Celso Amorim, assessor especial da Presidência da República para Relações Exteriores, intercedeu ao presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, para suspender novamente a aquisição de produtos militares da empresa israelense Elbit Systems, consagrada com uma licitação do Exército em abril, no valor estimado de até R$ 1 bilhão.
Apesar de propostas favoráveis, as Forças Armadas brasileiras rejeitaram China, França e República Tcheca ao preferir Israel.
A suspensão, pela segunda vez, é considerada uma vitória da Campanha pelo Embargo Militar ao Estado de Israel, parte da campanha por Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS), nos moldes da luta antiapartheid na África do Sul.
Ainda assim, o Ministério da Defesa, chefiado por José Mucio Monteiro Filho, pondera sobre a possibilidade de os itens serem produzidos em uma fábrica da AEL Sistemas — subsidiária da Elbit Systems em Porto Alegre, Rio Grande do Sul (RS).
O contrato prevê 36 viaturas blindadas de obuseiros, munidos de canhões 155mm.
Conforme Amorim, a suspensão se deve à necessidade de respeitar as orientações do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), sediado em Haia, para “não cooperar com Israel no campo militar”, no contexto do genocídio em Gaza.
Em maio, Mucio capitulou ao adiamento da assinatura da compra por 60 dias; contudo, insistiu na medida.
À rede CNN, Amorim admitiu “genocídio por parte de Israel em relação aos palestinos [de modo que] a compra se torna complicada”.
“A decisão da corte recomenda não colaborar com Israel no aspecto militar”, explicou o diplomata. “O atual governo [do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu] tem tido um comportamento altamente condenável do ponto de vista militar … Portanto, é delicado ficar dependendo militarmente de Israel”.
“Além disso, é preciso esperar passar essa instabilidade no conflito com Gaza”, reiterou. “Esse aspecto político-diplomático é muito importante. Um componente a ser avaliado. Não é somente preço ou tecnologia”.
Segundo a imprensa, Mucio e as Forças Armadas, contudo, buscam contornar Amorim e o Itamaraty, ao negociar fabricação local, em vez da importação, das armas israelenses. O assunto deve ser levado a Lula na próxima semana.
A suspensão, em maio, ocorreu sob protestos da sociedade civil. Na ocasião, a Anistia Internacional e o coletivo antissionista Vozes Judaicas por Libertação (VJL) submeteram uma carta a Lula reivindicando um embargo militar.
O acordo arrisca colocar o Brasil como cúmplice do genocídio em Gaza. Segundo o VJL, em comunicado divulgado nas redes sociais, “a decisão seria uma profunda violação do direito internacional”.
“Defendemos o fechamento imediato da fábrica da Elbit Systems no Rio Grande do Sul. A maior companhia de segurança israelense não pode continuar lucrando às custas do sangue de palestinos e brasileiros”, advertiu o coletivo de judeus antissionistas — nicho crescente no movimento de protestos antiguerra e pró-Palestina.