Brasileiro testemunha o assassinato da palestina Hadil Hashlamun

No dia do assassinato de palestina Hadil, 22 de setembro de 2015, Marcel Leme, Observador Internacional de Direitos Humanos, estava deixando a cidade de Hebron na Palestina para retornar ao Brasil. Estava a poucos metros da cena do crime. Suas fotos foram utilizadas pela mídia internacional e seu nome mantido no anonimato por motivo de segurança, pois ainda estava em territórios controlados por Israel. Ao chegar ao Brasil entrou em contato com o Blog Sanaúd-Voltaremos e nos apresentou o relato escrito e fotográfico do seu testemunho.

Enquanto agências internacionais procuravam passar a versão israelense de que a palestina Hadil é uma terrorista, Marcel ali estava, vendo e fotografando o assassinato de Hadil, uma palestina inocente que em nenhum momento apresentou algum tipo de reação à abordagem dos soldados israelenses num dos pontos de vistoria e checagem (Checkpoint)  imposto aos palestinos por Israel na cidade de Hebron e em mais de centenas de localidades da Palestina. 

O testemunho de mais um ato de terrorismo do Estado de Israel:

Brasil, 26 de Setembro de 2015.

Testemunho sobre o assassinato da mulher palestina em Hebron (Palestina) no dia 22 de setembro de 2015.

Testemunho e fotos: Marcel Leme

No dia 22 de setembro de 2015, às 7h43 da manhã, observei uma moça palestina atravessando o Checkpoint 56, na entrada da Shuhada Street, em Hebron. Ela cruzou o checkpoint, o detector de metais apitou e, conforme o usual, um dos soldados que estavam a postos no checkpoint pediu para a moça para de andar. Primeiramente, ele falou algo em hebraico para a moça, mas como ela era palestina e falava árabe, os soldados tentaram se comunicar em inglês com ela, gritando “Stop, stop!” e “Move back!”. A moça estava totalmente coberta com uma burca preta, roupa árabe tradicional, inclusive seu rosto também estava coberto, e o soldado estava totalmente assustado com a moça desde que ela cruzou o checkpoint. Imediatamente a moça parou de andar e virou de frente para o soldado. Neste momento, a distância entre ambos era de aproximadamente 2 metros. O soldado, então, apontou a arma para a moça e pareceu estar pedindo para ela abrir a bolsa para ser efetuada a checagem. (Foto 1: 7h44)

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Foto 1 – 7:44 am

Enquanto ela estava tentando abrir sua bolsa, o soldado pediu para ela andar lentamente em direção à barreira de metal que existe no caminho de saída do checkpoint. O soldado fez isso apontando a arma para a moça e gritando algo em hebraico para ela. Durante este processo, a distância entre eles foi sempre de aproximadamente 2 metros. O soldado continuou muito assustado com ela. (Foto 2: 7h44)

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Foto 2 – 7:44 am

Imediatamente o segundo soldado também apontou a arma para a moça. A distância entre ela e o segundo soldado também era de aproximadamente 2 metros. Conforme os soldados haviam pedido, a moça continuou andando lentamente em direção à barreira de metal, que fica no caminho de saída do checkpoint. Ela permaneceu o tempo todo quieta, em silêncio e não chegou perto dos soldados em nenhum momento. (Foto 3: 7h45)

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Foto 3 – 7:45

Quando ela chegou perto da barreira de metal, que tem cerca de 1,2 metro de altura, os soldados pediram novamente para ela abrir a bolsa. Primeiramente parecia que ela não tinha entendido o que os soldados queriam, principalmente porque eles estavam gritando em hebraico, então ela não se moveu e nem mesmo respondeu aos soldados. Ela estava totalmente estática, como se estivesse congelada. Então ambos os soldados atiraram em direção ao chão. Imediatamente após os tiros, os soldados novamente gritaram algo em hebraico para a moça, então ela tentou abrir a bolsa para mostrá-los o que havia dentro, conforme eles haviam pedido. Antes de ela abrir completamente sua bolsa, o soldado que estava do seu lado esquerdo começou a atirar em direção à moça. Neste momento, a distância entre ela e ambos os soldados era de aproximadamente 3 metros. O soldado atirou cerca de três balas em direção à moça, mas não pude ver se as balas atingiram-na ou não. Após os tiros, a moça continuou em pé ao lado da barreira de metal. Sem reação nenhuma aos tiros, ela permaneceu quieta, em silêncio e não se moveu. Os soldados continuaram gritando algo em hebraico para a moça. Neste mesmo minuto, um homem palestino estava chegando ao checkpoint com a intenção de cruzá-lo para ir em direção à área H1 (Bab Al-Zawiye). Imediatamente o homem se aproximou da moça, ficou em pé bem atrás dela e pareceu pedir aos soldados para pararem de atirar. Ele disse algo em hebraico para os soldados e fez alguns gestos com suas mãos sugerindo aos soldados para pararem de atirar. A moça então virou de frente para o homem e ficou de costas para os soldados, de modo que o homem pôde falar com ela, explicar a situação e o que os soldados queriam dela. (Foto 4: 7h45)

