Por Emanuel Medeiros Vieira.
Carta aberta a um amigo (e compadre) querido
Dileto Paulão
Não somos “mornos”.
Não somos sepulcros-caiados.
Eu sei: sempre damos a cara ao tapa.
Isso tem um preço.
Muitos se omitiram (claro, outros combateram) a ditadura brasileira.
Mais cedo, quantos se abstiveram de combater o ovo na serpente que era o nazismo?
Ou o fascismo?
“Não, não te mete, vai dar problema”, diziam.
E a sombra do medo entrava nos corações e mentes.
No tempo tão finito de nossas vidas – com todas as pedreiras do caminho – é possível deixar algo além da poeira do tempo.
Por que escrevo assim?
Redigi um texto que intitulei de “A nova direita brasileira”, e um blog o postou.
O ser humano se engrandece pelo contraditório, pelo combate através do diálogo.
Não sou onipotente. Poderiam combatê-lo, contestando tudo o que disse.
Não. A nação petista que o leu ficou irritada e exasperada.
Mas não escreveu algo que o contraditasse.
Alguém o classificou de “lastimável”.
Lastimável?
Em vez do adjetivo, não era melhor contestá-lo?
São mentiras o que eu disse?
Exemplos:
Eu escrevi disse (ou melhor, eu “lembrei”) que a executiva do PT, que age com mão de ferro contra os dissidentes, dissolveu o diretório regional do Maranhão, obrigando o apoio do partido à “socialista” e “impoluta” Roseana Sarney, candidata ao governo daquele Estado.
Mentira?
Lastimável não é o meu texto.
Mas o que o partido está fazendo.
Lógico: a verdade mesmo libertando, incomoda quem não a quer ver.
O PT não está aliado à elite escravocrata nordestina?
É mentira?
Quem são Fernando Collor e Renan Calheiros?
Aqui na velha Bahia, o governo que foi eleito combatendo o carlismo, trouxe crias de ACM para sua chapa, e alijou da maneira mais cruel um político honrado como Waldir Pires.
É mentira?
Num estado com tantas carências e tanto sofrimento, o governador petista gasta em propaganda muito mais do que em saúde, educação e segurança juntos.
É demais!
Sinceramente: eu nunca vi tanta propaganda na vida.
É um delírio narcísico!
É um mundo virtual.
É só andar por Salvador para ver que ele não existe na realidade.
E “mentem”. Sim, mentem.
Parece que aprenderam como um ministro de um chanceler austríaco que fez rápida carreira na Alemanha nos anos 30.
(À História cabe revelar o que aconteceu.)
Ele dizia que uma mentira repetida dez vezes vira uma verdade.
Eu disse que o programa eleitoral do PT não estima a reflexão, mas foi criado a peso de ouro para manipular as emoções mais primárias, como se fosse uma novela.
Pagam rios de dinheiro a marqueteiros, que formam uma nova casta nacional na arte de enganar e de mentir. Não querem politizar o debate.
Vão ganhar as eleições?
E daí?
A gente não entra numa batalha só para ganhar.
Imagino, na partilha do poder, o que vai acontecer com essa aliança franciscana e edificante: PT e PMDB.
O partido que foi de Ulysses, não é guloso, mas idealista; não luta só por cargos.
Não é um balcão de negócios, mas aspira à transformação da sociedade brasileira..
Tem estadistas do porte de Geddel Vieira Lima, de Jáder Barbalho, de Romero Jucá, de José Sarney e de outros.
(Além dos supra-citados Collor e Renan.)
É mentira?
É o meu texto que é “lastimável”?
Ou esse tipo de aliança?
Eu sei o que vão dizer.
“E as outras alianças?”, indagarão.
Será que o mesmo álibi será repetido a vida inteira?
Eu?
Só tenho duas mãos e o sentimento do mundo, como dizia Drummond.
Não vou me alongar.
Não tenho outro poder, senão o de buscar dizer a verdade
diariamente naquilo que escrevo.
Pode parecer romântico e espiritualista, mas desde que optei pelo ofício, creio que a literatura é um caminho de transcendência.
(E no meu coração, espero que o Espírito um dia prevaleça.)
Toda a escrita é também uma oblação, algo que se oferta aos outros.
Eu sei: muita gente muda, e m a maior parte dos que mudam é da esquerda para direita. Afinal, é mais confortável ser a favor dos fortes que dos fracos.
É preciso conservar a fidelidade a si mesmo.
Como alguém lembrou, no dia do Calvário, a massa aplaudia a causa triunfante dos crucificadores, mas o Cristo, solitário e vencido, era a causa de Deus.
Com a sincera estima do Emanuel – escrevendo da terra de Castro Alves, de Anísio Teixeira, de Glauber Rocha, de Raul Seixas e de outros iluminados, “possuídos” pela ira sagrada da Justiça.
(Salvador, 25 de agosto de 2010)