“Cabelo Duro”, “Bombril”, a violência do discurso racista

Por Caroline Dall’Agnoll, Caxias do Sul, para Desacato.info.

O coletivo Criadoras Negras RS realizou no dia 10 de setembro o sarau “Mulheres Negras em Foco”, com a exibição no Cine Adélia Sampaio os filmes “Elekô” e “Kabela”.

Teaser do Kbela

Filme na íntegra

Elekô

“Cabelo Duro”, “Bombril”, “Cabelo Ruim”, “Pixaim”. A violência que não é velada destrói a identidade africana que já custa a nascer, que já custa a se manter. A mulher negra esquece as raízes não por que quer, mas sim, porque os outros a impõe: “Cabelo bom é liso! Pessoa bonita é branca!”

Pêcheux, teórico francês renomado pelo aprofundamento da análise do discurso afirma que a linguagem não é transparente. Desse modo ela não procura atravessar o texto para encontrar um sentido do outro lado. A questão que ela coloca é: como este texto significa?” (ORLANDI, 2010, p. 17). Pêcheux (1988) faz uma observação quanto aos significados que uma mesma palavra pode ter. Uma palavra pode mudar o sentido dependendo de quem a pronuncia, e esse pode receber grande valor quanto maior for sua credibilidade.

[…] se uma mesma palavra, uma mesma expressão e uma mesma proposição podem receber sentidos diferentes […] conforme se refiram a esta ou àquela formação discursiva, é porque uma palavra, uma expressão ou uma proposição não tem um sentido que lhe seria “próprio”, vinculado a sua literalidade. Ao contrário, seu sentido se constitui em cada formação discursiva, nas relações que tais palavras, expressões ou proposições mantêm com outras palavras, expressões ou proposições da mesma formação discursiva. (1988, p. 161).

A violência do homem branco sobre o ser negro é simbólica, ideológica, racista.
Quando as mulheres negras se libertam e percebem a violência ideológica racista, fortalecem a identidade, o reconhecimento, a autoestima e coletivos que corroboram com a força do empoderamento da mulher preta. Assim nasce o coletivo Criadoras Negras RS, primeiro coletivo com 12 mulheres negras de Caxias do Sul e da capital gaúcha, Porto Alegre.

E como se rompe o racismo ideológico? Pergunta difícil. São anos e anos de branqueamento ocidental europeu. Anos e anos de exploração, de dominação do homem branco. Na África o processo de branqueamento foi retardado pelos interesses exploratórios de riquezas. Como não havia intenção de colonizar a África, a cultura ocidental de deteve apenas na dominação de riquezas naturais.

Hoje, no Brasil, há vários movimentos de mulheres pretas que buscam o reconhecimento da ancestralidade africada presente na cor da pele, nos cabelos, na cultura e na religião.
Por isso, Amanda Palma, mulher branca, integrante de um coletivo de mulheres negras do RJ, Mulheres de Pedra, disse em cine debate realizado no dia 10 de setembro, “Não basta não ser racista, é preciso lutar contra o racismo”.

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