Carta de Patrice Lumumba a sua esposa

Patrice Lumumba (Foto: Reprodução)
Patrice Lumumba (Foto: Reprodução)

Minha querida esposa,

Eu estou escrevendo estas palavras a você, não sabendo se elas um dia chegarão em suas mãos, ou se estarei vivo quando você as ler.

Ao longo da minha luta pela independência de nosso país nunca duvidei da vitória de nossa causa sagrada, da qual eu e os meus companheiros temos dedicado todas as nossas vidas.

Mas a única coisa que nós queremos para o nosso país é o direito a uma vida digna, a dignidade sem pretensões e a independência sem restrições.

Isso nunca foi o desejo dos colonialistas belgas e de seus aliados ocidentais, estes que receberam, direta ou indiretamente, aberta ou secretamente, apoio de alguns oficiais dos cargos superiores das Nações Unidas, o corpo sobre o qual nós colocamos toda a nossa esperança quando recorremos a ele para obter ajuda.

Eles seduziram alguns dos nossos compatriotas, compraram outros e fizeram de tudo para distorcer a verdade e manchar nossa independência.

O que eu posso dizer é o seguinte, que eu, – vivo ou morto, livre ou preso – não é o que importa.

O que importa é o Congo, nosso povo infeliz, cuja independência está sendo espezinhada.

É por isso que eles nos trancaram na prisão e por esta razão eles mantêm-nos longe do povo. Contudo, minha fé continua indestrutível.

Eu sei e sinto profundamente em meu coração que mais cedo ou mais tarde meu povo irá se livrar de seus inimigos internos e externos, que eles levantar-se-ão como um só e dirão “Não!” ao colonialismo, a fim de conquistar sua dignidade em uma terra livre.

Nós não estamos sozinhos. A África, Ásia, os povos livres e os povos que lutam pela sua liberdade em todos os cantos do mundo estarão sempre lado a lado com os milhões de congoleses que não desistirão da luta enquanto houver um colonialista ou um de seus mercenários em nosso país.

Para meus filhos, que eu estou deixando e que, talvez, não os veja novamente, eu quero dizer que o futuro do Congo é esplêndido e que eu espero deles, assim como todo congolês, o cumprimento da tarefa sagrada de restaurar a nossa independência e nossa soberania.

Sem dignidade não há liberdade, sem justiça não há dignidade e sem independência não existem homens livres.

Crueldade, insultos e tortura jamais poderão forçar-me a implorar por misericórdia, porque eu prefiro morrer de cabeça erguida, com uma fé indestrutível e uma profunda crença no destino de nosso país, do que viver submisso e renunciar aos princípios que são sagrados para mim.

O dia virá quando a história falar. Mas não será a história que será ensinada em Bruxelas, Paris, Washington ou nas Nações Unidas.

Será a história que será ensinada nos países que terão se libertado dos colonialistas e de seus fantoches.

A África irá escrever sua própria história e tanto no Norte como no Sul será uma história de glória e dignidade.

Não chores por mim. Eu sei que meu atormentado país será capaz de defender sua liberdade e sua independência.

Vida longa ao Congo!

Vida longa à África!

Fonte: Nova Cultura.

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