Carta do Timbó Grande, Contestado, Santa Catarina

    Nós, representantes do povo, professores, estudantes, pesquisadores e comunidade timbó-grandense, reunidos entre os dias 30 e 31 de março e 01 e 02 de abril de 2015, na Semana do Centenário do Massacre de Santa Maria, em Timbó Grande, Santa Catarina, num evento de rememoração do Centenário da Guerra do Contestado, promovido pela Prefeitura Municipal, Câmara de Veradores, Secretaria Municipal de Educação e Cultura e Observatório do(s) Centenário(s) da Guerra do Contestado, preocupados com o estado e situação da conservação dos acervos documentais pessoais e públicos, sítios históricos de memória, em espaços públicos e particulares, patrimônio material e imaterial e das populações remanescentes da Região e da Guerra do Contestado, alertamos a sociedade civil timbó-grandense, contestadense, catarinense e brasileira e proclamamos as autoridades e os poderes públicos, Executivos, Legislativos, Judiciários, nas escalas municipais, estaduais e da União, incluíndo os órgãos públicos de defesa e atuação sobre o patrimônio material e imaterial, assim como o Ministério Público Estadual e Federal, para: a) iminente implantação de políticas públicas advindas das três esferas federativas, na área de saúde, educação, mobilidade e terra (o bem máximo marcante da Guerra dos antepassados do Contestado), para a população remanescente da Guerra do Contestado, como forma de pagamento de dívida histórica aos cidadãos e cidadãs que, por mais de um século, vem se mantendo no limite dos benefícios da sociedade contestadense, catarinense e brasileira, argumentando que as localidades e núcleos populacionais dos progênitos da Guerra do Contestado na Serra Acima Catarinense, na sua maioria, apresentam os mais baixos índices de desenvolvimento humano do Brasil Meridional – isso considerando os dados e as avaliações dos órgãos oficiais; b) a improrrogável salvaguarda dos locais de memória patrimonial material e imaterial, além de políticas públicas de convivência das populações tradicionais com as sociedades contemporâneas que os envolvem; c) resguardo público, nas três esferas da federação, dos locais sagrados da fé cabocla e contemporânea, sobremaneira dos locais frequentados pelos fiéis devotos das tradições de São João Maria, em Timbó Grande, no Contestado e nos demais espaços sagrados do Monge do Povo do Contestado em Santa Catarina, no Paraná, no Rio Grande do Sul, assim como noutros locais de devoção do Monge do Contestado, no Brasil – incluíndo as águas santas, as grutas, as capelas, as ermidas, os cruzeiros etc.; d) tutela estatal, nas três esferas da federação, dos sítios dos antigos redutos, das guardas, dos cemitérios; dos locais de combates, dos monumentos, dos locais de cultos e venerações etc.; e) resguardo institucional, regeneração e sustentação dos locais de visitação, cultos, convivência, fé e pesquisa científica no território do Contestado; f) inexoravel localização, preservação, conservação, guarda e colocação à disposição dos pesquisadores, os acervos existentes nos municípios, nos estados e no governo federal, tanto de ordem pública quanto privada – incluindo, documentos, imagens, prosas, poesias, orações, partituras, pinturas, esculturas, adereços, objetos museológicos, depoimentos orais, peças de teatro, audiovisuais, principalmente os que possuem ligação com a Guerra do Contestado e, mais extensivamente, sobre o modo de vida regional, a sociedade, a cultura e o comportamento dos habitantes planaltinos do Sul do Brasil; g) de imediato e urgente, a criação de um hospital regional para atender as demandas de saúde dos municípios planaltinos da Região do Contestado, criação de uma Universidade pública e gratuita para os municípios planaltinos da Região do Contestado, criação de um museu histórico estadual nos moldes e técnicas do Museu Histórico de Santa Catarina, em tamanho e densidade, para salvaguardar o patrimônico histórico material e imaterial da Guerra do Contestado; h) ampliação e melhoria da rede viária regional, dilatando, desta forma, o processo de desenvolvimento regional; i) políticas públicas emergenciais na infraestrutura regional – energia, água, transporte, saúde, educação etc. para os municípios que apresentam as maiores mazelas infraestruturais e sociais da Região da Guerra do Contestado – Timbó Grande, Matos Costa, Calmon, Santa Cecília, Bela Vista do Toldo, Lebon Régis, Monte Castelo e Major Vieira.

                Afiançamos que é nossa obrigação, como representantes do povo, professores, estudantes, pesquisadores e comunidade contestadense, catarinense e brasileira salientar os infortúnios acima para que nos próximos 50 ou 100 anos, quando a sociedade rememorar o sesquicentenário e o bicentenário da Guerra do Contestado não precise explicitar e se lastimar pela perinidade da conjunção de marginalidade vivida pela população descendente e remanescente da Região e da Guerra do Contestado, que deu seu suor, seu sangue, seu trabalho, no passado e no presente, para a edificação da Nação Brasileira. Emanados no hino do estado de Santa Catarina vociferamos, “Quebram-se férreas cadeias. Rojam algemas no chão. Do povo nas epopeias. Fulge a luz da redenção (…) Pela força do Direito. Pela força da Razão. Cai por terra o preconceito. Levanta-se uma Nação”. Que o Timbó Grande e que o Contestado encontrem sua remição nesse Centenário do Massacre de Santa Maria, que cobriu de sangue a região, o estado e a República, envergonhando toda a humanidade!

     Timbó Grande, 30 de março de 2015.

    100 anos do Massacre de Santa Maria.

    Assinam: O Povo do Timbó Grande, os representantes do Povo, os professores, os estudantes e demais presentes. Carta aprovada por aclamação na Sessão Solene de Memoração dos 100 anos do Massacre de Santa Maria – Centenário da participação de Timbó Grande no Centenário da Guerra do Contestado – autoridades, população e convidados na Câmara de Vereadores de Timbó Grande – a Casa do Povo nesse torrão do Contestado!

    3 COMENTÁRIOS

    1. Fico feliz em saber que mantem-se vivo na região, a memória da Guerra do Contestado, História que poucos sabem. Infelizmente ainda ocupa um espaço muito pequenos nos livros de História.

    2. Prezadxs Amigxs do Desacato,
      agradeço a divulgação dessa Carta do Timbó Grande, que aprovamos por aclamação no Centenário do Massacre de Santa Maria, nos dias finais das ofensivas do Exército sobre o Povo do Contestado, no mesmo pedação de chão que vertia sangue em abril de 1915. Abraços!

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