Candidata a vereadora em Itabuna ganhando voto pela Catalunha? Por Flávio Carvalho.

Por Flávio Carvalho, para Desacato.info.

“Pede perdão, pela omissão, um tanto forçada… Vê como é que anda aquela vida à toa e se puder me manda uma notícia boa” (Chico Buarque e Toquinho).

“Sou branco, tenho cabelos, óculos e barba preta, e estou de camisa branca”. Assim começava sua apresentação o vereador (e candidato à reeleição no Recife) Ivan Moraes. Comunicador profissional, iniciava sua fala dando dica de como se comportar diante de uma câmera, numa Live – pensando nas pessoas com deficiência visual. Passou a bola para seu ex-professor de Jornalismo e candidato por outro partido, Evaldo Costa, que já foi Presidente do Sindicato dos Jornalistas. Evaldo transmitia de dentro do seu carro, pela facilidade da conexão Bluetooth. Nesse mesmo programa, a candidata Carmen Dolores falava em nome do coletivo de mulheres que representa (uma crescente tendência contemporânea nas campanhas políticas) e Sidney, um jovem candidato a vereador de Ipojuca, reforçava a importância da vaquinha virtual e o discurso ecologista, propício ao seu entorno. Divergiram, concordaram, esclareceram e falaram de si.

Se eu fosse candidato a vereador aprenderia com esses programas que estão sendo realizados pela FIBRA – Frente Internacional Brasileira contra o golpe. Seja como for, aprendi.

De todos os programas Vozes de FIBRA, transmitidos pelas redes sociais de diversos coletivos e ativistas sociais em inúmeros países da Europa e das Américas, o Foco Nordeste iniciou como uma despretensiosa forma de solidarizar-se internacionalmente com as candidaturas antifascistas. Ganhou o Mundo. Vem batendo recordes de audiências nas redes onde a FIBRA está presente e já impulsionou o mesmo formato para outras regiões do Brasil.

O segredo de tanto êxito pode estar no fato de que o voluntariado incansável de uma maioria de mulheres – de fato, a maioria das lideranças dos movimentos associativos brasileiros no exterior é feminina – aliou-se com profissionais com alto nível formativo. São jornalistas, publicitárias, sociólogas e de outras áreas do conhecimento. Migrantes, nos países onde vivem, frequentemente empregadas em trabalhos que chegam a desprezar os seus altos níveis educativos. Encontram na Rede um novo impulso para suas vidas, desde 2004 quando a FIBRA foi fundada por dezenas de associações.

Esta aliança estratégica, o projeto de debates online chamado Foco Nordeste, decidiu priorizar as candidaturas dos segmentos sociais que mais estão sofrendo com o auge do novo fascismo bolsonarista: LGTBIs, indígenas, quilombolas, etc. Desta forma, o interior do Maranhão, por exemplo, se conecta com Dublin, Amsterdam, Barcelona, Mallorca, Paris, Madri… E o material fica gravado para que as Cabas Eleitorais (antes eram mais Cabos) multipliquem as ideias e propostas, dando visibilidade às campanhas mais penalizadas pela Sindemia* e pela falta de apoio dos poderes econômicos – que já tem suficientes apoios e trocas de favores no seu jogo de interesses.

“Eu não votarei em nenhum de vocês”. De forma incisiva, avisei aos candidatos na Live “Pernambucana”. Assustados pela contundência lembrei-os que os brasileiros no exterior somente votam nas eleições para Presidente da República, motivo pelo qual não os votaria – porque não posso – mas que não deixarei de recomendar o voto a parentes e amigos. E votaria, sim, se pudesse. Sempre nessa linha estratégica da FIBRA, um processo coletivo marcante e sem retorno na organização comunitária da imensa diáspora brasileira.

Por fim, a curiosidade de um amigo catalão, registrada ao vivo: como se pode permitir que as campanhas eleitorais na rádio adiantem a locução de forma propositadamente ininteligível e sobressaltada, exatamente na hora de falar a coligação de partidos? Atropelam os nomes das coligações partidárias, apressadamente, de propósito. Resposta evidente: para que não se saibam os nomes dos partidos. Por vergonha ou hipocrisia. Não era o caso dos candidatos entrevistados pela FIBRA. Deixaram claras suas candidaturas pelo PT, PSB, PSOL e PDT. A FIBRA não tem partido único, mas a FIBRA toma partido: Fora Bolsonaro!

*Se ainda não conhecem essa expressão, a recomendo.

Barcelona, 31 de outubro de 2020, como se fosse em Maracaípe.

Flávio Carvalho é sociólogo, participante da FIBRA e do Coletivo Brasil Catalunya @1flaviocarvalho 

 

A opinião do/a autor/a não necessariamente representa a opinião de Desacato.info.

 

 

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