Por Gabriel Valery, da RBA.
São Paulo – Levantamento divulgado nesta segunda-feira (15) pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) mostra que o Brasil registrou mais 627 mortes causadas pela covid-19, doença provocada pelo novo coronavírus, em 24 horas. Com isso, o país acumula oficialmente 43.959 óbitos desde o início da pandemia, em março. Com 20.647 novos casos registrados, ao todo já são 888.271 infectados.
São Paulo segue como epicentro do novo coronavírus: 181.460 casos confirmados e 10.767 mortos. Pouco mais de uma semana após o governador João Doria (PSDB) adotar o relaxamento das medidas de isolamento social, aumentou a ocupação de leitos hospitalares dedicados ao combate à covid-19. Como a doença tende a se manifestar de sete a 15 dias após o contágio, ainda é cedo para aferir os possíveis resultados dessas medidas.
Já no Rio de Janeiro, segundo estado mais afetado, são 7.728 mortos e 80.946 infectados, sendo mais de 5 mil na capital. No fim de semana, os cariocas lotaram praias e bares, muitos sem máscaras. De acordo com levantamento da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), na sexta-feira (12) o estado registrou o menor isolamento desde o início da pandemia, com apenas 38%.
Outro fator que deixa o cenário brasileiro mais nebuloso é a subnotificação. Não existe disponibilidade adequada ou medição estratégica da evolução epidemiológica. “Praticamente qualquer país fez mais testes para cada caso diagnosticado que o Brasil. Nossos números certamente são piores”, avalia o biólogo e epidemiologista Atila Iamarino.
Minas Gerais, por exemplo, é um estado que apresenta números muito inferiores de casos e óbito em relação aos de estados vizinhos do Sudeste, como São Paulo e Rio de Janeiro. Entretanto, houve aumento de 699% no número de hospitalizados por Síndrome Respiratória Aguda Grave (Srag) desde o ano passado. A doença é geralmente causada por outros vírus, mas pode ser também pelo novo coronavírus. O estado tem 45 mortes indeterminadas de Srag para apenas 10 confirmadas de covid-19.
Fragilidade
Desde a semana passada, o número oficial de óbitos fica abaixo dos mil por dia no Brasil, o que para alguns especialistas pode ser indicativo de estabilidade desta chamada “primeira onda” da infecção. Especialistas apontam que os dados dos próximos dias serão importantes para uma medição mais acertada da situação da pandemia em território brasileiro.
Atila Iamarino pondera que, caso o poder público tivesse tomado medidas mais eficazes para conter o vírus, além de menos mortes, estaríamos em um momento mais tranquilo do ciclo. “Se estivéssemos no melhor cenário discutido ali, nossos casos estariam no fim do declínio, no fim de uma primeira onda. Estamos em um platô com tendência de subida. Não é o melhor cenário.”
Cloroquina
Enquanto o novo coronavírus segue se espalhando, o governo Bolsonaro segue inativo. Além de não ter tomado atitudes para conter a propagação do vírus e vir mostrando desrespeito pelas mortes consequentes da covid-19, o presidente teimou em sua defesa da cloroquina (e seu composto, a hidroxicloroquina), como medicamento salvador contra a infecção.
A realidade mostrou o oposto. O remédio não possui eficiência comprovada pela ciência e já foi retirada dos protocolos médicos contra a doença até mesmo nos Estados Unidos. A agência que regulamenta remédios naquele país disse não ser razoável acreditar na eficácia do medicamento.
Bolsonaro espera receber lotes de cloroquina dos Estados Unidos, mesmo o próprio país não reconhecendo sua eficácia. Donald Trump, presidente norte-americano, disse hoje: “Se pedirem, vamos mandar”, declarou, questionado sobre a continuidade das negociações do produto com o governo brasileiro.
Edição Fábio M Michel