A hidrelétrica, que reteve 10 milhões de metros cúbicos de lama da Samarco (Vale/BHP Billiton), corre o risco de se romper a qualquer momento
No terceiro dia da Marcha “1 Ano de Lama e Luta”, nesta quarta-feira (3), os atingidos saíram de Ipatinga (MG) para Rio Doce (MG), passando pela Usina Hidrelétrica Candonga, que “é um ‘símbolo internacional de direitos humanos’, de acordo com suas donas, a Vale e a CEMIG”, afirma Thiago Alves, da coordenação do MAB de Minas Gerais.
Candonga é uma barragem que gerou a expulsão de comunidades, destruição ambiental em grande escala e ainda mantém um passivo social com a população local. O militante do MAB relata que o empreendimento é responsável por um histórico de violação de direitos humanos e de violência contra a população que vivia na região, alagada para a construção da barragem, utilizando inclusive o aparato policial.
Desde sua construção, a barragem apresenta problemas. Caetano dos Santos, um dos moradores da região alagada, desapareceu durante as obras. O reassentamento foi feito de forma displicente, e muitas pessoas, como garimpeiros do município de Rio Doce, não receberam nenhum tipo de indenização. Até hoje, 12 anos após o licenciamento que autorizou o funcionamento da hidrelétrica, muitos ainda lutam pelos seus direitos.
Risco iminente
“A barragem agora apresenta novo risco de rompimento, e está vazia”, afirma Thiago. A Vale adquiriu um terreno de 150 hectares ao lado do paredão da hidrelétrica, não se sabe ainda se para a criação de nova barragem ou com a intenção de outros projetos. Candonga segurou 10 milhões de metros cúbicos de rejeitos na ocasião do rompimento que faz 1 ano e que motiva a Marcha.
Nesta parada, os atingidos ficaram especialmente impressionados com a dimensão da barragem, ou melhor, chocados com um espaço que, segundo todos eles, será um novo desastre como o que lhes tirou de seus cotidianos e os levou à Marcha. O pescador Gilmar Belém de Jesus, 46, um dos atingidos do Espírito Santo que não foi reconhecido pela Samarco e não recebe nenhum auxílio da empresa, diz que “vai ser mais um crime, o ser humano só sabe destruir”.
A pescadora Eliane Valque, 47, conta suas impressões sobre a hidrelétrica de Candonga. “Para mim ela é muito famosa. Eu tenho medo dela. Eu tenho medo de ser atingida novamente lá na minha região (Espírito Santo)”.
Wesle de Souza Martins, 23, que após ser atingido pela barragem do Fundão em sua região de Cachoeira Escura (MG), conta que é muito emocionante ver o Rio Doce e a barragem. “A água mesmo parece que evaporou. É só lama, só rejeito. É tudo uma vida que foi pra lama, que a Samarco criou. Eu estou na luta e não vou parar até a Vale, a Samarco e BHP tomarem as devidas providências.”
Os atingidos pela barragem de rejeitos que destruiu a bacia do rio Doce se mostraram indignados em ver o rio, e especialmente com a hidrelétrica de Candonga, pois trouxe o sentimento de medo de uma nova tragédia. Com o período de chuvas se aproximando, a própria empresa se preocupa com as consequências de um possível rompimento.
Estes novos militantes do MAB se emocionaram com a visão de algo similar ao que passaram há 1 ano. Foram ouvidas histórias, relatos e muita preocupação com o futuro do rio Doce e do mar. Os atingidos têm medo de sofrer novamente com a negligência da empresa caso esta barragem não comporte a água esperada neste período.
Para os pescadores, como Eliane, não há mais peixe, e para jovens, como Wesle, somente um futuro cor de morte, igual as margens do Rio Doce. A Vale e BHP agem, via Samarco, de forma a destruir mais ecossistemas de Minas Gerais, destruindo e inundando cidades para criação de barragens e espaços que comportem a extração de minério de ferro, produto que é exportado quase completamente.
A hidrelétrica de Candonga representa um risco para os já atingidos e para a população que mora perto da área, pois seu futuro, se depender da Vale, é ingressar as fileiras do MAB em suas marchas. As mineradoras não se importaram com vidas há um ano e dificilmente se importarão caso novo rompimento ocorra.
Fonte: MAB.