Brasil terá seu domingo ucraniano

Por Raul Fitipaldi, com a colaboração de Tali Feld Gleiser, para Desacato.info

Em 2004, na Ucrânia, denúncias de fraude, umas reais e outras plantadas pela mídia ocidental, derrubaram Viktor Yanukovic do poder, colocando depois de dois pleitos eleitorais, um governo simpático aos interesses de Washington. Esse fato que divide até hoje o povo ucraniano, e que veio provocar uma guerra econômica, política e com ingredientes bélicos com a Rússia foi batizado pela mídia, de Revolução Laranja. As revoluções coloridas tiveram diversas versões no leste europeu. Menos lúdico, porém, mais poético foi o nome destinado ao desastre humanitário que ocidente, comandado pelos pilantras de Washington, produziu no Iraque, na Líbia e coproduziu em outros países árabes, o chamaram de Primavera Árabe.

No pátio traseiro do império não houve batizados como aqueles que soaram tão simpáticos à classe média e à pequena burguesia brasileira (da direita e de alguns setores oportunistas da esquerda). A classe média da América Latina tem sido a mão de obra mais eficaz para sair às ruas e derrubar governos democraticamente eleitos, como os de José Manuel Zelaya Rosales e Fernando Lugo, em Honduras e Paraguai respectivamente. Foram golpes com um tipo novo de roteiro, depois da intentona fracassada contra o presidente da República Bolivariana da Venezuela, Comandante Hugo Chávez Frías. Esse roteiro implica desgaste midiático, processos inflacionários fortíssimos, falta de produtos básicos para consumo familiar, participação da justiça e setores das forças armadas e, também, o aproveitamento dos erros e fragilidades de cada governo.

No caso do Brasil as fragilidades começaram com as próprias alianças sem limite que teceu Lula para chegar ao Planalto, e a apatia do PT em corrigir de bate pronto desvios de toda natureza, inclusive éticos, morais e econômicos. No entanto nada de pior, por mais ruim que seja, tem feito este governo que os anteriores de Fernando Henrique Cardoso, cujos desvios e entrega ao empresariado local e internacional, e sua predisposição a lamber as botas de ianques e europeus resultará incomparável na história do país, pois nem os militares da ditadura foram tão servis. A diferença, como está explicitado, é que a corrupção dos governos anteriores é a corrupção deles, dos donos, do poder real. Essa se esconde em baixo do tapete, onde se encontram outros setores corruptores e corrompidos do Brasil, associados e quase naturalizados endemicamente na cultura nacional: setores da justiça, a mídia monopólica em geral, com a Rede Globo e a Revista Veja à vanguarda, setores retrógrados da Igreja católica, evangélicos, ruralistas, grileiros,  e um bom cortiço de sonegadores, donos de polpudas contas em paraísos fiscais, operadores financeiros e especuladores, laranjas de toda espécie e subservientes das transnacionais, procurando negociar as ainda vastas riquezas da nação. Esses são alguns dos protagonistas.

Os extras, os revolucionários  laranjas deste domingo ucraniano de 13 de março de 2016, o exército que antecipa o outono brasileiro, estão formado pela classe média, a pequena burguesia. Também desfilarão os incautos que verdadeiramente têm razões para reclamar pelo maltrato do governo de Dilma Rousseff à Classe Trabalhadora e serão ousados pela direita neocon. E estarão os homófobos, os racistas, os machistas, os bandeirantes contemporâneos, os alienados que governo trás governo fabricam as redes de descomunicação. As redes que usam e abusam da covardia desses governos que lhes garantem concessões criminosas e apátridas. Todos inoculados com o ódio de classe, a intolerância histérica e com a garantia da permissividade e apatia do governo nacional. Governo que em momento algum foi ruim para os interesses da elite, que estreitou sua mão, e do qual sorveram até o esqueleto.

A cartada de Washington para a América Latina precisa se apropriar do naipe mais valioso, o Brasil. Os inimigos da democracia e da Nossa América estão dispostos a liquidar o país, como sempre; haverá quem queira levar petróleo e pague com bananas. O golpe midiático-jurídico-empresarial e imperial seguirá seu roteiro neste domingo ucraniano. O Outono da Democracia está chegando ao Brasil.

Imagem tomada de: ultimosegundo.ig.com.br

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