O presidente do Instituto Butantan, Dimas Covas, afirmou à CPI da Covid nesta quinta-feira (27) que, em outubro de 2020, o governo federal recusou oferta para aquisição de 100 milhões de doses da vacina Coronavac, produzida em parceria com o laboratório chinês Sinovac. No cronograma do contrato, havia a previsão de entrega de 60 milhões de doses até dezembro do ano passado. Segundo ele, a desistência ocorreu após “manifestação” do presidente Jair Bolsonaro”.
Ele relatou que houve uma reunião no dia 20 de outubro com o Ministério da Saúde, para acertar os últimos detalhes da assinatura do contrato. “No outro dia de manhã, as conversações não prosseguiram. Houve, sim, manifestação de Bolsonaro dizendo que a vacina não seria de fato incorporada”, afirmou Dimas Covas.
O chefe do Butantan afirmou à Comissão que só foi procurado novamente, em janeiro deste ano, após o Ministério da Saúde enfrentar problemas com a entrega das vacinas contratadas com o laboratório britânico AstraZeneca. O contrato para o fornecimento de 45 milhões de doses foi assinado somente no dia 8 de janeiro.
Anteriormente, outra proposta de 60 milhões de doses, apresentada em julho de 2020, também havia sido negada pelo Ministério da Saúde. Além disso, na mesma época, o Instituto Butantan também havia requerido apoio financeiro para a reforma de uma fábrica para a produção de vacinas. E também para custear parte dos testes clínicos da Coronavac. Ambas as reivindicações não foram atendidas, segundo ele.
De acordo com Covas, os atrasos na negociação do contrato com o Ministério da Saúde e a recusa do apoio financeiro afetaram o cronograma de entrega da Coronavac. Ainda assim, apesar dos percalços, ele afirmou que, em dezembro, o Instituto Butantan contava com 5,5 milhões de vacinas prontas, e outras 4 milhões estavam “em processamento” naquele momento. “Em dezembro, o mundo tinha aplicado 4 milhões de doses. Poderíamos ter começado a vacinação antes. Declarei que o Brasil poderia ser o primeiro país do mundo a começar a vacinação”, ressaltou.
Ele também reclamou que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o uso emergencial da Coronavac somente neste mesmo mês, quando outros países já haviam avançado na regulamentação de outros imunizantes ainda em meados de 2020. “Poderíamos ter começado antes, seguramente, se houvesse agilidade maior de todos esses atores. E se tivéssemos trabalhado em conjunto.”
Nas redes
Políticos e jornalistas repercutiram as declarações iniciais de Dimas Covas, que apontam para “sabotagem” do governo Bolsonaro à vacina do Instituto Butantan. O órgão é ligado ao governo de São Paulo. Nesse sentido, em inúmeras oportunidades, Bolsonaro se referiu à Coronavac como “vacina chinesa”, “vachina” e “vacina do Doria”. Aliados durantes as eleições de 2018, Bolsonaro e o governador João Doria (PSDB), haviam rompido ainda antes da pandemia, o que explicaria a má vontade do governo federal com o imunizante desenvolvido pelo laboratório. A Coronavac responde por cerca de 80% das doses de vacinas contra a covid-19 aplicadas no Brasil, até o momento.