Brasília (Prensa Latina) A beleza submarina próxima às grandes cidades da região nordeste do Brasil está em sério perigo de não ser admirada por futuras gerações, pois um recente estudo revelou que nos últimos 50 anos essa zona perdeu 80 por cento dos arrecifes coralinos.
Intitulado Monitoramento de arrecifes coralinos no Brasil e realizada pela Universidade Federal de Pernambuco e o Ministério de Meio Ambiente entre 2002 e 2010, a investigação foi apresentada nesta semana no VII Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação, que se efetuou em Natal, capital do estado do Rio Grande do Norte, organizado pela Fundação Grupo Boticário.
Esse monitoramento constatou a presença de arrecifes coralinos da costa nordeste do Rio Grande do Norte até o sul da Bahia, em uma extensão de dois mil quilômetros no litoral do Atlântico brasileiro, e composto por 18 diferentes espécies, muitas delas nativas, em convivência com algas e peixes que contribuem com seu desenvolvimento.
Sua grandeza e importância é tal que podem ser encontrados até 100 metros de profundidade na costa de grandes cidades capitais estaduais, como Recife (Pernambuco), Maceió (Alagoas) e Salvador (Bahia).
A coordenadora do estudo, Beatrice Padovani, do departamento de oceanografia da referida universidade, apontou que os danos são causados por impactos de origem terrestre como a poluição doméstica, industrial e da agricultura, o aumento da sedimentação, a pesca e o corte ilegal de corais.
Citada pelo site G1, o portal de notícias da Globo, Padovani recordou que até 1980 teve uma grande extração de corais para a fabricação de cal, que só diminuiu com a promulgação de leis específicas, mas que não acabou com essa atividade depredadora do meio ambiente marinho.
A pesquisadora mencionou a pesca excessiva como outros dos fatores que ameaçam esse ecossistema brasileiro, inclusive com a criação de unidades de conservação de proteção integral ao longo do litoral, pois peixes grandes continuam sendo afetados.
O aquecimento dos oceanos, devido à elevação da temperatura global -mudança climática- provoca eventos cíclicos de embranquecimento e mortalidade de corais, cuja magnitude negativa é proporcional ao nível de calor do mar, responsável por sua vez por mais frequentes eventos climáticos como o El Niño, referiu.
O aumento da acidez dos oceanos devido às emissões de carbono à atmosfera é outro acontecimento que tem contribuído ao desaparecimento dessa elevada percentagem da barreira coralina brasileira, destacou.
Para evitar o desaparecimento total desses arrecifes, Padovani precisou que o estudo propõe aumentar a recuperação das matas ciliares e supervisionar o manejo das baías hidrográficas, bem como controlar a poluição, o turismo e a pesca e proteger as zonas de desova e desenvolvimento dos peixes.
Também, destacou, é importante conservar as áreas de mangues, pois eles têm um forte vínculo com os corais, além de servir como ambiente alternativo para diversos animais e organismos marinhos ao longo de seu ciclo de vida.
Esta investigação soma-se a outra revelada em abril passado sobre os efeitos negativos de uma espécie de coral asiático -o coral sol- sobre o brasileiro, pois afoga aos nativos e destrói o meio ambiente.
Chegado há 30 anos ao litoral atlântico brasileiro nos capacetes de cargueiros que chegam a Rio de Janeiro, o coral-sol, muito abundante nas águas dos oceanos Indico e Pacífico, se expandiu e está presente hoje na costa dos estados de Santa Catarina, São Paulo, Espírito Santo e Salvador.
Para os pesquisadores, o mais perigoso está em sua possível migração ao extremo sul do estado da Bahia, onde poderia afetar e alterar seriamente uma das regiões mais ricas em arrecifes coralinos e biodiversidade marinha em geral.
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