Carta 6 – De Atahualpa para Katty

Oi, Katty,

Depois de amanhã eu vou fazer 11 anos. A Urda esteve me contando de novo, nesta semana, o que aconteceu: onze anos atrás eu era um bebezinho todo molhadinho, dentro da barriga daquela mamãe da qual não me lembro, e aí chegou o dia de eu nascer e eu nasci, com outros irmãozinhos. Fico todo bobo quando a Urda me conta como eu era, beiçudinho e já com fome, andando pela barriga da mamãe à procura de uma fonte de leitinho quente, e fico muito emocionado e paro tudo para prestar atenção enquanto ela conta tais coisas, pois deve ter sido muito fascinante mesmo fazer mommm mommm mommm tomando o leite da mamãe, e a Urda imita tão bem! Gosto mesmo de ouvir essa história – e também a continuação dela. Um dia eu já não precisava mais mamar e então fui levado para aquela agropecuária onde a Urda me achou e me levou para a vida dela. Daí para a frente você já sabe. Tirando algumas coisas graves, como quando a caminhonete passou em cima de mim no estacionamento do Angeloni, e eu não quebrei nenhum osso e nem furei qualquer órgão interno, acho que tenho sido um cachorro bem feliz, que já passeou por muitas cidades, escolas e universidades, e até foi a um lugar longínquo como o Rio Grande do Sul. Agora ando pouco por aí, pois aos 11 anos já não sou mais um cachorro novo e tenho algumas manias, além de ficar muito cansado quando faço muitas coisas. Nem às reuniões do PT eu tenho ido mais.

A nossa casa nova é muito legal e tem uma porta de cachorro, e eu e os manos podemos ir para fora e para dentro quantas vezes queiramos, até mesmo em dias de chuva. Aqui, além da praia e dos dois pomares, tem uma floresta contígua, e se está muito quente, ao invés de ir para a praia vamos passear na floresta, onde a Urda aproveita para comer amorinhas silvestres vermelhas, e nós fazemos xixi por tudo. Outros cachorros da rua vão junto, e é uma festa ir lá!

Estaria tudo 100% se não fosse o sumiço da Manuelita Saens, já faz uns 12 dias. Nós sempre temos alguma esperança de que ela volte, mas a Urda até já conversou com a veterinária e não há muito o que esperar. A veterinária descartou a possibilidade de que pudesse ter sido veneno, e falou em coisas como infarto e até predadores. Sabe como é, aqui é a beirada da Reserva Ecológica do Parque da Serra do Tabuleiro, e Manuelita sempre foi uma gata muito independente, andando preferencialmente nos matos. Ouvi a Urda dizer: “Que tenha sido rápido e sem dor”, mas depois ela chorou uma tarde inteira. Ainda bem que ficou o livro dela.

Katty, era só para contar isto. No mais, tenho visto todo o mundo um pouco nervoso por causa das eleições, e a Terezinha de Blumenau veio aqui e trouxe um pacote de ossos de churrasco de igreja para mim. Que querida, né?

Minha amiga Antônia vai bem e andou até comprando brinquedos especialmente para mim, que ficam lá na casa dela. É uma fofa, e quando vou lá, volto entupido de tanto biscoito!

Fiz exames por causa da idade mas continuo um cachorro jóia, brincador, corredor, galopador e até nadador. Todos os cachorros da redondeza me obedecem. Sou um cão feliz!

Deixo um abraço e muitas lambidas, 

Atahualpa Klueger 

Escrito no Sertão da Enseada de Brito em 30 de setembro de 2018, por Urda Alice Klueger.

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.