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Foto 4 – 7h:45 

Neste momento, mais dois soldados vieram à cena do incidente. O homem palestino novamente disse algo em hebraico para os soldados e, lentamente, tentou ajudar a moça a sair do checkpoint e ir direção ao caminho de saída, por trás da barreira de metal. Neste momento a distância entre a moça palestina e os soldados israelenses permaneceu sendo de aproximadamente 3 metros. Quando ela começou a andar lentamente em direção ao caminho de saída do checkpoint, os soldados começaram a atirar umas três vezes em direção à moça, mesmo com o homem palestino em pé logo atrás dela. (Foto 5: 7h45)Foto 5a

Foto 5 – 7h:45 

Assustado por causa dos tiros, o homem palestino se afastou da moça e permaneceu cerca de 2 metros distante dela. Logo após os tiros, a moça continuou em pé, não reagiu, não falou e não gritou. Sua única reação foi a seguinte: continuou andando lentamente em direção ao caminho de saída do checkpoint, do outro lado da barreira de metal, aquele que leva à área H1 (Bab Al-Zawiye). (Foto 6: 7h45)

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Foto 6 – 7h:45 

Enquanto ela estava andando lentamente do outro lado da barreira de metal, indo em direção à catraca para cruzar de volta para a área H1 (Bab Al-Zawiye), os soldados israelenses gritaram algo em hebraico para ela. A moça parou de andar imediatamente e olhou para eles. Parecia que ela não estava entendendo o que eles queriam, então ela permaneceu parada, estática e em silêncio, como se estivesse congelada. Neste momento havia quatro soldados em volta dela. A moça permaneceu em pé a aproximadamente 4 metros de distância de todos os soldados e, agora, havia uma barreira de metal entre ela e os soldados. (Foto 7: 7h46)

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  Foto7: 7h46
A moça continuou parada, como se estivesse congelada, do outro lado da barreira de metal e, atrás dela, havia uma parede. Ela não se moveu, não falou, não gritou e não reagiu. Ela não tentou atacar os soldados em nenhum momento, nem mesmo chegou perto deles.Depois de ter sido baleada várias vezes, a moça palestina permaneceu em pé por alguns segundos, então, de repente, ela caiu no chão. Neste momento, mais dois soldados correram para a cena. Agora, havia seis soldados ao seu redor.

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Foto 10: 7h46

Logo após a moça ter caído no chão, um soldado se aproximou e atirou nela enquanto ela estava deitada no chão. Neste momento, a distância entre a vítima e o soldado era cerca de 1,5 metro. (Foto 11: 7h47)

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Foto 11: 7h47

A moça palestina permaneceu deitada no chão depois de ter sido baleada várias vezes pelos soldados israelenses. Ela caiu no chão no caminho de saída do checkpoint, aquele que vai em direção à área H1 (Bab Al-Zawiye). Quando atiraram nela, os soldados estavam do outro lado da barreira de metal. Após cair no chão, a moça permaneceu inconsciente e não se mexeu. Não havia nenhuma faca no chão em volta da vítima. (Foto 12: 7h47)

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Foto 12: 7h47

Dois minutos depois de a moça ter sido baleada pelos soldados e ter caído no chão, muitos palestinos que vivem em torno da área tentaram chegar ao local, mas os soldados já haviam bloqueado a área, fecharam a Shuhada Street, o Checkpoint 56 e a rua que dá acesso ao bairro Tel Rumeida. Então, a multidão ficou atrás do bloqueio dos soldados, olhando a cena a partir de uma distância de cerca de 40 metros, na rua que vai em direção à Tel Rumeida.

