As novas regras implementadas para financiamento e exposição em locais patrocinados pela Caixa Cultural prometem censurar artistas a partir de seus posicionamentos políticos. É o que dizem diversas matérias publicadas na última sexta-feira (04/10), quando as regras da Caixa foram anunciadas.
A Instituição, de caráter público, reverte parte de seu lucro para o financiamento de ações de cultura, que, segundo Jair Bolsonaro, serão melhor aplicadas para “preservar valores cristãos”, negando que a alteração tenha intenção de censura. A Instituição já foi processada pelo Ministério Público nesse mês por cancelar a peça “Abrazo”, em Pernambuco.
Sempre restam dúvidas se o que falta ao presidente é inteligência ou vergonha na cara. Obviamente, como qualquer dicionário definiria (mas pelo hábito contemporâneo, a busca google é suficiente), a censura é qualquer ato de restrição de circulação de informação, cultura ou publicação baseada em critérios morais ou políticos.
A censura à arte tem sido tema constante na atual conjuntura nacional, e isso não é a toa. Em todos os momentos de tensão social, mudança de tempos e polarização política, alguns artistas foram porta-vozes de anseios de massas e mensageiros de novos tempos. A arte também carrega em si – para o temor dos poderosos – a capacidade única de dizer o que sente, o que se vive, apontar inimigos, das formas mais sutis às mais radicais, provocando revolta através da sensibilidade, do riso e das lágrimas.
É por isso que para Crivella era importante conseguir censurar a HQ LGBT, para Bolsonaro, Damares Alves, João Dória, entre tantos reacionários, a censura aos artistas é tema de primeira ordem. O grave da atual medida é que vai para muito além de um gibi, instala pela primeira vez desde a ditadura um sistema de veto e censura que, ao se implementar, abre as portas para que instituições inteiras apliquem seus próprios regulamentos ostensivos.