Brasil teria exportado à ditadura Pinochet toxina que pode virar arma biológica
Por Vasconcelo Quadros.
Comissão da Verdade vai investigar a procedência dos lotes produzidos entre 1980 e 1981; Instituto Butantan informa que a exportação da toxina botulínica se destina exclusivamente a finalidades terapêuticas
A Comissão Nacional da Verdade vai investigar a procedência de lotes da toxina botulínica produzidos, supostamente, no Instituto Butantan em São Paulo entre 1980 e 1981, e encontrados em 2008 numa ala do Instituto de Saúde Pública (ISP), que funcionava num porão anexo ao Estádio Nacional, em Santiago, no Chile.
“Vamos apurar o fundamento da notícia e colaborar com o governo chileno”, disse a advogada Rosa Cardoso, ex-coordenadora da CNV e responsável pelo grupo de trabalho encarregado de esclarecer como funcionou a articulação entre as ditaduras do Brasil, Uruguai, Argentina e Chile na chamada Operação Condor – a cooperação entre os órgãos de informação dos regimes para reprimir militantes da luta armada no exílio.
A informação de que o regime do ex-ditador Augusto Pinochet tinha em seu poder um agente biológico de alto poder de destruição foi revelada há três semanas pela ex-diretora do ISP, Ingrid Heitmann em entrevista a agência de notícias alemã DPA.
Heitmann afirmou que os frascos tinham rótulos indicando como procedência o Instituto Butantan e que a quantidade de toxina encontrada “era suficiente para matar meia Santiago”. Ela contou que ao encontrar as caixas com os frascos optou por destruí-los sem, no entanto, formalizar uma apuração e nem informar a presidente do país à época, Michele Bachelet.
Procurado pelo iG , o Instituto Butantan informou, através de sua assessoria de imprensa, que a exportação da toxina botulínica se destina exclusivamente a finalidades terapêuticas (tratamento de doenças oftalmológicas e neurológicas, por exemplo) e jamais para servir como arma biológica.
O instituto não soube informar se os lotes encontrados em Santiago foram mesmo comercializados entre 1980 e 1981, quando as ditaduras do Brasil e do Chile ainda estavam firmes. Um dos maiores centros de pesquisas biomédicas do mundo, o Instituto Butantan é vinculado à Secretaria Estadual de Saúde do governo paulista.
A toxina botulínica é considerada a mais potente já descoberta. Provoca paralisia progressiva dos músculos e da respiração. Na guerra biológica é despejada em reservatórios de água ou estoques de alimentos. Sem alternativas de tratamento, mata em até 48 horas.
O governo chileno decidiu investigar se a ditadura Pinochet usou armas químicas para eliminar opositores. Segundo Ingrid Heitmann eram duas caixas cheias de ampolas com toxina, guardadas no porão do ISP por 27 anos. Ela diz que incinerou o material.