Brasileiros têm de entender que estudar não é chato; chato é ser burro

Foto: Jhon Dal por Pixabay

Por Pedro Bandeira.

A história da educação no Brasil é um acúmulo de omissões e até mesmo de ações propositais que resultaram numa situação de extrema desigualdade social, com um analfabetismo ou um analfabetismo funcional endêmicos, um vergonhoso estado geral de ignorância e de desprezo pelo conhecimento.

Para quem analisar nossa história, fica claro que a proibição do voto aos analfabetos sempre foi intencional, pois o governante somente tinha de prestar satisfações a uma minoria privilegiada, da qual esse mesmo governante provinha. Como a maioria era analfabeta, e não tinha voz nem voto, o governante só poderia ser alijado do poder pela ínfima minoria para quem governava, e podia desprezar solenemente as necessidades da imensa maioria dos brasileiros, aumentando assim, ano a ano, século a século, o abismo social que nos define.

A exclusão brasileira foi criada propositalmente pela reserva do acesso à educação somente a uma parcela dos brasileiros, porque só há uma riqueza a distribuir, e essa riqueza é o acesso a uma educação de qualidade.

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Felizmente, depois de três séculos de domínio e de espoliação colonial, mais quase outros dois séculos de manutenção do mesmo estado de exclusão, primeiro imperial, depois de republiquetas e/ou de ditaduras em que a reserva da educação para poucos continuava a ser usada com fator de “proteção” da elite, o Brasil vem tentando construir um estado democrático há cerca de trinta anos.

Pela primeira vez em nossa história, o voto foi estendido a todos os brasileiros, e o direito à escolarização tornou-se universal, com a oferta de vagas no ensino fundamental a todas as nossas crianças. Agora, em pleno século 21, consolidar essa democracia afinal conquistada é um trabalho hercúleo, uma obrigação de todos os brasileiros. Sabemos que, mais que nunca, o passaporte para um futuro feliz e realizado é o acesso a uma educação de qualidade.

Agora, finalmente, conseguimos oferecer vagas na escola pública para cada criança, mas essa cultura do atraso faz com que os despossuídos encarem a frequência escolar não como um direito libertador, mas como uma obrigação. Tantos séculos de atraso acabaram por fazer com que a maioria de nós, os despossuídos da história, sequer tenhamos ganas de reivindicar nosso direito à educação.

Muitas famílias enviam seus filhos à escola de má vontade, alguns somente para cumprir as exigências das bolsas-família, e as próprias crianças festejam quando algum professor falta à aula e elas podem ficar brincando à vontade no recreio. Séculos de exclusão não criaram um anseio por este direito por parte dos próprios excluídos!

A maioria dos pais dessas crianças está disposta a fazer sacrifícios para comprar um tênis de grife para seu filho, mas protesta quando tem de gastar qualquer quantia para comprar-lhe um livrinho sequer. Isso significa que a família brasileira acha mais importante investir no pé do que na cabeça do seu próprio filho…

Como reverter esse quadro? Como incutir na consciência das famílias que a felicidade e a riqueza só podem ser conquistadas pelo conhecimento, pelo acesso à ciência, à tecnologia? Como poderemos obrigar o brasileiro a ser feliz?

Acredito que obrigar é impossível. Enquanto tentarmos enfiar o conhecimento goela abaixo de nossas crianças como um purgante, utilizando as punições, as suspensões e as reprovações como instrumentos de persuasão, só teremos fracassos pela frente.

Nossa escola tem de ser fascinante, atraente, cheirosa, utilizando como fator de atração a literatura infantil e juvenil hoje produzida por centenas de ótimos autores, para que os sonhos e a alegria desses livros possam fazer com que os alunos anseiem por estar na escola, não comemorem os feriados. Não basta que tenhamos criado vagas para todo mundo. É preciso que a porta da sala de aula seja o pórtico da felicidade.

Os brasileiros têm de compreender que estudar não é chato; chato é ser burro!

A opinião do autor/a não necessariamente representa a opinião de Desacato.info

1 COMENTÁRIO

  1. CERTO. MAS NOSSA ESCOLA AINDA É MUITO RUIM. ALIÁS, A EDUCAÇÃO ACADEMICISTA DO CAPITALISMO TEM SEMPRE ALGO DE FRAUDE. NÃO É O SABER QUE IMPORTA.É O PRESTÍGIO. HAJA VISTA OS FALSOS CURSOS HARVARDISTAS DE NOSSA PSEUDO ELITE ANTI-MINISTERIAL. ( ALIÁS, NA VERDADE SÃO UM MOVIMENTO MANICOMIAL ). TUDO DESAGRADÁVEL NO ENSINO PÚBLICO. FALO COM CONHECIMENTO.APENAS PINÇO UM EXEMPLO. E QUE CONHEÇO. LÍNGUA, LINGUAGEM. MUITO ACADEMICISMO.O TERMO PRESIDENTA AINDA CAUSA ALVOROÇO. NA ÉPOCA DE CHOMSKY E OUTROS VULTOS MAIORES. E PAULO FREIRE VIROU DEMÔNIO. PRECISAMOS DE UM MERGULHO EPISTEMOLÓGICO SÉRIO. VARRER OS BOLORES. OS RUI BARBOSISMOS. UM MERGULHO NA RAIZ DO CONHECIMENTO. TEREMOS TALVEZ ALUNOS AINDA MAIS TURBULENTOS. DE UMA SANTA BALBÚRDIA. MAS QUE COM CERTEZA BUSCARÃO O SABER. QUE É A MAIOR GRATIFICAÇÃO ( OU A ÚNICA ) QUE A ESCOLARIDADE PODE DAR. BJS.

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