Nos dias 06 e 07 de agosto, o Caleidos Cia de Dança realiza o compartilhamento ao vivo, por meio de redes sociais e ambiente de reunião virtual, das filmagens do espetáculo e de reflexões dos criadores sobre as ideias e imagens que deram origem ao espetáculo “Fortuna”, um mergulho por meio da dança contemporânea no Mito de Orfeu para discutir a Sociedade do Cansaço descrita pelo filósofo Byung-Chul Han. Arte como compromisso com a contemporaneidade.
“Fortuna” é o primeiro resultado presencial do Projeto Capital Social do Caleidos Cia – contemplado pela 27ª edição do Programa Municipal de Fomento à Dança para a Cidade de São Paulo – trata da redução das vivências pessoais e sociais aos valores do capital. O espetáculo propõe uma imersão num ambiente híbrido: o Hades mitológico e a cidade de São Paulo.
Capital Social, foco do projeto de pesquisa do Caleidos, é um conceito que pertence à contabilidade e à sociologia. Em uma sociedade cada vez mais regida pelo universo do contábil, o conceito migrou destes campos para a fala comum e atualmente é uma espécie de mercadoria a ser negociada nas interações sociais. Para a contabilidade, Capital Social é o valor financeiro investido pelos sócios na abertura de uma empresa; é o valor inicial da empresa. Para Pierre Bourdieu, pensador francês que delimitou o termo para a sociologia, Capital Social é uma categoria do Capital. É um tipo de valor ligado ao indivíduo ou à sua classe social que se relaciona diretamente com a reprodução do sistema ou com a hipótese de mobilidade social.
Em nossa sociedade, conforme a vivemos nesse início de século – regida pelos mercados, tendo como ideal de vida o dinheiro, medida pelo desempenho individual, ameaçada pela depressão e pelo cansaço, guiada por coaches e livros de autoajuda financeira – Capital Social se torna o mote de interesses econômicos travestido de relações sociais.
O espetáculo “Fortuna” explora por meio da dança a Sociedade descrita pelo filósofo Byung-Chul Han, na qual os indivíduos se submetem não apenas ao Capital, mas tomam a si mesmos como objeto do Capital e são levados a se auto-consumir até o esgotamento.
“Fortuna” provoca os espectadores por meio de uma sobreposição de imagens produzidas pelas cenas: ícones de uma megalópole empobrecida pelo avanço neoliberal projetados no mesmo cenário simbólico do sagrado e do mitológico. O Ifood e o castigo de Tântalo reunidos no mesmo ambiente imersivo.
Nesse espaço – simbólico e caricatural ao mesmo tempo – outros planos se sobrepõem: vida e morte, dor e prazer, cotidiano e eternidade. O público, o Orfeu visitante, descola-se pelo espaço seguindo os anfitriões – os diretores do trabalho, Isabel Marques e Fábio Brazil. Os interpretes-criadores – Bruna Mondeck, Nicolli Tortorelli e Ricardo Mesquita – deslocam as cenas e o olhar do público nesse ambiente imersivo misturando em seus corpos os diversos planos dramatúrgicos do trabalho.
“Fortuna é o nome de uma deusa romana, regente acaso e da sorte, de seu nome derivam as ideias de riqueza material e destino que essa palavra traz em português. Esse misto de materialidade escancarada e manifestação de algum sagrado, contamina todo o trabalho. Dois mundos convivem ali, com suas regras, seus tempos e suas imagens divergentes.” – explica Fábio Brazil, dramaturgo e diretor do Caleidos Cia.
Os espectadores – apenas 10 por apresentação – serão conduzidos nesse ambiente como visitantes do Hades – mundo inferior e pós-morte entre os gregos. “Para nós, o público é uma personificação de Orfeu. É visitante no Hades e torna-se estrangeiro em nosso mundo. Convocar o corpo e a dança para habitar esse não-lugar, onde tantas imagens se misturam e de alguma forma se repelem, foi um grande desafio” – completa Isabel Marques que dirigiu e coreografou o trabalho.
Nos dois eventos, no compartilhamento e no espetáculo em si, em formato de encontro virtual com transmissão ao vivo, os diretores do Caleidos Cia. Isabel Marques e Fábio Brazil, os intérpretes criadores Bruna Mondeck, Ricardo Mesquita e Nicolli Tortorelli e os integrantes da Cia Etc. Marcelo Sena e Filipe Marcena vão discutir e encenar o trabalho para as filmagens que darão origem ao segundo momento de FORTUNA – um filme.
“Fortuna – isso não é um espetáculo de dança” é um convite para o público conhecer conceitos e princípios da concepção do trabalho: dança contemporânea, a Sociedade do Cansaço e o Mito de Orfeu. A convite do Caleidos Cia, a Cia Etc., que realiza uma residência artística junto ao Caleidos, produzirá “Fortuna” em formato de filme. Nesses dois encontros, serão realizadas as filmagens do trabalho “Fortuna”.
Serviço:
“Fortuna, isso não é um espetáculo de dança”
Compartilhamento público do Caleidos Cia. de Dança
Quando: Dias 06 e 07 de agosto (sexta e sábado), a partir das 20.30h, encontro de abertura do processo e gravação do espetáculo.
Onde: na plataforma Zoom
Quanto: gratuito
Classificação etária: livre
Links para retirada de Ingressos:
Dia 06/08 – https://www.sympla.com.br/dia-
Dia 07/08 – https://www.sympla.com.br/dia-