As apresentações na Caixa Cultural dependem de aprovação da cúpula da estatal e da Secretaria de Comunicação do governo federal
A Caixa Econômica Federal inaugurou uma nova etapa da censura às artes. Depois da Caixa Cultural anunciar o cancelamento de apresentações sem explicações claras, funcionários do banco público revelam que foi criado um esquema de censura prévia, que estabelece que todos os espetáculos devem ser sancionados pela superintendência da estatal em Brasília e pela Secretaria de Comunicação (Secom) do governo de Jair Bolsonaro, comandada pelo olavista Fabio Wajngarten.
Segundo reportagem de Gustavo Fioratti, da Folha de S. Paulo, os funcionários da Caixa Cultural agora são obrigados a preencher um relatório com “possíveis pontos de polêmica de imagem para a Caixa”, além do histórico das redes sociais dos produtores e participantes das mostras antes de receber autorização.
No documento que a Folha teve acesso o campo das “polêmicas” está descrito assim: “Possíveis riscos de atuação contra as regras dos espaços culturais, manifestações contra a Caixa e contra governo e quaisquer outros pontos que podem impactar”. Outros campos que aparecem na ficha são “histórico do artista nas redes sociais e na internet e participação em outros projetos” e “histórico do produtor nas redes sociais e na internet”.
Recomendação
Segundo os funcionários, esses campos não existiam anteriormente. Em alguns estados, houve recomendação explícita para serem evitadas apresentações com temática LGBT e sobre a ditadura militar. Segundo muitos deles, há um forte clima de tensão e uma crescente autocensura por riscos de demissão em massa.
Entre as apresentações canceladas recentemente estão “Abrazo”, um ciclo de palestras sobre democracia e uma mostra da cineasta Dorothy Arzner, que discutiria temas feministas e homossexualidade, além dos espetáculos “Gritos” e “Lembro Todo Dia de Você”.
Segundo o Observatório da Censura à Arte, já foram mais de 15 casos no Brasil, apenas no segundo semestre de 2019.