As comparações entre a situação de hoje e aquela imposta pelo golpe civil-militar de 1964 mostram que há muitas semelhanças. Esconder números oficiais é uma delas. Na outra ditadura, o governo proibiu a mídia de informar sobre o surto de meningite que ocorreu em São Paulo. Com isso, causou inúmeras mortes.
Hoje o governo esconde o assombroso número de mortes causadas pelo coronavírus, tenta por meio da censura camuflar a sua participação nesses crimes. Em boa hora, um conjunto de empresas de comunicação resolveu buscar as informações em outras fontes, desprezando essas do governo.
Na ditadura de 64 isso seria impossível, o que não quer dizer que a situação de hoje seja melhor. O que diferencia 1964 de 2016 está na forma do golpe e não no seu conteúdo. Aquele foi imediato, do dia para noite literalmente, aprofundado depois de 1968 com a edição do Ato Institucional número 5. Este de agora é lento e gradual, vai se aprofundando com o passar do tempo.
As ameaças à liberdade de expressão crescem. Os ataques mais recentes dirigem-se aos cartunistas, cronistas brilhantes do cotidiano. Contra quatro deles levantou-se uma obscura associação de policiais e militares de São Paulo. Sem poder negar a violência característica dessa corporação historicamente obsoleta, partiram para a ameaça de censura aos artistas. Eles não se conformam com a realidade mostrada por imagens como essas.
Vejam aí as mensagens da Laerte, do Alberto Benett, do Cláudio Mor e também do João Montanaro. Falam muito mais do que mil palavras, retratam com precisão a ação violenta das polícias brasileiras, uma das maiores tragédias nacionais:
Quase ao mesmo tempo, o Ministério da Justiça aciona a Polícia Federal e o Ministério Público para atacar outro cartunista, Aroeira, um dos mais respeitados do país, e o jornalista que publicou na sua página do Facebook o cartoon do Aroeira (que abre este artigo). Ele provocou chiliques no Presidente da República. É, meus amigos, a verdade dói. São imagens que lá na frente servirão no futuro para ilustrar com fidelidade a história do nosso tempo.
Infelizmente, não se pode dizer o mesmo de todo o jornalismo comercial brasileiro. Os ataques ao Supremo Tribunal Federal mudaram de tom neste último final de semana. Passaram do verbal para o material. Até sábado era a verborragia dos filhos do presidente, ameaçando a Corte com cabo e dois soldados, até as disparadas das notas golpistas de militares de pijama, que não tem outra coisa a fazer do que atentar contra a democracia.
Mas na noite do sábado a coisa mudou. Fogos de artifício foram lançados sobre o prédio do Supremo Tribunal Federal, com o prenúncio de ações mais violentas.
E o que fizeram em relação a esses ataques violentos os jornais e as tvs?
Foram ouvir, uma pauta assim não muito interessante, o que pensavam três ex-presidentes da República sobre esse ataque inusitado ao Estado brasileiro. Foram fazer isso, tinham que fazer com todos. Ouviram três deles, Sarney, Temer, o golpista, e Fernando Henrique. Esqueceram, entre aspas, de Lula e Dilma, que governaram o país por quase 14 anos. Uma seleção editorial dessa mídia que se confunde com censura, colabora com a desinformação que dizem combater. Como de costume, infelizmente, não.
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