Brasil vive pior momento da covid-19 ao superar 250 mil mortos, com mais de 1.500 em 24 horas

Com milhares de mortos e milhões de adoecidos, governo Bolsonaro é lento na aquisição de vacinas, continua a rejeitar ações de controle do vírus e incentivar aglomerações

Gravediggers carry the coffin of a COVID-19 victim at the Nossa Senhora Aparecida cemetery in Manaus, Amazonas state, Brazil, on January 22, 2021, amid the novel coronavirus pandemic. (Photo by MARCIO JAMES / AFP)

O Brasil registra hoje (25) o dia com mais mortos pela covid-19 desde o início do surto, em março de 2020. Um ano após o primeiro infectado, o país vive seu pior momento. Também hoje foi superada a marca de 250 mil mortos, de acordo com o Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass). Foram 1.541 óbitos no dia, totalizando 251.498 desde o início da pandemia do novo coronavírus.

Números da covid-19 no Brasil. Fonte: Conass

O balanço do Conass indica o dia 7 de janeiro como o mais letal, com 1.841 mortos. Entretanto, na ocasião, foram somados registros de dias anteriores em razão da falta de repasse de dados por alguns estados. Diante disso, a partir da métrica sem considerar erros estatísticos, hoje foi o dia com maior número de vítimas. Também é o dia que registra maior média de mortos por dia, calculada em sete dias.

Mortes em alta

A média de mortes está em curva com forte tendência de crescimento. Desde segunda-feira (22), a média de vítimas subiu mais de 10%. Hoje, o cálculo está em 1.149 mortes por dia, número superior ao pior momento do primeiro impacto da covid-19 no país, entre junho e setembro. Também há 30 dias essa média está acima de mil mortes por dia.

Em relação ao número de novos casos diários, igualmente há tendência de crescimento. Isso reafirma o descontrole na pandemia no Brasil desde o início do ano, apontada pelo Imperial College de Londres. No último período, o país registrou 65.998 novos casos. Desde março, são 10.390.461 infectados, sem considerar a subnotificação. O Brasil é o segundo país com mais mortes no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, e o terceiro em número de infectados, atrás dos norte-americanos e da Índia.

Curvas epidemiológicas de novos casos e mortes diárias revelam o descontrola da covid-19 no Brasil. Fonte: Conass Colapso na saúde

O pior momento do surto de covid-19 no Brasil está evidenciado no colapso do sistema de saúde de várias cidades. Em São Paulo, as cidades de Araraquara e região vivem o esgotamento de leitos. O estado também registra recordes diários de internados em UTIs. Na Bahia, o governo anunciou medidas rígidas de isolamento com a proximidade da falta de leitos. O cenário se repete por todo o país. Manaus, assim como na primeira onda, antecedeu a tragédia em nível nacional, entrando em colapso já em janeiro.

Em Santa Catarina, a taxa de ocupação das UTIs ultrapassa os 90% em grande parte do estado que, na média, tem 84% de esgotamento. No Paraná e Rio Grande do Sul, situações semelhantes, com as capitais dos respectivos estados com menos de 10% de oferta de leitos. A situação é trágica em todo o Brasil. O Nordeste ainda segue com surto mais controlado, mas as curvas epidemiológicas ascendentes começam a ameaçar a estabilidade local.

Brasil na contramão

O Brasil está na contramão do mundo em relação à disseminação da covid-19. A Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou ontem que a média global de infectados e mortos pelo coronavírus caiu pela sexta semana consecutiva. O país sul-americano é uma das poucas exceções dentro dessa tendência. Na última semana, os casos de covid-19 caíram 11% e as mortes, 20%, mas dos 66 mil óbitos registrados em todo o mundo, 7.445 foram no Brasil.

A redução do número médio de mortes no mundo tem relação, especialmente, com medidas de isolamento social adotadas em larga escala na Europa. Elas reduziram drasticamente o contágio (mais de 80% em três meses no Reino Unido, por exemplo). Além disso, o avanço nas campanhas de vacinação. Mas o Brasil retoma de forma tímida o processo de imunização e a campanha nacional segue frágil. A boa notícia é a segurança das vacinas que são atestadas no cotidiano, como informa o cardiologista e pesquisador da Universidade de São Paulo (USP) Marcio Bittencourt.

Vacinas salvam

Outro país que vê a curva de mortalidade reduzir e o surto de covid-19 ser controlado é Israel. Lá, já foram vacinados com uma dose, mais de 90% da população. E com duas doses, de forma definitiva, mais da metade dos cidadãos. O Reino Unido também tem alcance amplo no processo de vacinação a partir do sistema público de saúde local, o NHS (National Health Service). E se aproxima de 30% da população imunizada.

Em alta velocidade também estão os Estados Unidos. Desde o início do ano – após a saída de Donald Trump da presidência – os norte-americanos reduziram o contágio em mais de 70%. E seguem em ritmo acelerado. Mais de 66 milhões de pessoas receberam alguma dose da vacina, maior número absoluto do mundo. E 20% da população já recebeu pelo menos uma dose de vacina. Os imunizados somam 14%.

Enquanto isso, o Brasil tem 3,55% da população atingida pela primeira dose e 2,8% imunizada. De todas as vacinas disponíveis, 7,6 milhões já foram aplicadas. Além da morosidade no processo de imunização, o país patina diante de um governo federal, sob presidência de Jair Bolsonaro, negacionista. Mesmo diante dos milhares de mortos e milhões de adoecidos, Bolsonaro continua a rejeitar ações de controle do vírus e incentivar aglomerações, como fez desde o início do surto.

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