Cessar-fogo é bem-vindo, mas genocídio até quando?

Nota da Fepal.

Após 469 dias da maior e mais indecente matança que a humanidade já testemunhou, um cessar-fogo parece em vias de se concretizar. Isso se o primeiro-genocida “israelense”, o açougueiro de Gaza Netanyahu, não sabotar o acordo, como fez após o primeiro anúncio da trégua e ao longo dos últimos 15 meses de extermínio conduzido pelos assassinos de Tel Aviv e Washington contra o povo palestino em Gaza.

Colocando em números, chegamos a uma pausa no genocídio com 58.759 palestinos assassinados – 22.015 crianças, 12.998 mulheres, ao menos mil assassinadas grávidas. Considerando as mortes indiretas (The Lancet), a saber, não contabilizadas, podemos estar diante do massacre de 238 mil palestinos em 469 dias, ou 10,7% da demografia desta parte da Palestina. Os feridos são 116.695, 5,3% da população de Gaza. O Holocausto Palestino também é a maior chacina de profissionais de imprensa, saúde e trabalhadores humanitários de todos os tempos: 205 jornalistas palestinos assassinados, 1065 médicos mortos e outros 1300 feridos. Mais de 200 funcionários da ONU foram exterminados.

Diante da barbárie conduzida pelos genocidas em Gaza, é preciso dizer o óbvio: não há herói maior que o povo palestino. A população originária deste pequeno pedaço de terra entre o Mar Mediterrâneo e o Rio Jordão mostrou ao mundo, mais uma vez, o significado do ethos palestino Sumud (????), a perseverança inabalável palestina. Palestinos em Gaza, uma população pobre, trancafiada por décadas neste que é o maior campo de concentração e extermínio da história, 73% refugiados da Nakba, a limpeza étnica da Palestina entre 1947 e 1951, resistiu e segue resistindo à campanha de aniquilação executada por “israel” e financiada pelos gângster de Washington, Londres, Berlim e outras metrópoles coloniais e genocidas “ocidentais”.

Nada é capaz de quebrar o espírito dos palestinos. Em meio às bombas, fuzilamentos, fome e destruição integral de Gaza, persevera o povo palestino e sua capacidade de resistir ao extermínio para conquistar seu direito de retorno às terras de que foram expulsos. De enfrentar o sionismo e seu projeto colonial na Palestina autoproclamado “israel” – este turbinado pelo dinheiro e pelas armas das maiores potências militares do planeta — para derrotar a ocupação, o apartheid, o racismo, o supremacismo e a solução final desejada pelos sionistas aos palestinos.

Graças ao heroísmo do povo palestino, o Holocausto Palestino se torna o primeiro genocídio transmitido em tempo real da história. Palestinos filmando o próprio extermínio desnudaram o sionismo. A coragem destes palestinos permitiu ao mundo enxergar integralmente o que é “israel” e seu projeto colonial e genocida na Palestina. Há de se dar parte do “crédito” também aos próprios israelenses: aos líderes sionistas que gritaram aos quatro ventos sua intenção genocida e aos próprios soldados que, se refestelando em seu culto racista e supremacista, documentaram e publicaram nas redes sociais seus próprios crimes de guerra, exibindo como troféu as roupas íntimas das mulheres e os brinquedos das crianças que assassinaram. Nunca se viu tamanha degeneração, tanta desumanidade.

O objetivo declarado dos israelenses de recolonizar Gaza sucumbiu diante da resiliência do povo palestino. A máquina de propaganda goebbeliana sionista, a hasbará lapidada ao longo das últimas quase oito décadas para fazer “israel” e seu projeto genocidário e colonial na Palestina parecerem “normal”, colapsou na mesma velocidade em que desmoronavam os prédios de Gaza pelas bombas estadunidenses jogadas às toneladas pelos israelenses para destruir 95% da infraestrutura civil do enclave palestino e tornar impossível a vida neste território. Entre as covas coletivas de Gaza, jaz também o mito da invencibilidade “israelense”.

Verdade seja dita, há vitórias para “israel”, também: os sionistas venceram os genocidas do passado para tomar seu lugar na história como os maiores assassinos de todos os tempos e responsáveis pela mais insolente matança que a humanidade testemunhou. Igualmente digno de nota é o papel dos EUA, financiadores desse morticínio. Um genocídio estadunidense e “ocidental”. Joe Biden entra para a história como o líder ocidental que mais tempo no poder passou governando um genocídio, adiante até de Hitler.

Os gângsteres de Tel Aviv já deixaram claro a intenção de não cumprir o acordo e retomar a matança após a primeira fase prevista da trégua e não faltam motivos para acreditar nisso. Basta relembrar o histórico indecente de “israel” em não cumprir acordos e desrespeitar resoluções da ONU e dos tribunais internacionais. O cessar-fogo não é cessar-genocídio e será apenas uma nova etapa do Holocausto Palestino se não houver a responsabilização dos genocidas e suas prisões, o fim da ocupação, do apartheid e o estabelecimento de um Estado palestino livre e soberano, com retorno dos refugiados e com Jerusalém como sua capital.

Ademais, se após o cessar-fogo não se alcançar a desejada unidade palestina, acordada por todas as forças em julho passado, em Pequim, do qual resulte um governo de unidade nacional emergencial, inclusive para administrar e reconstruir Gaza, do qual resulte um autogoverno que leve ao Estado da Palestina, assim como ao desmantelamento do projeto sionista na Palestina e punição dos genocidas, este cessar-fogo será a reprise dos anteriores e a manutenção dos status quo. Se assim for, então “israel” terá vencido.

O cessar-fogo é bem-vindo e há de ser celebrado. Mas a questão central e estratégica ultrapassa o calar dos canhões: até quando seguirá o genocídio continuado do povo palestino?

Palestina Livre a Partir do Brasil, 17 de janeiro de 2025, 78º ano da Nakba.

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