Brasil: o laboratório da tragédia. Por Douglas F. Kovaleski.

Foto: Reprodução coletiva de imprensa

Por Douglas F. Kovaleski para Desacato. info.

O Brasil deste fim de maio sedia um verdadeiro laboratório de tragédias: a primeira é a covid-19, que apesar de estar em franco ascenso de seu número de casos e de mortes, não encontra a seriedade dos governantes, nem de boa parte da população para preveni-la e combatê-la; e a segunda é a latrina que representa o congresso nacional, pois depois de todos os insultos, ameaças e crimes praticados pelo Bozo, o congresso sequer consegue colocar em votação algum dos muitos pedidos de impedimento protocolados no congresso nacional. 

Essa calmaria do parlamento com relação ao executivo diante de tantos descalabros expõe a face mais bizarra da política brasileira. Afinal de contas, basta distribuir alguns cargos aos partidos certos, o chamado centrão (PP, PR, PSDB, DEM, PFL, PL, PDS, PDC e PTB) e um presidente eleito não cairá de forma alguma. Acontece que essa irresponsabilidade histórica com que é conduzida a política no Brasil agora custará muito caro ao país. Tanto do ponto de vista econômico,  como das vidas que estão sendo perdidas em quantidades relevantes.

Quando falo da irresponsabilidade e também da inconsequência da gestão federal diante da pandemia, antevejo uma possível variação da curva de contágios e mortes no Brasil se comparado ao restante do mundo. Enquanto nos outros países o ascenso no número de casos e de mortes foi imediatamente acompanhado de medidas de isolamento social, no Brasil, contraditoriamente, todas as atividades estão voltando ao normal. Importante enfatizar que quanto mais rígidas foram essas medidas de suspensão das atividades coletivas e redução radical da circulação de carros e de pessoas nos países, mais rapidamente regrediram as curvas de mortes e de contágios. Irá regredir a curva no Brasil? É possível, mas não por conta das medidas tomadas pelos governantes brasileiros e população.

Não quero aqui aproveitar da situação para criticar o Bozo e os partidos do centrão, mas deixar clara as sérias consequências que possivelmente teremos no país. Não quero culpar apenas os governantes, pois uma parcela significativa da população não faz o isolamento social, não usa máscara em locais públicos e não toma todas as medidas preconizadas por posicionamento político. Há em alguns setores da sociedade, uma parcela significativa da população, que defende abertamente seu posicionamento de descrença quanto ao risco da covid-19 em nome da produção, da economia e de evitar o caos econômico. Há que se considerar também o grande número de pessoas que ignora a covid por pura falta de opção, devido à impossibilidade de ficar em casa, pois depende do trabalho de cada dia para prover o sustento da casa.

Esse é o quadro, uma tragédia anunciada, pois estudo feito pela universidade John Hopkins, mostra que mesmo nos países em que a curva jé regrediu, o percentual de contaminados é próximo de 5% da população, ou seja, permanece um número muito elevado de pessoas suscetíveis à covid-19 capaz de fazer várias e várias ondas de contágios e mortes até que se encontre uma vacina eficaz.

O Brasil não pode empurrar a poeira para baixo do tapete, o problema da política brasileira precisa ser resolvido com a maior brevidade, é uma questão de sobrevivência. Não é botando panos quentes que iremos sair dessa, é hora de revolucionar as formas de fazer política e instituir custe o que custar um governo socialista no Brasil, vencer a covid e proporcionar uma vida digna a esse povo sofrido.

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Douglas Francisco Kovaleski é professor da Universidade Federal de Santa Catarina na área de Saúde Coletiva e militante dos movimentos sociais.

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