Brasil participou do golpe de Estado na Bolívia, diz Evo a jornal argentino

Ex-presidente da Bolívia afirmou embaixador brasileiro se reuniu com opositores para definir presidência de Jeanine Áñez

Foto: Twitter

O ex-presidente da Bolívia, Evo Morales, afirmou que o governo brasileiro participou do golpe de Estado que forçou sua renúncia à presidência em 10 de novembro de 2019.

Em entrevista ao jornal argentino Página/12 publicada nesta segunda-feira (8), Morales afirmou que possui uma “informação oficial, confirmada e reconfirmada”, de que o embaixador brasileiro em La Paz, Otavio Côrtes, se reuniu horas depois de sua renúncia com os líderes opositores Carlos Mesa e Fernando Camacho, e com o embaixador da União Europeia, León de la Torre Krais, quando foi definido que a então senadora Jeanine Áñez ocuparia a presidência.

“Minha informação oficial, confirmada e reconfirmada, é de que às 18h30 se reuniram Waldo Albarracín, ativista da direita, com Carlos Mesa, Fernando Camacho, Tuto Quiroga, a Igreja Católica, o embaixador do Brasil e também o da União Europeia. Isso foi no domingo e ali disseram que Áñez ia ser presidente”, disse Evo.

Opera Mundi entrou em contato com o Itamaraty na tarde desta terça-feira (9) para pedir a posição do órgão em relações às afirmações do ex-presidente boliviano. O pedido de posicionamento foi reiterado por telefone por duas vezes, mas, até a publicação deste texto, o MRE não havia se pronunciado.

O ex-mandatário boliviano ainda afirmou que os encontros das forças golpistas com o representante diplomático brasileiro seguiram após o dia 10 de novembro.

“A mesma coisa no dia seguinte, houve participação da embaixada do Brasil em uma reunião com Mesa, com Quiroga, com Camacho, não sei mais quem, mas esses personagens junto com alguns hierarcas da Igreja Católica foram atores do golpe de Estado”, afirmou.

Para Morales, “Jair Bolsonaro e companhia trabalham para os Estados Unidos”. “Essa é a direita americana que se expressa através do Grupo de Lima e da Aliança do Pacífico, que obedece os mandamentos dos EUA”, disse.

No dia 10 de novembro, Morales renunciou ao cargo de presidente após perder o apoio da cúpula militar. O país enfrentava uma série de protestos por conta de acusações de fraude eleitoral no pleito realizado semanas antes – no qual o mandatário havia sido reeleito em primeiro turno.

Apoiado pela maioria dos países da América Latina governado por partidos de direita, o golpe contou com um relatório da OEA que supostamente indicava que as eleições haviam sido fraudadas, fato que estudos publicados desde então descartam completamente.

Voos ao Brasil

O periódico argentino ainda publicou uma matéria no domingo (07) com dados que indicam que o avião presidencial da Bolívia, o FAB-001, esteve no Brasil um dia depois do golpe, quando começou uma série de viagens por cidades brasileiras como Brasília, São Paulo, Manaus e Rio de Janeiro.

Segundo Morales, “alguns oficiais das Forças Armadas bolivianas me disseram que nesses voos levaram dinheiro”. Questionado se o objetivo era tirar dinheiro da Bolívia, Evo respondeu que “é assim, assim se entende”.

“Pois eu imagino, e talvez imagine mal, que seguramente alguém ia trazer dinheiro, muito dinheiro para as Forças Armadas ou para a polícia. Precisavam de dinheiro disponível e meter bala, como fizeram nos dias seguintes”, disse o ex-presidente.

Sobre as suposições feitas pelo Página/12 sobre armas que poderiam ter sido levadas do Brasil à Bolívia nesses voos ocorridos nos dias subsequentes ao golpe, Evo disse que conhece “muito bem o avião presidencial” e não acredita que esse tipo de material pudesse ser transportado ali.

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