Campos de tortura e extermínio em Gaza. Por Alicia Alonso Merino.

Sufian Abu Salah disse que foi espancado enquanto esteve detido em Israel e que não recebeu tratamento por um ferimento no pé. Foto: BBC

Por Alicia Alonso Merino.

O genocídio em curso contra a população palestina pela entidade de ocupação sionista está nos revelando os horrores mais tremendos dos quais seres pensantes são capazes. Justamente na negação da humanidade para toda a população palestina está a perda da humanidade daqueles que estão realizando esse extermínio. Assistimos impotentes a cada dia a novas atrocidades, incluindo o fato sem precedentes de a imprensa internacional ser proibida pelas forças de ocupação de entrar em Gaza, enquanto o genocida Netanyahu passeia pelos Estados Unidos apesar do mandado de prisão internacional do Tribunal Penal Internacional.

Além da destruição sistemática da vida de milhares de pessoas, casas, escolas, hospitais, campos agrícolas, fontes de água e qualquer infraestrutura que permita a existência, há a conversão das bases militares de ocupação em campos de detenção e extermínio. Esse é o caso do campo de Sde Teman, a cerca de 20 quilômetros da fronteira com Gaza, no deserto do Negev. Ele é dividido em um complexo de detenção e um hospital de campanha. O hospital consiste em tendas onde os detentos que foram sequestrados de hospitais em Gaza são operados sem anestesia em macas. Os poucos testemunhos que existem falam de pacientes nus, algemados a camas, com os olhos vendados e usando fraldas.

As poucas fotos que foram vistas da chamada Guantánamo israelense mostram jaulas onde homens visivelmente desnutridos, vestindo agasalhos cinza, são algemados, vendados e deitados no chão para contagem de cabeças. Aqueles que conseguiram sair contam que são submetidos a posições dolorosas, como ajoelhar-se, durante horas. Se alguém fala, é forçado a ficar de pé com as mãos erguidas acima da cabeça e, se não consegue mantê-las erguidas, é amarrado às barras e deixado pendurado. O uso prolongado de algemas está resultando em lesões e feridas por fricção que, quando infectadas e sem tratamento adequado, tem levado à amputação das mãos.

Outras testemunhas relatam que foram despidas, espancadas, insultadas, fotografadas ou filmadas em posições degradantes ou agredidas sexualmente durante o interrogatório. Espancamentos severos, cortes com lâminas de barbear, uso de eletrodos em todas as partes do corpo e outros tipos de brutalidade mataram várias dezenas de detentos. De acordo com organizações de direitos humanos, sabe-se que pelo menos 54 prisioneiros morreram em cativeiro nos últimos meses, mas provavelmente há muitos mais, devido à absoluta opacidade e dificuldade de investigar essas práticas.

A estratégia de prisões indiscriminadas e tortura sistemática faz parte da punição coletiva à qual toda a população palestina está sendo submetida e consolida a ocupação e o regime de apartheid. A impunidade desfrutada pelo poder ocupante não está apenas permitindo que a tortura e a violência contra os detidos se reproduzam, mas que se intensifiquem e aumentem.

É urgente juntar-se ao apelo da organização palestina de direitos humanos Addameer para acabar com esse genocídio. Juntamente com o cessar-fogo, combustível, água, alimentos e ajuda humanitária, inclusive suprimentos médicos, devem ter acesso imediato e incondicional a Gaza, os campos de detenção devem ser fechados e todos esses crimes e abusos sistemáticos contra os detentos palestinos devem ser investigados pelo promotor da Corte Internacional de Justiça para responsabilizar a potência ocupante. Enquanto isso, essa enteléquia chamada comunidade internacional continuará a ser cúmplice e a sociedade civil não terá outra escolha a não ser continuar a nomear a Palestina e intensificar as ações de boicote, sanções e desinvestimento (BDS).

Alicia Alonso Merino é feminista e advogada de direitos humanos. Ela oferece acompanhamento sócio-jurídico em prisões de diferentes países.

Tradução: TFG, para Desacato.info.

A opinião do/a/s autor/a/s não representa necessariamente a opinião de Desacato.info.

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