Por Tiago Pereira, da RBA.
São Paulo – O Brasil registrou nesta quinta-feira (3) 1.041 mortes pela covid-19. É a primeira vez desde 18 de agosto que o país ultrapassa a marca de mil óbitos oficiais em um único dia. Assim, a média móvel diária de mortes decorrentes da covid-19 no Brasil subiu para 702 na semana, número equivalente ao de meados do ano passado. Nas últimas 24 horas, a transmissão também foi recorde, com quase 300 mil novos casos registrados. A média móvel de casos também é a maior desde o início da pandemia. Os dados são do boletim do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass). Ao todo, o Brasil tem 630.001 mortes pela covid-19 oficialmente registradas, e superou os 26 milhões de casos.
Ainda em janeiro, o Instituto de Métricas em Saúde (IHME) da Universidade de Washington previa o crescimento de óbitos no Brasil. Dessa forma, o órgão estimou que o pico da letalidade da doença ocorreria nesta sexta-feira (4), com cerca de 1.200 mortes. De acordo com o modelo matemático, a taxa de óbitos deve começar a cair nos próximos dias. Mas só retomar a patamares anteriores à onda ômicron entre o final de março e início de abril.
Piora nas UTIs
Nota técnica divulgada pelo Observatório Covid-19 (da Fiocruz) alerta para o crescimento nas taxas de ocupação de leitos de UTI para a covid-19. Oito estados e o Distrito Federal e mais 13 capitais estão em “alerta crítico”, com mais de 80% dos leitos ocupados. Além disso, 13 estados apresentam aumento nas taxas de ocupação, entre 24 e 31 de janeiro. De acordo com os pesquisadores, a situação exige “atenção e monitoramento contínuo”.
A situação é mais grave em Mato Grosso do Sul, com ocupação acima da capacidade das UTIs (103%). Na sequência, aparecem Distrito Federal (97%), Goiás (91%), Mato Grosso (86%), Pernambuco (88%), Espirito Santo (83%), Rio Grande do Norte (83%), Piauí (82%) e Amazonas (80%). Outros nove estão na zona de alerta intermediário, entre 60% e 19% dos leitos ocupados.
Campo Grande reflete a situação do estado, com 109%. Brasília (97%) e Rio de Janeiro (95%) vêm logo atrás. Também estão na zona de alerta crítico Cuiabá (92%), Goiânia (91%), Natal (percentual estimado de 89%), Belo Horizonte (86%), Teresina (83%), Macapá (82%), Maceió (81%), Manaus (80%), Fortaleza (80%) e Vitória (80%). Outras nove estão em alerta intermediário.
Diante desse quadro, os pesquisadores alertam que aqueles que não receberam a dose de reforço ou não se vacinaram têm muito mais riscos de desenvolver formas graves da doença. Destacam também que a “elevadíssima transmissibilidade” da variante ômicron pode levar a “números expressivos” de internações em leitos de UTI.
Por isso, consideram “fundamental” avançar na imunização e na implementação do passaporte da vacina. Também sugerem a obrigatoriedade do uso de máscaras em locais públicos, campanhas para orientar à população e o autoisolamento para os infectados.
“Cessar-fogo” na Europa
Apesar dos recentes recordes de casos, mas graças ao avanço na vacinação, a Organização Mundial de Saúde (OMS) disse hoje que a Europa poderá entrar em breve em um “longo período de tranquilidade”. “Este período de maior proteção deve ser visto como um cessar-fogo que pode nos trazer uma paz duradoura”, disse o diretor da OMS na Europa, Hans Kluge.
Somente na última semana, o continente europeu registrou 12 milhões de casos de covid-19, quase um terço do total de infecções desde o início da pandemia. Ele destacou que, atualmente, as hospitalizações continuam aumentando, principalmente em países com menor adesão à vacinação. Mas a taxa de óbitos entre os imunizados é reduzida.
“Por enquanto, o número de mortes em toda a Europa começa a estabilizar”, disse Kluge. “Mas não quer dizer que agora acabou tudo”, ressaltou. Por outro lado, graças à imunidade conferida pelas vacinas, o continente teria condições de conter novos surtos da doença, “mesmo em caso de uma variante mais virulenta”.
Assim, globalmente, a prioridade deve ser levar todos os países a um nível de proteção que também “lhes permite olhar para dias mais estáveis”. Isso exige um “aumento drástico e intransigente” no compartilhamento das vacinas. “Não podemos continuar a aceitar a desigualdade de vacinas. Elas devem ser para todos”, frisou.
—