Com a nomeação do general Eduardo Pazuello para o Ministério da Saúde e a grande presença de militares em ministérios e outros cargos de confiança, as Forças Armadas reforçam a associação de sua imagem ao governo Bolsonaro. Para o cientista político Claudio Gonçalves Couto, isso será um problema para eles.
“A carnificina da pandemia que o governo Bolsonaro ajuda a aumentar vai ficar como estigma para os militares que se associaram a esse governo “, afirmou Couto, em entrevista à Rádio Brasil Atual. O governo Bolsonaro já conta com nove ministros da ala militar. Para o especialista, isso é uma demonstração de isolamento político do presidente, que sofre com a falta de apoio do Congresso Nacional.
“Os militares, além de serem uma tábua de salvação para o governo, atuaram para eleger o Bolsonaro. Vale lembrar das declarações do general Villas-Boas sobre a decisão do STF no caso do ex-presidente Lula. Isso tudo interfere no processo em que estamos. O vice-presidente da República também é um general”, acrescentou o professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Caso Queiroz
O jornal Folha de S. Paulo publicou, nesta quinta-feira (21), que a defesa de Fabrício Queiroz, amigo de Jair Bolsonaro e ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro, foi informada, em agosto de 2019, sobre a existência de um inquérito sigiloso da Polícia Federal no Rio de Janeiro que mencionava o policial militar aposentado. O presidente, naquele mesmo mês, decidiu demitir o então chefe da superintendência da corporação no Rio e chegou a tentar emplacar um nome de sua escolha.
Cláudio Couto classifica a reportagem como mais um escândalo envolvendo o presidente. “Isso mostra a politização e partidarização da Polícia Federal”, lamentou. “O presidente da República é o principal interessado nessa investigação e nomeia os investigadores, ou seja, Bolsonaro pode interferir nessa investigação. O que é uma gravidade absurda e configura mais um crime de responsabilidade”, alertou o professor.
Impeachment
Também nesta quinta, será dada entrada de um pedido coletivo de impeachment do presidente Jair Bolsonaro. A ação é apresentada por sete partidos políticos e endossada por grandes nomes do meio jurídico como Celso Antônio Bandeira de Melo, Lenio Streck e Pedro Serrano.
Para o cientista político, é fundamental a articulação da comunidade jurídica, pois referenda o processo formal. Por outro lado, ele acredita que ainda não há condições políticas para dar início ao processo.
“Eu entendo que a demora do Rodrigo Maia se dá por estratégia política, para não ‘queimar a largada’. O contexto político atual não é simples. O Congresso não consegue se reunir fisicamente, com uma agenda pesada por causa do coronavírus, e ainda há a possibilidade do adiamento das eleições municipais. Se entra um impeachment em meio a essa agenda, ele pode morrer no meio do caminho”, explicou.