Os seis soldados que estavam na cena começaram a andar em torno da vítima. Eles pareciam não saber o que fazer. Cinco minutos depois de a moça palestina ter sido baleada e ter caído no chão, os soldados começaram a falar uns com os outros e um deles fez um telefonema. (Fotos 14 e 15: 7h52)

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Foto 14: 7h52

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Foto 15: 7h52

Logo em seguida ao telefonema, muitos soldados e policiais israelenses chegaram à cena. Eles estavam em pé ao redor da vítima, tirando fotos e fazendo alguns telefonemas. Eu permaneci no local da cena e ninguém disse nada para mim. Ninguém teve permissão para se aproximar da área, exceto os colonos israelenses, que chegaram oito minutos depois que a moça palestina ter sido baleada pelos soldados e ter caído no chão. (Fotos 16 e 17: 7h55)

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Foto 16: 7h55

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  Foto 17: 7h55

Às 7h59, um homem da assistência médica israelense chegou ao local, mas ele não prestou os primeiros socorros, ele apenas olhou para a vítima e fez um telefonema. Neste momento, os colonos israelenses, soldados e policiais estavam conversando uns com os outros e tirando fotos da mulher palestina, que estava inconsciente e deitada no chão. (Foto 18: 8h01)

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Foto 18: 8h01

Às 8h01, os soldados israelenses arrastaram o corpo da moça palestina por baixo da barreira de metal e puxaram-na para o outro lado da barreira de metal, onde os soldados estiveram durante todo o incidente e de onde eles atiraram na moça. No mesmo minuto, a vítima recuperou a consciência e moveu lentamente a cabeça. Imediatamente os soldados apontaram as armas para ela, mas ela voltou à inconsciência novamente. (Foto 19: 8h01)

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Foto 19: 8h01

Em seguida, os colonos israelenses ficaram em volta da vítima, reuniram-se e novamente começaram a tirar fotos da moça. Os soldados tiraram o véu preto da vítima, para que pudessem ver seu rosto e depois tiraram fotos. (Fotos 20 e 21: 8h03 / Foto 22: 8h05)

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Foto 20: 8h03

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   Foto 21: 8h03

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   Foto 22: 8h05

Vinte minutos depois de a moça palestina ter sido baleada pelos soldados israelenses e ter caído no chão, os policiais afastaram os colonos israelenses e isolaram a área ao redor da vítima. Eu não pude ver qualquer atendimento médico até então. Em seguida, um policial veio até mim e me pediu para deixar a área. Tirei a última foto da cena e subi a rua que vai em direção a Tel Rumeida. Então me juntei à multidão que estava atrás do bloqueio dos soldados, cerca de 40 metros de distância da cena. (Foto 23: 8h07)

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Foto 23: 8h07

Nota:

Eu estava próximo ao Checkpoint 56 antes de a moça tê-lo atravessado, eu pude ver todo o incidente a uma distância de cerca de 7 a 8 metros, sempre caminhando ao redor da cena para tentar encontrar um lugar relativamente seguro e um ângulo melhor para testemunhar e tirar as fotos. Saí da área exatamente às 8h07, 24 minutos após a moça ter cruzado o checkpoint e 20 minutos depois de ela ter caído no chão por causa dos tiros.

O nome da vítima foi divulgado posteriormente pelos jornais como Hadil al-Hashlamun, uma estudante palestina de 18 anos de idade. O homem palestino que tentou ajudá-la é Fawaz Abu ‘Easheh.

Gostaria de enfatizar que a vítima em nenhum momento tentou atacar qualquer soldado israelense, em nenhum momento tentou levantar uma faca e em nenhum momento chegou perto de qualquer soldado israelense, desde quando ela cruzou o Checkpoint 56 até quando ela foi baleada várias vezes pelos soldados israelenses e permaneceu inconsciente caída no chão. Antes, durante e depois do incidente, não pude ver nenhuma faca com a moça palestina ou em volta dela no chão.

Fonte: http://sanaud-voltaremos.blogspot.com/

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