Não há nada de voluntário no capitalismo. Não há “liberdade” nele. Tudo vira mercadoria. Nós somos mercadorias, somos parte dos meios de produção. No sistema capitalista, somos meros agentes em prol do capital.
A ordem capitalista que substituiu a ordem feudal na maioria dos países era ditatorial. A classe mais alta entre as classes dominadas pela monarquia absolutista era a burguesia, e esta classe ao assumir a direção econômica da sociedade, tornando-se a classe dominante, centralizou os meios de produção, hierarquizou as relações de trabalho (principalmente após o processo da Revolução Industrial) e excluíram as outras classes do direito à livre produção, iniciativa e trabalho, roubando-lhes a terra, os meios de produção e a autonomia sobre os seus próprios tempos livres.
Dito isto, não há como acreditar que após centenas de anos de ditadura de uma classe sobre as outras, de uma acumulação cada vez maior de capital nas mãos de grandes banqueiros, industriais e na enorme concentração de terras que se construiu sob a lógica capitalista, simplesmente teríamos um livre mercado através da redução das poucas regulações jurídicas e tributárias que ainda recaem sobre o grande empresariado, a tendência é a lei do mais forte prevalecer, ou seja, grandes empresas engolindo as pequenas sejam no maior investimento em marketing para persuadir e construir uma identificação com a marca no inconsciente do consumidor ou na desigual produtividade que há entre os fabricantes, já que os grandes têm mais possibilidades de criar um número maior de estabelecimentos e ofertar e vender infinitamente mais produtos.
E como podemos ter uma troca livre e voluntária se vivemos OBRIGATORIAMENTE de acordo com um modelo socioeconômico estabelecido, onde a classe que historicamente se apoderou dos meios de produção obriga o proletariado a vender a sua força de trabalho sob o risco de morrer de fome, e cria outra classe, mais conhecida como pequena-burguesia, para trabalhar no processo administrativo visando à aceleração e organização da produtividade?
Tudo acaba girando em torno de uma classe, que devido ao poder que o capital lhe proporciona, usa o estado e seus aparatos policial e jurídico, que teoricamente teriam a função de garantir acima de tudo o bem-estar social, para manter os seus privilégios. A única forma, talvez, de viver num possível mercado livre é redistribuindo os meios de produção roubados pela burguesia e criando relações econômicas e sociais verdadeiramente voluntárias, possibilitando que a produção seja feita por todos, individualmente, com cada indivíduo recebendo um pedaço de terra, uma oficina ou uma minifábrica para vender, trocar e viver de sua própria produção, ou cooperativamente, com trabalhadores coletivamente produzindo, vendendo ou trocando os produtos entre si e para o resto da sociedade – mas sem a estupidez de “acúmulo de capital”.
Além do modo de produção voluntário e diversificado, a quebra do monopólio do sistema monetário capitalista é fundamental para que as moedas socialmente utilizadas sejam criadas por todos, sendo a usabilidade definida pelas relações de produção e troca às quais as pessoas optem por utilizar.
Não existe “liberdade de mercado” no capitalismo, o que existe é liberdade de exploração, escravidão, especulação, acumulação, centralização e hierarquização de uma classe sobre as outras.
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Fonte: Trincheira