O chefe do Comando de Policiamento da Capital (CPC), coronel João Diniz Prates Godoi, afirmou na última sexta-feira (27) que a ação de uma viatura da Brigada Militar junto à ocupação Saraí pode ter sido “fora da técnica” e até mesmo “ilegal”. Godoi disse que a Brigada Militar já abriu inquérito para investigar a agressão a moradores do prédio ocupado, que fica na esquina da Avenida Mauá com a Rua Caldas Jr., no Centro de Porto Alegre.
A ação ocorreu na madrugada da última quarta-feira (25), quando moradores do prédio foram surpreendidos por uma viatura policial enquanto consertavam um vazamento na parte externa da ocupação. Segundo o depoimento das pessoas que estavam no local, quatro policiais desceram de uma viatura com luzes desligadas e invadiram as instalações do prédio. Os moradores afirmam que a viatura tinha o prefixo 8517, fato que pode ajudar nas investigações – ainda que o número cause confusão dentro da Brigada Militar.
“A viatura que leva este número não é usada em Porto Alegre e tampouco na Região Metropolitana, mas sim no interior do Rio Grande do Sul”, afirma o coronel Godoi. O chefe do Comando de Policiamento opina que a ação, da forma como é narrada pelos moradores, “é totalmente fora da técnica, visto que a Brigada não age assim”. “Não é a orientação (do comando) e tampouco é legal que a Brigada Militar atue assim, por isso o inquérito é importante”, conta.
Para a Brigada, câmeras da EPTC e da própria polícia podem mostrar as imagens do momento em que a viatura se aproxima do prédio da ocupação Saraí. Câmeras de prédios públicos da Rua Caldas Jr. também podem mostrar o cenário da região. João Diniz Prates Godoi diz que, com a abertura do inquérito, os moradores serão chamados a prestar depoimento para que o caso seja elucidado – ele afirma que a investigação pode levar cerca de quarenta dias para gerar resultados.
Para deputado, exames e depoimentos devem confirmar versão de moradores
Presidente da Comissão de Cidadania e Direitos Humanos da Assembleia Legislativa, o deputado Jeferson Fernandes (PT) acredita que “os exames médicos realizados pelas pessoas que foram agredidas e as provas testemunhais devem confirmar a versão dos moradores”. O deputado afirmou que o secretário de Segurança do estado do Rio Grande do Sul, Airton Michels, “irá acompanhar pessoalmente esta situação”.
“Tudo leva a crer que esta foi uma ação voluntária deste grupo, fora dos limites oficiais da Brigada Militar”, opinou o deputado estadual. Jeferson Fernandes contou com a comissão da Assembleia tem recebido “diversas denúncias de violência contra moradores da periferia em Porto Alegre”, mas que desconhece casos com possível relação com a abordagem observada na operação Saraí.
Inquérito que investiga atuação policial deve ser entregue em cerca de quarenta dias | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
Apesar das agressões, rotina da ocupação não foi alterada
O edifício de sete andares na esquina da Avenida Mauá com a Rua Caldas Jr. permanece abrigando mais de trinta famílias, mesmo após a abordagem policial da madrugada da última quarta-feira. Os moradores optaram por permanecer no local, que reúne militantes do Movimento Nacional da Luta pela Moradia (MNLM) do Rio Grande do Sul.
A resistência da ocupação Saraí, no entanto, depende da postura do poder público frente ao mandado de reintegração de posse, válido desde o início de setembro. Jeferson Fernandes crê que, com mobilização e diálogo, seja possível “evitar o pior, que seria a retirada violenta das famílias”. É a quarta vez que o prédio é ocupado pelo MNLM desde 2005. Desta vez, os moradores permanecem no local ocupado, onde se dividem em distintas comissões, há cerca de um mês.
Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
Fonte: Sul21