ponto”. Foram olhar o jornal e a foto de Pedro Pomar morto estava lá, na parte interna, no meio das notícias censuradas do Estadão. Por óbvio eu não lembro de nada disso e o que vou contar é baseado no depoimento da minha mãe. Eu queria que ela própria escrevesse sobre esses tempos, mas ela no auge dos seus 82 anos não quer ter esse trabalho e nem acha heroico o que fizeram: foram as consequências da vida que escolheram. Então vou colhendo fragmentos aqui e ali e registrando a história dela, a minha história, a história da luta pela democracia, uma pequena parte da história do Brasil.

Elenira Vilela é professora e sindicalista.

A opinião do/a autor/a não necessariamente representa a opinião de Desacato.info.

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