Camponeses colombianos avançam nas conquistas

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A Colômbia viveu mais de 20 dias de movimentação no campo e, como sempre, os protestos tiveram a feroz intervenção policial. Mas, desde o último sábado, com o fechamento de acordos com o governo, os camponeses estão conquistando importantes avanços na luta. Trancamento de estradas, marchas, protestos de toda ordem aconteceram e ainda acontecem nas mais variadas cidades do país. Os agricultores exigem que o governo proteja os produtos nacionais nos acordos comerciais que vem fazendo com Estados Unidos e Europa, e querem garantia de produzir suas próprias sementes. Atualmente o governo abriu as portas para a importação de batata e leite em pó, o que provocou a indignação dos agricultores. Reunidos no Movimento de Integração Agrário, que reúne delegados de 17 departamentos do país (estados) além de outros grupos de luta, os camponeses construíram uma pauta nacional e iniciaram o que chamam de “paro agrário”, com protestos em todo o país.

No documento que foi apresentado à nação ainda em agosto eles exigem o direito à produção de sementes, acesso à terra, garantia da territorialidade camponesa, investimento social e reconhecimento político das organizações que hoje fazem a luta na Colômbia.

Nesse último sábado, pressionado pela organização que se manteve forte por todo o país, o governo decidiu fechar acordo com os agricultores da região de Boyacá (centro-oeste); Cundinamarca (Centro) e Nariño (sudoeste). Foi acertado que eles terão acesso a crédito e os produtos – batata, leite, pera e cebola – serão salvaguardados nos acordos comerciais. Também haverá proteção para o feijão, tomate, queijo fresco e outros produtos lácteos. O governo prometeu também a criação de um Programa de Reativação Agropecuária Nacional (PRAN) que deverá ser entregue ao Congresso Nacional. Nesse meio tempo os camponeses terão assegurado o congelamento dos juros nos empréstimos já contratados.

No que diz respeito ao PRAN os camponeses já adiantaram que não pretendem participar da elaboração, pois se recusam a sentar junto com a Sociedade de Agricultores da Colômbia, que representa o setor latifundiário do campo. De qualquer forma, as lideranças dessas regiões onde o pacto foi acertado, acreditam que o movimento já garantiu importantes conquistas. Agora, a luta deve continuar, e em alguns outros estados do país ainda seguem os trancamentos de estradas.

A Colômbia tem pelo menos quatro milhões de pessoas desalojadas de suas terras, de suas cidades, de suas vidas, em função da guerra civil que vive desde há décadas e principalmente por conta de ações terroristas por parte do próprio estado. Tudo isso levou a uma concentração gigantesca de terra nas mãos de alguns latifundiários, o que tem destruído as possibilidades de uma agricultura familiar produtiva. Não bastasse toda essa problemática estrutural, o governo de Juan Santos anunciou para esse ano um corte de 32% no orçamento do Ministério da Agricultura, o que acendeu a faísca do protesto que levantou o país. Um a um os estados colombianos foram se movimentando, com protestos cada vez maiores, enquanto o presidente fazia de conta que nada estava acontecendo.

A força e a justeza do movimento acabou envolvendo outros setores da sociedade e passados 20 dias de paralisações, não houve outra saída ao governo que ouvir às ruas e negociar. O presidente bem que tentou diminuir a organização camponesa insinuando que por trás do “paro” estavam as FARCs ou a Marcha Patriótica. É óbvio que estas organizações estiveram envolvidas no apoio aos agricultores, mas é inegável o crescimento da organização camponesa no país. O “paro agrário” foi uma lição importante para o governo de Santos e uma fresca brisa de vitória para a população colombiana, que agora pode acumular forças para novas conquistas políticas.

Fonte: http://www.iela.ufsc.br/?page=noticia&id=2344

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