Por Lilian Campelo.
As influências culturais indígena, negra e ibérica estão presentes nos instrumentos, na dança e na música
É o som do tambor que marca a sonoridade do carimbó. Para além de um ritmo, ele expressa a identidade cultural, artística, social, ambiental e histórica da região amazônica no estado do Pará.
O nome carimbó deriva do instrumento de percussão indígena chamado de curimbó, que na língua Tupi quer dizer pau oco. O curimbó é feito de um tronco de árvore escavada e possui uma das extremidades coberta por couro de boi, veado ou outro animal.
Existem ainda outros instrumentos que acompanham o gênero musical, como um par de maracás, milheiro – instrumento de zinco e que produz um som parecido ao do maracá – banjo, pandeiro, sopro – podendo ser uma flauta, clarinete ou saxofone.
Os músicos ficam ao redor dos curimbós. Os batedores, denominação dada àqueles que tocam o curimbó, sentam-se sobre os tambores e com as mãos tocam o instrumento que emite um som grave e que dita o ritmo e a dança.
A manifestação traz em seu bojo as influências culturais indígenas, africanas e portuguesas. O canto, a música, a dança e a formação instrumental foram tradicionalmente transmitidas pela oralidade, com forte presença no nordeste do Pará, nas cidades de Marapanim e ilha do Marajó, conhecidas como região do salgado.
As letras das músicas, em geral, tratam do cotidiano do caboclo ribeirinho, do trabalho do agricultor e do pescador, mas também cantam sobre elementos da fauna e flora da região. Os compositores costumam ser agricultores ou pescadores, moradores do interior do Pará, de comunidades ribeirinhas e rurais da Amazônia.
A dança que acompanha o ritmo possui uma coreografia marcante, os passos são miúdos, e o casal dança de forma cíclica, como uma dança de roda, sem haver um contato físico.
Em 2014, o carimbó foi reconhecido como patrimônio cultural imaterial brasileiro pelo Iphan – o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Esta foi uma conquista de muitos grupos de carimbó, artistas e mestres que tiveram suas tradições culturais reconhecidas, como o mestre Verequete – que acabamos de ouvir um trecho da música. Ele é considerado um dos mais importantes do ritmo, devido à sua trajetória pessoal voltada para a composição de músicas de carimbó no estilo tradicional, o pau de corda.
Considerado o rei do carimbó, Augusto Gomes Rodrigues, nome de batismo do mestre Verequete, completaria 100 anos no dia 26 de agosto de 2016. Esta data, em Belém, é comemorado o Dia Municipal do Carimbó.
O mestre foi inspiração de muitos outros artistas como Pinduca, Nazaré Pereira, Dona Onete – que escutamos há pouco –, que conquistaram projeção nacional. Mas ainda existem diversos grupos de carimbó e mestres do ritmo que também contribuem com a preservação da memória coletiva e da identidade cultural do povo paraense.
Edição: Vivian Fernandes