Carta Aberta sobre os problemas políticos do mandato da Coletiva Bem Viver em Florianópolis

O Movimento Bem Viver, fundado nacionalmente em outubro de 2021, vem a público trazer nitidez aos problemas políticos acontecidos em relação ao mandato de vereança em Florianópolis, que culminaram no desligamento de parte da equipe de gabinete na última semana e na decisão de covereadoras deixarem a construção do mandato.

A Candidatura do Mandato Coletivo para Florianópolis foi decidida coletivamente há 71 dias das eleições de 2020. A estratégia por trás da forma e as diretrizes que compuseram o conteúdo já haviam sido desenhadas nacionalmente, subsidiadas pelos acúmulos de camaradas do Distrito Federal que construíram a primeira candidatura coletiva lançada em 2018 para o cargo de Co-Deputades Distritais do Distrito Federal. Essa primeira experiência de outra região trouxe a bagagem que guiou a construção e formulação da candidatura para vereança em Florianópolis. Os responsáveis por essa formulação seguem hoje construindo o Movimento Bem Viver conosco nacionalmente.

A proposta e a estratégia se mostraram acertadas, pois, somadas aos acúmulos e construções territoriais anteriores, vencemos as eleições em 2020. Ocorre que o primeiro mandato coletivo eleito em Santa Catarina enfrentou graves dificuldades e desvirtuamentos durante os dois anos que passaram, entre os quais podemos destacar os seguintes:

Desvirtuamento da Estratégia: colocou-se o foco na institucionalidade, com parte das pessoas não atendendo a construção territorial e até a luta social mais concreta (algo que discordamos totalmente). Essa estratégia de mandato em movimento, em luta e construção dedicada às lutas sociais nos terrritórios foi o compromisso feito na eleição de 2020 e que em 2022 mostrou mais uma vez sua força política, pois a plataforma semelhante na Mandata Feminista Bem Viver obteve nas últimas eleições 3.248 votos em Florianópolis e 7.137 votos no estado em uma construção que contou com mulheres indígenas, negras, LGBTQIA+, migrantes e outros setores fundamentais com os quais temos construção orgânica.

Instrumentalização descompromissada do gabinete: faltando com assessoria e apoio para a função parlamentar mesmo em momentos críticos em que a Porta Voz foi alvo da extrema-direita e da violência política de gênero, distorcendo prioridades e focando a atuação nas pequenas disputas internas por representatividade nos espaços e não realizando um trabalho concreto condizente com a responsabilidade e compromisso que se espera de um mandato do PSOL. Durante dois anos, o mandato foi hegemonizado e instrumentalizado para práticas direcionadas a uma organização específica, o que discordamos.

Boicote do próprio mandato: promovendo uma rivalidade com a Porta Voz do mandato, boicotando, agindo com morosidade e burocratizando iniciativas que não partissem de seu grupo político e até deixando de realizar ações importantes pela Coletiva com a justificativa de que traria benefício em visibilidade e força política para a Porta Voz, mostrando que uma ação que é boa para a sociedade deixa de ser boa para determinadas pessoas e grupos se trazem visibilidade para quem não desejam. Quebra reiterada de acordos: realizando ampla campanha difamatória interna e externa e de agressão política contra a Porta Voz do mandato, praticando assédio e constrangimento cotidiano no ambiente do gabinete a ponto de levá-la ao adoecimento e afastamentos por questões de saúde mental, e realizando várias ações de difamação contra o Movimento Bem Viver e seus militantes, inclusive de aproximação recente, buscando inviabilizar as construções do movimento e até sua candidatura em 2022. Essas ações foram realizadas de forma reiterada por pessoas da organização política que rivalizava com o Movimento e a Porta Voz, de dentro e fora do gabinete, com a conivência e até a participação de covereadoras.

Chegando agora à metade da duração do mandato, após quase dois anos de tentativa de negociação sem sucesso, compreendemos que a composição da assessoria atual do gabinete havia chegado ao seu esgotamento. Essa situação insustentável cobrou um preço muito alto da saúde física e mental da nossa militante, figura pública de maior alcance naquela composição, que foi consistentemente alvo de ataques, calúnias e agressões, tendo que ser afastada do mandato por questões de saúde mental em duas ocasiões. Entendemos que, como Movimento Bem Viver, temos responsabilidade de garantir as condições para que o adoecimento causado por essa tarefa militante não continue e ela possa seguir exercendo sua militância política de forma segura.

As mudanças no gabinete foram necessárias para garantir a execução da estratégia eleita, interromper as ações de boicote e garantir os acordos mínimos de convivência. Mesmo com as relações de confiança rompidas, ainda assim buscamos uma proposta que manteria as covereadoras atuando de forma remunerada até o final do mandato.

A definição de reorganização e proposta de acordo para manutenção das covereadoras foi apresentada em uma reunião com a Executiva do PSOL no dia 09 de novembro de 2022 com a presença inclusive do presidente do partido no município, buscando que elas analisassem e indicassem que tinham acordo para seguirmos a construção parlamentar até o final do mandato. Porém, no dia 11 de novembro de 2022 recebemos a notícia pelas redes sociais de que as covereadoras estavam rompendo com a construção do mandato, estavam desautorizando a utilização do nome da coletiva eleita e fazendo acusações e ataques, inclusive na imprensa e negando mais uma vez o acesso à página do mandato (algo que já havia acontecido anteriormente), utilizando-a mais uma vez para os fins de seus objetivos pessoais e sua organização política.

Apesar de toda essa situação, reiteramos que fizemos o máximo esforço para manter a participação e lamentamos que as covereadoras não tenham aceitado essa reorganização e tenham decidido romper com o mandato. Repudiamos o método de fazer esse debate através da imprensa e redes sociais, distorcendo os acontecimentos sobre os quais temos fartas evidências.

O Brasil elegeu dezenas de mandatos coletivos desde 2016 e a maioria das experiências foram muito boas. Apesar disso, essa não é a primeira experiência que tem problemas no Brasil. Ainda assim, queremos fazer dessa a primeira experiência de reorganização pública e militante de um mandato coletivo. A partir da saída das covereadoras (algo que não era de nossa vontade e que nos esforçamos para mediar e evitar), nos comprometemos a reorganizar a estrutura para se manter o formato de mandato coletivo de mulheres revolucionárias com paridade racial e construção com representantes dos povos indígenas, LGBTQIA+, mulheres negras e periféricas com enraizamento real e disposição de luta. Seguiremos fiéis aos princípios do Bem Viver e à estratégia ecossocialista para resistir no nosso tempo e construir uma nova sociedade.

A transformação que sonhamos para ser alcançada não pode ser interrompida, boicotada, ou adiada. E não será! O compromisso do Movimento Bem Viver com o povo de Florianópolis, Santa Catarina, Brasil e mundo segue cada dia mais firme dentro e fora da institucionalidade até a Revolução!

Movimento Bem Viver

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