Caminhoneiros voltam a se mobilizar em Brasília e governo monitora rumores sobre nova greve

Foto: Agência Brasil.

Uma reunião no Palácio do Planalto para acompanhar o cumprimento do acordo que pôs fim à greve dos caminhoneiros não teve como ignorar as movimentações e rumores que, desde que a paralisação foi encerrada, há três dias, têm ganhado as redes sociais e aplicativos de mensagem como o WhatsApp. Trata-se de vídeos e áudios em que os emissários demonstram e anunciam um novo levante de caminhoneiros insatisfeitos com o acordo, com convocação para ida a Brasília. Um líder da categoria falou ao Congresso em Foco sobre a possibilidade de nova greve e disse que ainda há grupos insatisfeitos com as condições pós-acordo, que fixou a redução do litro do diesel em R$ 0,46 e garantiu isenção de pedágio para caminhões sem carga, entre diversos outros pontos.

A reportagem é de Fábio Góis, publicada por Congresso em Foco, 03-06-2018.

De ontem (sábado, 2) para hoje, um grupo de caminhoneiros deu início a uma concentração no estacionamento do Estádio Mané Garrincha, a cerca de três quilômetros do Congresso, e preparam manifestação para esta semana. Segundo informações de alguns condutores, a ideia é reunir o maior número possível de caminhões nas cercanias da Praça dos Três Poderes, onde ficam Palácio do Planalto, Congresso e Supremo Tribunal Federal. Diversos vídeos de fato feitos neste fim de semana estão publicados em plataformas como Facebook e YouTube.

Um dos principais líderes dos caminhoneiros autônomos, Wallace Landim, conhecido como “Chorão”, gravou um vídeo neste domingo para dar seu recado: a categoria quer a redução do preço de todos os combustíveis derivados do petróleo e a rápida aprovação de três medidas provisórias editadas às pressas pelo governo como parte do acordo – a MP 831, que reserva 30% do frete contratado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para cooperativas de transporte autônomo, sindicatos e associações de autônomos; a MP 832/2018, que facilita a contratação de fretes em todo território nacional, e a MP 833/2018, que altera a Lei dos Motoristas para estender às rodovias estaduais, distritais e municipais a dispensa de pedágio pelo eixo suspenso de caminhões.

“Por isso eu vou brigar até o final”, promete Chorão. 

Veja abaixo:

 

Ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), o general Sergio Etchegoyen conduziu a reunião no Planalto na manhã deste domingo (3) e disse que, apesar do “quadro de normalidade”, o governo está atento à suposta nova greve. “Nós estamos acompanhando e verificando qual o tamanho, quais são as consequências dessa eventual, propalada, convocada mobilização para amanhã, mas sem nos preocuparmos no ponto do alarme. Mas, obviamente, há de ser acompanhado. Todas as notícias são acompanhadas, todos os fatos são acompanhados”, declarou.

O ministro comentou ainda que a própria imprensa tem veiculado informações sobre o novo levante, mas que o governo não trabalha com “boatos, mentiras, inverdades ou imprecisões”. Etchegoyen disse ainda que a origem das mensagens não importa tanto quanto o que acontece “no mundo real”.

Na sexta-feira (1º/jun), a assessoria do presidente Michel Temer informou que o emedebista não teria compromissos oficiais em sua agenda. Participaram da reunião, sem a presença de Temer, o chefe do Estado Maior Conjunto das Forças Armadas, almirante Ademir Sobrinho; o secretário-executivo da Casa Civil, Daniel Sigelmann; o secretário-executivo do Ministério dos Transportes, Herbert Drummond; o secretário-executivo do Ministério da Justiça, Claudenir Brito; o secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, Márcio Félix; e o secretário da Receita Federal, Jorge Rachid.

Insatisfação

O líder de uma das duas mais importantes entidades dos caminhoneiros, à frente de centenas de milhares de condutores em todo o país, disse ao Congresso em Foco que já lhe chegou a informação sobre a suposta greve. No entanto, o presidente da União Nacional dos Caminhoneiros (Unicam), José Araújo Silva, um dos organizadores da paralisação que abalou o país por 11 dias, diz estar em contato com grupos de caminhoneiros e que não há nova mobilização programada para os próximos dias, apesar da insatisfação de alguns deles.

“Estou sabendo de alguns comentários, mas nenhum dos grupos com que tenho contato me falou [sobre greve]. De caminhoneiro eu acho difícil. Mas há um pessoal que fica dizendo nas redes sociais que tem que fazer uma nova greve, que o acordo não atendeu as necessidades. Isso complica, porque a categoria já tem tantos problemas e faz uma greve que muito pouco atendeu, e o pessoal ainda fica fazendo besteira”, ponderou José Araújo, para quem há grupos de caminhoneiros que, depois da “bem-sucedida paralisação que parou o Brasil inteiro, de forma espontânea”, acabam por provocar desunião na categoria.

“Ninguém tem que querer aparecer no momento que não deve”, reclamou.

Vídeo institucional

A preocupação do governo ficou institucionalmente exposta com a veiculação de um vídeo institucional nas redes sociais do Palácio do Planalto. Para alertar a população a respeito da ação de “aproveitadores”, um rapaz aprece diante de caminhões estacionados para assegurar que o Brasil “voltou a caminhar” e que boatos espalhados pela internet devem ser descartados.

“Pessoal, tem muita notícia mentirosa circulando por aí, especialmente sobre a greve dos caminhoneiros. Por isso, é importante que você não acredite em qualquer coisa que chegue para você nos grupos da família ou do trabalho, porque tem um bando de aproveitadores que querem usar os caminhoneiros para espalhar o caos no país”, diz o comunicador.

Veja:

 

O ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, tem dito em entrevistas que os rumores sobre a nova greve não têm fundamento. Segundo Jungmann, o governo não está apenas monitorando os emissários das mensagens, como garante Etchegoyen, mas também podem ser punidos por desordem e por causar apreensão à sociedade.

As greve não só assombrou o país com desabastecimento em larga escala e prejuízos bilionários para o setor produtivo. No campo político, em ano eleitoral, deu combustível à oposição e abalou ainda mais o já combalido governo Michel Temer, que jamais chegou a 10% de aprovação em pesquisas de opinião. Como efeito mais impactante, a demissão de Pedro Parente da presidência da Petrobras levou à desvalorização das ações da empresa e à apreensão do mercado em torno de sua política de preços – que, segundo seus crítico, foram o estopim de toda a crise do setor e da revolta dos caminhoneiros. Ontem (sábado, 2), novo aumento do preço do litro da gasolina foi anunciado pela petrolífera: alta de 2,25% nas refinarias.

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