Cercos. Por Roberto Liebgott.

Não bastam os subterfúgios ao negar o direito à terra, mitigando-o por migalhas prometidas da mesa dos ricos, há, ainda assim, de se ter os cercos.

Por Roberto Liebgott.

Não bastam as cercas que limitam e dividem, eles – fazendeiros, seus capangas e as forças de segurança – se armam e realizam cercos contra os povos indígenas.

Não basta a omissão e negligência dos que governam – em relação aos direitos originários – são necessários os cercos.

Não basta violentarem as famílias – mulheres, crianças, idosos – que apenas desejam respeito e a terra mãe, ainda assim, impõem-se a elas os cercos.

Não bastam as antipolíticas, através das quais nega-se assistência básica, vão bem além, e criam-se os cercos.

Não bastam as ações judiciais e as decisões espúrias contra os povos e suas lutas, precisam também dos cercos.

Não bastam as violências cotidianas, os ataques contra suas comunidades – contra os seus corpos – é necessário mais e promovem-se os cercos.

Não bastam os juízes, desembargadores e ministros decidirem, em geral, contra os povos indígenas, precisam dos cercos.

Não bastam os governantes negarem a demarcação dos territórios originários, os agressores querem sempre – sempre mais – e realizam os cercos.

Não bastam os tiros, os incêndios, as perseguições, o racismo e o preconceito, há ainda os cercos.

Não bastam os latifundiários e seus pistoleiros atormentarem a vida dos povos em suas aldeias, há ainda os cercos.

Não bastam os capitães do mato, que traem os seus irmãos e irmãs nas lutas por direitos e liberdade, os agressores ambicionam bem mais e criam os cercos.

Não bastam os poderes públicos, em conluio, buscarem a desterritorialização dos povos, há de se ter os cercos.

Não bastam os subterfúgios ao negar o direito à terra, mitigando-o por migalhas prometidas da mesa dos ricos, há, ainda assim, de se ter os cercos.

Não bastam as teses ilegais, a lei inconstitucional do marco temporal, eles precisam estabelecer os cercos.

Não basta a tortura psicológica contumaz e sistemática, eles, os genocidas do agronegócio, fazem cercos.

Não basta o silêncio, o apagamento, o isolamento e a negação dos direitos fundamentais, eles – os de cima da pirâmide – criam os cercos.

Não basta a satisfação de fazer sofrer, espezinhar, maltratar, agredir, caçar como se bicho fossem, há, somando-se a isso tudo, os cercos.

Até quando?

Porto Alegre (RS), 26 de julho de 2024.

 

A opinião do/a/s autor/a/s não necessariamente representa a opinião de Desacato.info.

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