Bye Bye Brazil, com Z. Por Raul Fitipaldi.

Foto: Pixabay

Por Raul Fitipaldi. 

Lua redonda e melancólica de março

é atravessada por pássaros de bruma que fogem em debandada.

Dois esqueletos frágeis alçam uma mala pesada como rocha.

Abordam uma esperança incolora pra fora daqui.

Dois gatos e um cachorro, maltrapilhos os três, beiram uma estrada lúgubre e longa até a fronteira. Conversam em calma.

Um estudante, com John Coltrane no fone de ouvido, sobe pela escada rolante do aeroporto.

Duas estudantes escrevem mensagens às suas amigas. Uma em Buenos Aires; a outra amiga em Toronto.

Cinco idosos rezam numa casa de saúde. Preces desbotadas.

Alguns bêbados murcham horas azedas num cemitério deserto. Um comete suicídio e os outros nem percebem.

Um rei bobo, alucinando, brinca de colorir um desenho. Vocifera uma vez, duas, mil vezes todos os dias. Não se sacia nunca o atormentado.

A lua, os pássaros, os gatos e o cachorro. O estudante. As estudantes e as amigas, todos estão já muito longe. Não mais  escutam as gargalhadas sincopadas do adoentado.

Os idosos se desmancharam com as preces. O cemitério foi clausurado por lotação inesperada.

Não ficou mais nada. Um continente esvaziado entre pilastras e poemas de Drumnond.

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