Por Helena Martins e Mariana Tokarnia.*
Desde 2007, quando o Brasil foi escolhido para sediar a Copa do Mundo, o país aguardava ansiosamente o dia de hoje. Agora, 64 anos depois de ter recebido o principal campeonato mundial de futebol pela primeira vez, a Copa voltaria aos gramados do lugar conhecido como o país do futebol. Mas nem só o futebol acelerou o coração dos brasileiros. Nos últimos anos, violações de direitos humanos, regras impostas pela Federação Internacional de Futebol (Fifa) e gastos públicos com o evento passaram a ser questões discutidas em protestos de rua. Greves usaram a Copa para garantir visibilidade às reivindicações, e até 11/06 havia dúvidas sobre quais categorias profissionais parariam ou não na Copa.
Entre expectativas e manifestações, começou o dia. Em São Paulo, palco da abertura da Copa, o protesto chamado Sem Direitos Não Vai Ter Copa, marcado pelas redes sociais, deu início à série de críticas à Copa, e acabou gerando problemas para quem ia ao aeroporto. A reação policial deixou várias pessoas feridas, dentre as quais jornalistas da rede americana CNN. Ainda pela manhã, quatro pessoas foram detidas, segundo a Polícia Militar (PM), que promete divulgar um balanço da operação sexta 13/06.
Ainda na manhã desta quinta-feira, manifestantes ocuparam as ruas do centro do Rio de Janeiro. Eles exibiram cartazes contra a Fifa e as violações de direitos, e criticaram as prisões antecipadas que ocorreram ontem. Quando penduraram uma enorme faixa nos Arcos da Lapa, houve confronto com a polícia. Mais tarde, novo protesto reuniu centenas de pessoas que caminharam até a área da Fifa Fan Fest, próximo ao Leme. Os policiais chegaram a usar spray de pimenta para dispersar os manifestantes. Uma torcedora que estava em um bar acabou presa por ter arremessado uma cadeira contra um manifestante.
Em Belo Horizonte, o protesto começou em frente à prefeitura da cidade, às 12h. Duas horas depois, quando os movimentos sociais se aproximaram da Praça da Liberdade, onde está o relógio que marcou a contagem regressiva para o início da Copa, também houve confronto. Policiais e manifestantes divergem sobre o início deles. No fim, 11 adultos foram detidos e um adolescente foi apreendido. Um repórter fotográfico da Agência Reuters sofreu traumatismo craniano, após ter sido atingido por um objeto ainda não identificado.
Os militantes, que protestavam para denunciar remoções de populações, o despejo de moradores de rua e a perda do local de trabalho dos feirantes do Mineirinho, denunciaram a violência da polícia. Já esta afirmou, em nota, que houve depredação de patrimônio público e privado e porte de arma branca.
Em Porto Alegre, as manifestações se dividiram em dois atos. O primeiro começou por volta das 12h. Uma passeata pacífica seguiu até o Largo Zumbi dos Palmares, no bairro Cidade Baixa. No caminho, os militantes conversavam com a população e mostravam as pautas do protesto. Em seguida, um grupo seguiu para a Fifa Fan Fest bradando mensagens contra a Fifa, e no caminho os manifestantes quebraram vidraças de bancos e de um restaurante do McDonald’s – um dos patrocinadores da Copa. A PM dispersou os manifestantes por volta das 17h.
No Distrito Federal, a manifestação ocorreu em Taguatinga, onde ocorre a Fifa Fan Fest. Os militantes entraram em confronto com a polícia quando tentaram se aproximar da área limitada pela Fifa. Duas pessoas foram detidas. Depois de terem sido impedidos de se aproximar da Fifa Fan Fest, os manifestantes foram até a estação de metrô da Praça do Relógio, na tentativa de fazer um “catracaço” – quando os usuários pulam as catracas e entram nos trens sem pagar, em protesto por tarifa zero e um novo modelo de transporte público.
Em Fortaleza, movimentos sociais e ativistas participaram do ato convocado pelo Comitê Popular da Copa, na Praia de Iracema. Eles seguiram até o local da Fifa Fan Fest, portando cartazes e faixas que questionavam o legado da Copa. Na cidade, os movimentos criticam a remoção de famílias, por causa das obras para o Mundial, e o aumento do turismo sexual.
Curitiba, Salvador e Recife também registraram protestos hoje. Na capital pernambucana, cerca de 100 pessoas discutiram violações de direitos humanos e o que querem para a própria cidade, em atividade que aconteceu no Cais José Estelita, na região histórica da cidade, que está ocupada há 21dias por cerca de 40 pessoas que querem impedir que o local seja demolido para a construção de edifícios, como parte do projeto Novo Recife.
*Repórteres da Agência Brasil
Fonte: EBC Agência Brasil